terça-feira, 14 de dezembro de 2010

EUA 1940: entre a Neutralidade e a Guerra







EUA 1940 : entre a Neutralidade e Guerra

fonte: PERKINS, Dexter. A Época de Roosevelt. 1932 -1945. (The New Age od Franklin Roosevelt. 1932 -1945. University of Chicago, 1957) trad. Edilson Alkimim Cunha. Rio de Janeiro, O Cruzeiro, 1967.


Em 1940, os Estados Unidos estavam novamente em campanha eleitoral. E Roosevelt resolvera disputar um terceiro mandato – o quer seria uma novidade na democracia norte-americana. O candidato opositor era o republicano Wendell Willkie.

As plataformas eleitorais procuravam agregar as esperanças dos eleitores quando a recuperação econômica (enfrentada pelas medidas de controle instituídas pelo New Deal, em 1933, pelo próprio Roosevelt) e aos mesmo tempo assegurar que as forças armadas dos Estados Unidos não se envolveriam na guerra europeia entre Grã-Bretanha e França contra Alemanha e Itália, desde o fim de 1939.

Ainda não era uma 'guerra mundial' – seria a partir de 1941 com os avanços alemães no norte da África, nas estepes ucranianas e russas, e depois o avanço japonês na Indochina e Filipinas. Assim o governo norte-americano se mantinha na 'defensiva'. Aprovava venda de antigas belonaves aos ingleses, mas se negava a qualquer envolvimento direto que pudesse quebrar a neutralidade.

Assim cinquenta belonaves foram repassadas ao ingleses, em troca os EUA receberam bases militares navais ao longo do Atlântico – para assegurar a defesa das navegações (incluisve para garantir a entrega de produtos bélicos aos ingleses). Segundo o autor Dexter Perkins, “A negociação desse acordo de bases por destróieres foi um golpe magistral. Era aceitável para os isolacionistas porque as bases cedidas pela Grã-Bretanha reforçariam a defesa do hemisfério. Era igualmente aceitável para aqueles que queriam que os Estados Unidos interviessem mais ativamente ao lado das democracias.” (p. 115)

No mais, internamente, o presidente Roosevelt (em campanha para o terceiro mandato) precisava lidar com os pacificistas e os adeptos da neutralidade. Estes contrários a guerra se reuniam em vários grupos. Um destes grupos tinha como associado o famoso aviador Charles Lindebergh, talvez explique a fama do “América Primeiro” (America First). O que pensavam os partidários do “América Primeiro”. Segundo Perkins,

“Os partidários da “América Primeiro” raciocinavam da seguinte forma: o efeito da guerra iria minar o próprio processo democrático e a preservação das liberdades tradicionais seria ameaçada pelo envolvimento na luta. Falavam da possibilidade de uma paz negociada. Argumentavam que havia pouco perigo físico para os Estados Unidos decorrente das atividades de Hitler. Em dois desses três pontos estavam certamente enganados. O tempo demonstrou que o processo democrático nos Estados Unidos não foi de modo algum minado pela guerra. Uma apreciação mais demorada torna evidente que uma paz negociada era inteiramente impossível em 1940. sobre o terceiro ponto, tinham razão perspectiva de curto, mas não de longo alcance. Sabemos hoje que Hitler não tinha o menor desejo de entrar em guerra com os Estados Unidos e que fez, segundo ele, o que estava em seu alcance para evitar a beligerância. Mas a coisa seria inteiramente diferente se o ditador alemão, uma vez estabelecido seu domínio em toda a Europa com as armas da guerra moderna em suas mãos, teria sido um vizinho cômodo – e mesmo possível para os Estados Unidos.” (pp. 115-16)
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De todo modo, o movimento “América Primeiro” não conseguiu mobilizar a opinião pública que vivia um dilema de desejar uma vitória aliada, mas sem envolvimento norte-americano. A prioridade dos eleitores era garantir as reformas para manter o reaquecimento econômico – que, na verdade, sabemos depois, só foi pleno com a entrada dos EUA na guerra. A Segunda Guerra Mundial foi realmente o que 'reaqueceu' a economia dos EUA e possibilitou o soerguimento da grande potência (que teria como rival os estatistas da URSS, durante a 'guerra fria', cold war)

“Em parte, como consequência do movimento “América Primeiro”, a eleição de 1940 transcorreu numa atmosfera em que a apreensão de uma vitória alemã e de um envolvimento americano na crise estava curiosamente misturada. Embora tivesse se operado uma profunda mudança no ambiente desde o verão de 1939, havia ainda um forte desejo de alheamento à guerra. [...]

A eleição foi uma vitória para Roosevelt que se tornou assim o primeiro Presidente dos Estados Unidos a governar o país por três períodos seguidos. Diante de uma situação crítica, a maioria do povo americano evidentemente acreditou que uma continuidade de liderança era mais importante do que um apego doutrinário a um princípio tradicional. Embora a vitória de Roosevelt não tivesse constituído um triunfo tão colossal como em 1936, foi entretanto decisiva e estava entre os endossos mais enfáticos de candidatos presidenciais. E abriu o caminho para a ajuda às democracias, especificamente, para a aprovação do 'lend-lease' (nota) no inverno de 1941.

Durante a eleição presidencial era evidente que a Inglaterra estava passando por uma grande pressão e medidas drásticas se faziam necessárias a seu favor se a guerra devia ser ganha. A opinião pública estava rapidamente se cristalizando a favor de uma ação mais vigorosa. O Presidente, aliviado das pressões eleitorais, estava pronto para gerir os negócios de modo mais decisivo. Lá para o fim de dezembro pronunciou seu discurso “arsenal da democracia” que previa rápidas medidas de auxílio aos ingleses. Poucos dias depois, apresentou ao Congresso um projeto que mais tarde veio a ser conhecido como o 'lend-lease', um projeto que visava a fornecer à Inglaterra material bélico da ordem de 7 bilhões de dólares, e insinuava, mas quase não estabelecia, um pagamento no futuro. O Presidente apresentou seu projeto como algo que manteria a guerra longe de nossas costas e que promoveria a segurança dos Estados Unidos.” (pp. 117-18)

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nota: Pela lei do 'lend-lease', o Congresso autorizava o governo americano a fornecer material e prestar serviços a seus aliados na II Guerra Mundial, sob a condição de ser esta ajuda retribuída em espécie depois da guerra.
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Assim, o Presidente Roosevelt flexibilizava a neutralidade ao dar apoio aos ingleses – antes de em 1941 aprovar a lei lend-lease (empréstimo e arrendamento) e antes de se encontrar com o Primeiro-Ministro britânico Winston Churchill na costa da Terra Nova (em agosto), quando seria proclamada a “Carta do Atlântico”. Os navios norte-americanos passariam a se proteger – o que significa 'atirar primeiro' – quando ameaçados por submarinos alemães, durante as navegações até a Europa. Deste modo, já havia uma guerra não-declarada entre EUA e o III Reich antes de dezembro de 1941.


Depois veremos os eventos de 1941 em detalhes.


Fonte pesquisada: PERKINS, Dexter. A Época de Roosevelt. 1932 -1945. (The New Age od Franklin Roosevelt. 1932 -1945. University of Chicago, 1957) trad. Edilson Alkimim Cunha. Rio de Janeiro, O Cruzeiro, 1967.

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Por Leonardo de Magalhaens
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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Estratégia Britânica no Mediterrâneo - 1940/41







Estratégia Britânica
no Mediterrâneo

1940/41





fonte: Churchill – O Lord da Guerra / 1979 – Ronald Lewin

trad. Cel Álvaro Galvão



cap. 3 – O Ano do Gafanhoto – 1941


“Com exceção da vitória final, o objetivo estratégico mais acalentado por Churchill durante a Segunda Guerra Mundial era transformar o Mediterrâneo em “Mare Nostrum”. Duas decisões, tomadas por ele sobre sua inteira responsabilidade e com enorme risco, lançaram as bases para a consecução do seu propósito, alcançado em 1943 e 1944; durante 1941, porém, o alicerce parecia estar se dissolvendo. Sua primeira iniciativa, e fundamental, seguiu-se à queda da França. Churchill recorda: “No fim de junho a situação parecia tão horrível que o Almirantado chegou a pensar no abandono do Mediterrâneo Oriental, para concentrar-se em Gibraltar.”

Era esta a ideia do Primeiro Lorde do Mar, Almirante Pound. Entretanto, fortalecido pela reação mais positiva do Almirante Cunningham, o comandante-chefe naquela região, Churchill vetou a proposta com firmeza e decisão e conseguiu o apoio dos Chefes de Estado-Maior; estes, em 3 de julho, informaram a todos os comandantes-chefes que a esquadra ia permanecer no Mediterrâneo Oriental. Daí em diante, apesar de inúmeros desastres, em sentido absoluto, os ingleses jamais foram expulsos das rotas marítimas vitais que passavam por aquela região. Mas quando Churchill tomou sua decisão, no verão de 1940, sem dúvida praticou um ato de fé impressionante, porque os italianos ainda não haviam demonstrado a forma inepta e covarde como iriam utilizar a sua superioridade aérea e naval.

Nas circunstâncias do momento, a sua segunda decisão foi mais corajosa ainda. Enquanto se achava em curso a Batalha da Inglaterra, Churchill concordou em enviar para o Oriente Médio praticamente a metade do efetivo dos melhores blindados existentes no país. “O que é estranho”, anotou ele, “é que na época as pessoas envolvidas no problema permaneceram bastante calmas e joviais, mas escrever sobre o assunto agora chega a provocar arrepios.”

Na realidade, a proposta partiu do Ministério da Guerra. No dia 10 de agosto o General Dill, o CIGS [Chief of the Imperial General Staff] , informou a Churchill que se pretendia enviar imediatamente para o Egito um batalhão de carros de combate Cruiser, um regimento de carros de combate leves e um batalhão de carros de combate de Infantaria – ao todo 154 carros, juntamente com uma quantidade valiosa de canhões anticarro e de Artilharia de Campanha. Todavia, era Churchill, o Primeiro-Ministro, e somente Churchill, quem poderia validar a proposta; a aprovação imediata constituiu um daqueles golpes, no campo da alta estratégia, que raramente estão ao alcance de um comandante, e que ainda mais raramente são tentados. Deve-lhe ser atribuído o mesmo valor da ordem de Churchill, no dia 24 de julho de 1914, para que a esquadra saísse de suas bases no canal da Mancha e, navegando durante a noite, com as luzes apagadas, atravessasse o estreito de dover, avançasse pela rota perigosa do Mar do Norte e se abrigasse na segurança proprocionada por Scapa Flow.

Além disso, foi Churchill quem exigiu que os carros de combate fossem enviados diretamente para o Egito, através do Mediterrâneo, e não pela rota do cabo da Boa Esperança como queria o Almirantado. Ele aceitava o conselho dos profissionais, embora à luz dos fatos pareça que a sua ousadia fosse mais justificada do que a cautela deles. Assim, o comboio chegou ao destino com tempo suficiente para tornar possível a destruição do exército italiano na África do Norte, onde os Matildas do batalhão de carros de Infantaria desempenharam um papel crucial.”

/p. 73
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mais sobre o General John Dill (1881-1944)
http://en.wikipedia.org/wiki/John_Dill
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A blitz de inverno

London Coventry

“Enquanto isso [durante as operações no Mediterrâneo e norte da África], a blitz de inverno varria as cidades da Inglaterra; primeiro Londres, depois Coventry e os grandes centros industriais; enfim, após uma trua relativa em janeiro e fevereiro, a Luftwaffe iniciou “uma visita aos portos”. A partir do início de março, Portsmouth, Merseyside e Clyde foram pesadamente atacados. Todavia, depois de uma das piores incursões contra Londres (no dia 10 de maio, quando a Câmara dos Comuns foi atingida), os ataques aéreos diminuíram e não foram ostensivamente renovados até 1944.”

O motivo da 'pausa' no bombardeio: início da Operação Barbarossa: nazistas atacam a URSS (junho 1941)

A pacata cidade de Coventry se tornou o símbolo do fracasso da ofensiva aérea alemã. Desperdício de recursos, alvos sem importância militar ou industrial. Apenas para assustar a população civil – perda de vidas e propriedades – e não uma estratégia de destruição dos portos, aeroportos, ou rede de radares.


Enquanto a avião alemã se dedicava a 'atirar pedras' sobre o telhado britânico, nem poderia a 'chuva de granizo' que destelharia a Alemanha em 1943-45! “Quem tem telhado de vidro, não deve atirar pedras no telhado do vizinho”, diz o sábio provérbio.


sobre o bombardeio de Coventry
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Leonardo de Magalhaens
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Molotov em Berlim 1940







O Representante russo Molotov em
conversações com os nazistas

em Berlim - Novembro de 1940

Diário de Berlim
W Shirer

BERLIM, 12 de novembro [1940]

Um dia escuro e chuvoso. Molotov chegou hoje. A recepção que lhe fizeram foi extremamente seca e protocolar. Subindo de automóvel a Unter den Linden, em direção à Embaixada Soviética, o Comissário do Exterior da URSS deu-me a impressão de um mestre-escola atarrancado e provinciano. No entanto, para sobreviver através de todas as rivalidades e intrigas do Kremlin, é indiscutível que deve ter algum valor. Os alemães referem-se abertamente ao fato de permitirem a Moscou a realização do velho sonho da Rússia, a conquista do Bósforo e dos Dardanelos, ao mesmo tempo que reservarão para si o resto dos Balcãs, a Romênia, a Iugoslávia e a Bulgária. E se os italianos conseguirem conquistar a Grécia, o que começa a parecer duvidoso, poderão guardá-la para si.

[...]

BERLIM, 14 de novembro

Julgávamos que os ingleses viessem ontem à noite, quando Ribbentrop e Göring festejavam Molotov com um banquete oficial. A Wilhemstrasse mostrava-se extremamente nervosa ante a perspectiva, uma vez que não lhe agrada a ideia de os figurões nazistas serem forçados a procurar o abrigo antiaéreo em companhia de seus ilustres hóspedes russos. Em vez disso, os ingleses surgiram esta noite pouco antes das 21 horas, mais cedo que nunca, quando Molotov recusou-se a ir para o abrigo, preferindo ficar assistindo ao bombardeio de uma das janelas da sala, cujas luzes estavam convenientemente apagadas. E os ingleses tiveram o cuidado suficiente de não atirar coisa alguma nas vizinhanças.

[...]

trad. Alfredo C Machado
RJ, Record

DIÁRIO DE BERLIM – W SHIRER
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Qual a posição de Molotov no regime estatista russo? O quanto o ditador Stalin confiava no 'diplomata' que negociava com os alemães? Temos um trecho no “Os Homens do Cremlin” sobre isso.

“No cargo de presidente do Conselho dos Comissários do Povo, Molotov dirigiu a execução dos primeiros 'planos quinquenais', foi o principal responsável pelo fortalecimento em sentido absoluto das estruturas do Estado, dirigiu a 'construção socialista' na sua primeira fase atormentada. Em maio de 1939, Stalin confiou-lhe outro encargo pesado: a direção do Comissariado do Povo para os Negócios Externos (mantinha, ao mesmo tempo, a Presidência do Conselho), com a tarefa de 'virar ao avesso' as atitudes filo-ocidentais, antes próprias da diplomacia soviética, preparando uma aliança com a Alemanha.

Em virtude do pacto Molotov-Ribbentrop (agosto de 1939), a URSS estendeu consideravelmente seu próprio território: foi o primeiro, se bem que efêmero, sucesso do 'diplomata' Molotov: dois anos depois os nazistas agrediam os soviéticos [ em 22 de junho de 1941].”
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fonte: Os Homens do Cremlin. SP: Ed. Três, 1974
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sábado, 13 de novembro de 2010

Ataque britânico à base italiana de Taranto








Ataque britânico à base italiana de Taranto
11 / 12 novembro 1940

A Batalha de Taranto (ou Tarento), em 11 e 12 de novembro de 1940, foi a primeira a empregar forças navais e aéreas, no cenário europeu, em ataque conjugado a uma base terrestre (portuária)

A base marinha de Taranto situa-se na Apulia, sul da Itália, no fundo do Golfo de Taranto, limitado pela Apulia, Basilicata, Calabria e o Mar Jônico). O comando da frota italiana estava nas mãos do Almirante Angelo Iachino (1889-1976), responsável por 4 couraçados, 19 cruzadores, 50 contra-torpedeiros e 109 submarinos.

As forças britânicas (que contavam com apoio de belonaves australianas) eram comandadas pelo Almirante Andrew B. Cunningham (1883-1963), responsável pelas ações de 4 couraçados, 6 cruzadores, 20 contra-torpedeiros, 4 submarinos e 1 porta-aviões.
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A linha de comando das forças aéreo-navais no Mediterrâneo

“O conflito encontrou Cunningham como comandante-chefe da base de Malta, um ponto nevrálgico, importantíssimo. Mas uma série de falecimentos inesperados, nas altas esferas do Almirantado, acaba por levá-lo ao comando supremo da frota do Mediterrâneo. Para o irlandês, que parecia destinado à carreira de agricultor ou de professor, produz-se o evento que o introduz na história da Marinha.

A situação é esta: com a derrota da França, tornou-se crítica a posição dos ingleses no Mediterrâneo. A frota francesa não pode mais conservar o setor ocidental e seus navios devem ser desmilitarizados. E quando, além disso, a Itália entra na guerra, Cunnigham fica seriamente preocupado. Em suas memórias, ele escreverá que, se a frota italiana tivesse agido com maior decisão nos primeiros meses da guera, e tivesse atacado as embarcações inglesas (menos numerosas e desprovidas de 'cobertura' aérea), certamnte a Itália teria assegurado para si o domínio do Mediterrâneo.

'Bastaria', escreveu o almirante, 'que se tivessem afundado no canal de Suez, ou diante do porto de Alexandria, alguns de seus navios mercantes, carregados de cimento ou de explosivos, para paralisarem, pelo menos por um mês, todas as operações naviais britânicas.' E ainda: 'Se, depois da derrota francesa, os italianos houvessem atacado com seus couraçados e cruzadores, os ingleses seriam obrigados a retirar-se.'
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Nada disso ocorre. Ao contrário, Cunningham pode agir tranquilamente ou quase. Ataca Tobruk e, na batalha de Punta Stilo, força uma esquadra naval italiana a retirar-se para o porto. Depois há um combate, em que fica avariado o couraçado italiano 'Giulio Cesare', mas também a capitânea de Cunningham, o 'Warspite', sofre danos consideráveis. Gradualmente, a frota inglesa se fortalece, chegam os porta-aviões 'Illustrious' e 'Eagle', e entra em cena o radar, que os italianos não possuem, nem imaginam o revolucionário aparelho instalado nos navios adversários. Quando perceberem, será tarde demais.

Ciente se sua superioridade, Cunningham explora arriscadamente os recursos de sua frota, chega a empregá-la em até vinte operações simultâneas. Esse modo de agir, se lhe confere o respeito quase fanático de seus comandados, atrai para ele também ressentimento e antipatia, da parte dos colegas. Alguém o define mesmo como desumano, alguns falam de métodos inadmissíveis num almirante de Sua Majestade.

Cunningham responde com relatórios ao Almirantado, em que defende seus atos numa linguagem muito livre. Mas não tem muito trabalho em justificar-se. No plano tático e militar, são os fatos que lhe dão razão: os reabastecimentos no Oriente Médio são constantemente assegurados, Malta resiste, as forças terrestres são sempre apoiadas pela intervenção naval, o mar é mantido desembaraçado de minas. E mais: em 11 de novembro de 1940, 21 aviões-torpedeiros 'Swordfish' da Marinha britânica atacam a base de Taranto e danificam três couraçados italiano. Embora sendo homem do mar há quase meio século, Cunningham acredita na aviação. E também na aviação adversária. A respeito dos italianos, escreve em seu diário: 'Não é exagerado afirmar que, na primeira fase da guerra, os bombardeios a grande altura dos italianos foram os mais aprimorados que já observei; melhores que os dos alemães. Recordarei sempre com grande respeito esses homens, [...] ”
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fonte: Os Generais Aliados. SP: Ed. Três, 1974.
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[nota minha:]

sobre a batalha de Punta Stilo, um parágrafo,

A batalha de Punta Stilo ou da Calabria (em 9 de julho de 1940) foi travada entre as forças britânicas (Royal Navy) e as forças italianas (Regina Marina) nas águas do Mar Jônico, na região entre a península itálica e a península helênica (a Grécia), lugar onde se notava uma das maiores concentrações de belonaves, navios de guerra, em todo o Mar Mediterrâneo.
Operações Navais no Mediterrâneo
“De importância vital, a pequena ilha de Malta estava no meio das rotas de abastecimento do Eixo para o norte da África e representava a única base aérea inglesa no Mediterrâneo central. Com uma força naval e contigente aéreo reduzidos, a guarnição inglesa em Malta periodicamente atacava os navios de abastecimentos do Eixo, mas estava em constante ameaça de bombardeios e invasões. Na verdade, a pequena Malta se tornou um dos pontos principais do conflito no norte da África.

[...]

Temeroso que os remanescentes da esquadra francesa caísssem em mãos alemães, em julho de 1940, [o almirante] Cunningham destruiu as forças francesas que restavam em Mers el Kebir e Oran. Em seguida, em novembro de 1940, a Esquadra do Mediterrâneo lançou um ataque ousado e preventivo na principal base da esquadra italiana em Taranto. O porta-aviões inglês Illustrious navegou até uma distância que deixasse a supostamente segura base dentro de seu alcance e orquestrou um ataque com 21 Swordfish biplanos obsoletos. Voando durante a noite, os pilotos lançaram 11 torpedos na esquadra italiana ancorada, afundando um couraçado e danificando outros dois, incluindo o poderoso Littorio, além de sois cruzadores. O bem-sucedido ataque ajudou a equilibrar a balança de poder no Mediterraneo e forçou a marinha italiana a se deslocar para bases distantes na costa oeste – e deixou os italianos reticentes sobre testar o poder inglês.”
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fonte: JORDAN, David & WIEST, Andrew. Atlas da Segunda Guerra Mundial Vol 1 . SP: Ed. Escala, 2008
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Batalha de Taranto (ou Notte di Taranto)

Os italianos passaram a chamar o ataque inglês de “Noite de Taranto” (Notte di Taranto) enquanto as 'fontes oficiais' dizem “Batalha de Taranto”, e reconhecem o quanto o ataque desmobilizou a hegemonia italiana no Mediterrâneo. Aceitam que a derrota foi uma espécie de “Pearl Harbour” - enquanto o ataque aos norte-americanos seria ousado pelos japoneses em dezembro de 1941 – pois a Marinha italiana foi seguramente afetada (e seria ainda pior na Batalha do Cabo Matapan, como veremos)

Na 'Noite de Taranto', em três ondas de ataque - onde 10 aviões iniciaram incêndios, e outros 11 lançaram torpedos - foram danificados os caça-torpedeiros Libeccio e Pessagno, os encouraçados Caio Duilio e Littorio, além do cruzador Trento. Além das belonaves, também depósitos, reservatórios de combustível foram atingidos. Quanto ao número de baixas, registram-se 85 mortos, sendo 55 civis, e 581 feridos.
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Por Leonardo de Magalhaens
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Quadro completo da Batalha do Mediterrâneo
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Ataque britânico à base de Taranto (Itália)
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sábado, 6 de novembro de 2010

Roosevelt Reeleito em 1940







Roosevelt Reeleito em 1940

Diário de Berlim
W Shirer

BERLIM, 6 de novembro [1940]

Roosevelt foi reeleito para um terceiro período de governo! O fato constitui uma verdadeira bofetada para Hitler, Ribbentrop e todo o regime nazista. Isso porque, apesar de Willkie ter chegado quase a ultrapassar o Presidente nas suas promessas de trabalhar pela vitória da Grã-Bretanha, os nazistas desejavam ardentemente a vitória do candidato republicano. Na intimidade, os figurões nazistas não faziam nenhum segredo sobre isso, embora Goebbels obrigasse a imprensa a ignorar praticamente as eleições, de forma a não dar aos democratas a vantagem de poder afirmar que os nazistas apoiavam a eleição de Willkie.

[...]

Pelo fato de Roosevelt ser um dos poucos líderes em toda a acepção do vocábulo produzidos pelas democracias desde a última guerra (olhem para a França, vejam a Inglaterra até o advento de Churchill !) e porque ele também sabe ser enérgico, Hitler sempre alimentou um grande respeito pela sua pessoa e até mesmo um certo receio (enquanto admira Stalin pela sua dureza). Uma parte do sucesso de Hitler foi devida ao fato de existirem apenas homens medíocres, como Chamberlain e Daladier, à frente dos destinos das democracias. Fui informado de que desde que abriu mão, durante este outono, do seu plano de invasão da Inglaterra, Hitler passou a encarar Roosevelt cada vez mais como o maior inimigo que encontrou pelo caminho para a conquista do domínio mundial e, mesmo, para a sua vitória na Europa. E não resta a menor dúvida de que tanto ele como seus assassinos depositaram grandes esperanças na derrota do Presidente. [...]
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trad. Alfredo C Machado
RJ, Record
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DIÁRIO DE BERLIM – W SHIRER
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Discurso de Thomas Mann
Deutsche Hörer!” / BBC London

Novembro de 1940

“Ouvintes alemães!

A reeleição de Franklin D. Roosevelt para a presidência dos Estados Unidos é um acontecimento de primeira grandeza, talvez decisivo para o futuro do mundo, e assim também foi sentido pelos europeus que consideravam a eleição e seu resultado como uma questão puramente interna dos americanos. Com razão, os destruidores da Europa e os violadores de todos sos direitos dos povos veem em Roosevelt seu mais poderoso adversário. Ele é o representante da democracia combativa, o verdadeiro defensor de uma nova ideia de liberdade ligada ao social e um estadista que sempre distinguiu claramente paz de conciliação. [...]

[...] Em um discurso particularmente mentiroso e doentio que Hitler proferiu recentemente em sua adega em Munique, ele assegurou a vocês que as mais altas autoridades militares alemãs estão convencidas da vitória. Antes de tudo, é estranho que ele recorra a qualquer alta autoridade que não a dele. Não é ele uma espécie de César, Fredrico, Napoleão e mesmo Carlos Magno em uma só pessoa? Foi isso que os historiadores de rua do nacional-socialismo lhe deram para ler, a ele, o deplorável embusteiro da história. Como pôde abandonar seu papel e recorrer ao julgamento dos generais que seguem suas inspirações? Mas esses generais não são todos cadetes envelhecidos e técnicos imbecis do momento militar. [...]

[...] Por que um punhado de criminosos estúpidos se aproveita do processo de transformação econômica e social que o mundo atravessa para empreender uma campanha de conquista do mundo à maneira de Alexandre, anacrônica e sem sentido? Sim, só por essa razão. E o que deve ser e será o desfecho dessa guerra é algo claro. [...]”
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fonte: “Ouvinte alemães! ; discursos contra Hitler (1940-1945)”
trad. Antonio Carlos dos Santos e Renato Zwick
RJ: Jorge Zahar Ed., 2009
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(nota minha)
O escritor Thomas Mann, ao final deste discurso lido na BBC London, imagina um mundo mais unido – as Nações Unidas – enquanto anima o povo alemão a não ser passivo diante dos criminosos nazistas. Mann esperava que o povo alemão se livrasse do nazismo antes que os Aliados precisassem atacar diretamente a Alemanha.
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Por Leonardo de Magalhaens
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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Itália na guerra - norte da África & Grécia








Itália na guerra

(norte da África)
(invasão da Grécia)

O ditador fascista Mussolini resolveu entrar na guerra, em 10 de junho de 1940, ao julgar que a vitória nazista sobre a França e a Grã-Bretanha seria certa e definitiva. Assim as colônias das potências imperialistas poderiam ser mais facilmente conquistadas.

Assim, tropas italianas partiram da colônia da Etiópia (conquistada em 1936) e avançaram rumo a Somália inglesa (situada entre a Somália italiana e o Golfo de Aden, no 'chifre da África') em agosto de 1940, onde o contigente inglês (de 1.500 homens) foi vencido pelas batalhas italianas (cerca de 200 mil soldados). Em 19 de agosto, os ingleses se retiram para Aden, do outro lado do Golfo.

Churchill, o primeiro-ministro britânico, percebeu o perigo do avanço italiano e enviou reforços para o Sudão e o Kênia, que assim se prepararam para contra-atacar qualquer ofensiva italiana. (Tanto que em janeiro/fevereiro de 1941, os ingleses voltariam a recuperar as posições.)

Vejamos um detalhe sobre o início das operações,

“Mussolini tinha grandes esperanças para um ataque contra os ingleses no Egito, pois uma vitória lá desmantelaria a rota marítima vital do Canal de Suez e deixaria os campos de petróleo do Oriente Médio abertos para a conquista. As chances pareciam a seu favor, pois os 250.000 homens no 10º Exército italiano, sob o comando do Marechal Rodolfo Graziani, enfrentaram meros 36.000 soldados ingleses defendendo o Egito. Quando o ataque italiano começou em 13 de setembro, os defensores ingleses, sob o comando geral de Wavell e o comando em batalha do General Richard O'Connor, recuaram para a cidade de Sidi Barrani, onde Graziani interrompeu seu avanço. O comandante italiano tinha motivos para ser precavido – o deserto aberto era reino de operações militares armadas e móveis. Os tanques italianos eram obsoletos em relação aos seus rivais ingleses e estavam em desvantagem numérica de mais de dois para um.”

(fonte: JORDAN, David & WIEST, Andrew. Atlas da II Guerra Mundial. Ed. Escala, 2008. p. 68)

Tendo as forças italiano cessado a ofensiva, passaram a ser sujeitas a um contra-ataque britânico – o que aconteceu no início de 1941, como veremos.
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Quem é Rodolfo Graziani
(em italiano)
http://it.wikipedia.org/wiki/Rodolfo_Graziani
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Itália fascista invade a Grécia

Em 20 de outubro de 1940, as autoridades gregas receberam um agressivo ultimato do governo fascista italiano, no qual o governo do Duce acusa os gregos de cooperação com os ingleses, o que não se encaixava na declaração de 'neutralidade' grega.

As autoridades gregas interpretam o ultimato como uma intervenção italiana e sabem que uma ação armada será iminente. De fato, em 28 de outubro, tropas italianas começam uma ofensiva a partir do território da Albânia (ocupada em 1939) rumo as montanhas do norte e do noroeste da Grécia.

Trecho interessante, onde mostra que Mussolini quis 'surpreender' Hitler – em clara falta de 'articulação estratégica' entre os cabeças do Eixo.

“No dia 22 de outubro, Mussolini enviou uma carta a Hitler, comunicando-lhe, sem especificar a data do ataque, sua decisão de invadir a Grécia. Dois dias mais tarde, Ribbentrop telefonou urgentemente a Ciano e marcou uma entrevista entre Hitler e o Duce na cidade de Florença. Hitler acabava de conferenciar com Franco e Pétain, com o propósito de obter o apoio espanhol e francês na luta contra a Grã-Bretanha. Não havia, no entanto, obtido nenhum resultado positivo para suas gestões.”

(Fonte: A Segunda Guerra Mundial. “Ofensiva Italiana nos Balcãs” in: “9 – Mussolini: invadam a Grécia” . Ed. Codex, 1965.)

O fracasso da ofensiva italiana

Em 28 de outubro de 1940, partindo de posições na Albânia o avanço italiano (cerca de 220 mil soldados) rompeu a fronteira grega rumo a cordilheira do Pindo – a partir de onde as tropas invasoras passaram a receber violentos contra-ataques dos defensores gregos (parte de um exército de 400 mil homens)

Até 03 de novembro, os defensores conseguem conter a invasão e, em Atenas, é decretada a MOBILIZAÇÃO TOTAL. Os ingleses se posicionam em Creta e outras ilhas do mar Jônico e do mar Egeu. Esquadrilhas da RAF decolam do Egito rumo às bases gregas, de onde podem organizar ataques às bases italianas no Meditêrraneo, além de linhas de comunicação na Albânia. Enquanto isso, o ditador Mussolini convoca os reforços requiridos pelo comandante Badoglio.

É justamente em novembro de 1940, que o ditador alemão Hitler resolve intervir no conflito dos Balcãs – visto a péssima atuação bélica italiana e a intervenção militar inglesa. Assim em abril de 1941 terá início a brutal Operação Marita (Unternehmen Marita) como veremos.
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mais sobre a invasão italiana da Grécia 1940
http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=110
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por Leonardo de Magalhaens
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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ERRATA (ao texto 'O Japão Militarizado')


Errata

(ao texto "O Japão Militarizado")


Seguiu-se a época da Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-95) quando os japoneses lutaram contra os chineses no propósito de controle sobre os territórios da atual Coreia. Os japoneses assim se vingavam de agressões anteriores dos chineses (sic) que chegaram a invadir Tokyo em 1853 (o que fez com que os japoneses abrissem os portos para as potências ocidentais). Os nipônicos derrotaram os chineses e a Coreia se tornou autônoma – até a outra invasão japonesa na SGM, após a qual, com a derrota dos nipônicos, foi dividida em Norte e Sul.


Errata: em 1853 não foram os chineses que agrediram o Japão – mas a frota das índias orientais dos EUA, United States Navy's East Indies fleet, com quatro belonaves, comandada pelo Comodoro Mattew C . Perry, em julho (ano 6 da Era Kaei japonesa). Esta agressão ocidental – pois os norte-americanos contavam com a aprovação e o apoio de ingleses e holandeses – foi responsável pela 'abertura' do Japão ao comércio exterior, o que obrigou os japoneses a se 'modernizarem' (até para futuramente lutarem contra os dominadores ocidentais)


fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Kaei



mais sobre o Comodoro Matthew C. Perry

http://en.wikipedia.org/wiki/Matthew_Perry_(naval_officer)#The_Perry_Expedition:_Opening_of_Japan.2C_1852-1854

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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Japão X China & Pacto Tripartite (do Eixo)







Japão X China
Pacto Tripartite (
ou do Eixo)

As indisciplinadas tropas japonesas na China acabaram por prolongar o conflito sino-japonês que os Oficiais nipônicos pretendiam ser rápida a ponto de não despertar as resistências dos nacionalistas chineses. Pois então os japoneses precisariam lutar contra nacionalistas e contra comunistas, enquanto temiam um avanço russo-soviético a partir da Sibéria até a Mandchúria.

A rivalidade com os russos era contrabalanceada pela rivalidade com as potências anglo-saxãs, além de imperialistas franceses e holandeses. O Japão pretendia dominar a China e também a Indochina, além das ilhas que hoje constituem a Indonésia - na época: Índias orientais holandesas.

Os militaristas japoneses pretendiam uma nova ordem no sudeste da Ásia, com um nome pomposo de ESFERA DE COPROSPERIDADE e para isso precisariam neutralizar os russos ao norte e enfrentar os 'ocidentais' ao sul. Até porque os nipônicos não poderiam vencer uma 'guerra em duas frentes' – ainda mais quando os conflitos na China se arrastavam e derrubavam 'gabinetes'.
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A crueldade das tropas japonesas na China

O Massacre de Nanking mostrou o quanto os japoneses se mostrariam hostis – e seriam hostilizados – na longa guerra que duraria quase nove anos. Não respeitando a população civil das aldeias e cidades – tal como os alemães fariam depois na Rússia (1941-1944) – os exércitos japoneses não conseguiriam criar os esperados 'governos fantoche' para exercer hegemonia sobre os chineses.
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A Batalha de Xuzhou – março 1938

Após a vitória japonesa em Nanking, as forças republicanas chinesas retraíram para o sudoeste até a que seria a nova capital Chongqing.
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A Batalha de Guangxi do Sul
(ou Battle of South Guangxi) - novembro 1939
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A Batalha do Passo de Kunlun
(ou Battle of Kunlun Pass)
dezembro 1939 – janeiro 1940
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PACTO TRIPARTITE

27 setembro 1940

Sabemos que as nações do Eixo foram aquelas que se atrasaram na 'corrida imperialista', sendo que o Japão começou a se 'modernizar' tecnologicamente na Era Meiji, no final do século 19, enquanto Alemanha e Itália se unificavam enquanto 'Estados-Nação' em torno de 1870-71.

Quando os imperialistas japoneses, alemães e italianos se perceberam atrasados, perceberam que certamente enfrentariam – mais cedo ou mais tarde – os imperialistas britânicos, franceses, holandeses, e norte-americanos.

A importância do PACTO TRIPARTITE ou DO EIXO foi assinalada por alguns historiadores, como demonstram os textos abaixo.

No Diário de Berlim
de William Shirer

BERLIM, 27 de setembro [1940]

“Hitler e Mussolini forneceram outra surpresa. Às 13 horas de hoje na Chancelaria, o Japão, a Alemanha e a Itália assinaram uma aliança militar dirigida contra os Estados Unidos. Fui apanhado pelo acontecimento certo de que Ciano viera a Berlim a fim de conseguir a entrada da Espanha na guerra. Entretanto, Serrano Suñer nem sequer esteve presente à teatral encenação preparada hoje pelos fascistas da Europa e da Ásia. [...]

A alma desse novo pacto é ao artigo III, que reza o seguinte: “A Alemanha, a Itália e o Japão comprometem-se a prestar auxílio mútuo, com todo o seu poderio político, econômico e militar, quando uma das três partes contratantes for atacada por qualquer potência que, neste momento, não esteja envolvida na guerra europeia ou no conflito sino-japonês.”

Existem apenas duas grandes potências que ainda não se encontram envolvidas em nenhuma das duas guerras: a Rússia e os Estados Unidos. Mas o artigo III não se refere à Rússia, e sim o artigo V, que diz: “A Alemanha, a Itália e o Japão afirmam que os termos acima mencionados não afetam de forma alguma, o status quo político atualmente existente entre cada uma das três partes contratantes e a Rússia Soviética.”

Portanto, a União Soviética está fora do jogo. Restam os Estados Unidos. [...]

“Devo acrescentar o seguinte: o artigo I do Pacto Tripartite declara que o Japão reconhece a supremacia da Alemanha e da Itália na criação de uma nova ordem na Europa. O artigo II diz isto: “A Alemanha e a Itália reconhecem a supremacia do Japão para a criação de uma nova ordem no vasto território oriental da Ásia.”
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trad. Alfredo C. Machado / Record, RJ.
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No estudo sobre as atuações do General Tojo nas preliminares da SGM, Alvin D. Coox, destaca o quanto o Ministro da Guerra Tojo se afastava do pacifismo do Primeiro-Ministro Príncipe Konoye – que se demitirá pouco antes do ataque aos EUA, em fins de 1941.

“Os quinze meses de [Hideki] Tojo como Ministro da Guerra foram repletos de tensão. Se o Pacto Tríplice tinha por objetivo estabilizar a situação internacional, claro que se frustrou, pois as relações nipo-americanas se deterioraram perigosamente.” (p. 71)

e tendo percebido antes que

“[O Pacto Tripartido] tornou-se um dos maiores obstáculos para as boas relações entre Estados Unidos e Japão, porque, como até mesmo o Vice-Ministro do Exterior, Ohashi, admitiu a diplomatas americanos, o acordo visava diretamente aos EUA. [...] (p. 63)

trad. Edmond Jorge

COOX, Alvin D. 'Tojo”. Renes, RJ, 1976.
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notícia sobre o Pacto do Eixo
Japão se alia ao Eixo Roma – Berlim
http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=4919
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por Leonardo de Magalhaens
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O Japão militarizado







O Japão militarizado

Após a industrialização japonesa no fim do século 19 – Era Meiji – para se opor ao imperialismo ocidental (e também a expansão chinesa) os líderes japoneses centralizaram as forças armadas – afastaram o poderio dos Samurais e dos senhores feudais – e criaram um Exército Imperial Japonês, o que levou a um movimento de militarização.

Os militares – antes chamados Xoguns – passaram a exercer um grande poder – não apenas estratégico – quando o assunto era 'economia de guerra' – de modo que o Imperador não era exatamente um poder absoluto. Os militares assumiram o poder em várias áreas da cultura japonesa com o propósito de criar uma 'potência' primeiramente defensiva, e depois ofensiva. O Japão temia e invejava o Ocidente.

Primeiramente com treinamento francês – depois alemão (após a vitória dos germânicos em 1871 ) - o novo exército japonês ainda contava com vários Samurais, que agora eram ali os oficiais – assim como o Exército Vermelho em 1920 aceitaria muitos oficiais do Exército Czarista (derrotado em 1918-20) durante a guerra civil russa entre Comunistas e Reacionários (os 'Brancos') – é o novo obrigado a conviver com o antigo.

Seguiu-se a época da Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-95) quando os japoneses lutaram contra os chineses no propósito de controle sobre os territórios da atual Coreia. Os japoneses assim se vingavam de agressões anteriores dos chineses que chegaram a invadir Tokyo em 1853 (o que fez com que os japoneses abrissem os portos para as potências ocidentais). Os nipônicos derrotaram os chineses e a Coreia se tornou autônoma – até a outra invasão japonesa na SGM, após a qual, com a derrota dos nipônicos, foi dividida em Norte e Sul.

Depois foi a vez de enfrentar os russos na guerra Russo-Japonesa de 1904-05, quando os russos se viram derrotados num conflito que se estendeu além do programado. Tal desgraça das forças russas – que sofreram 70 mil baixas - causou revoltas na Rússia e ocasiou a primeira etapa da Revolução Russa em 1905, quando vários Soviets (comitês de operários) foram organizados, enquanto algumas forças ainda procuravam convencer o Czar, mas foram massacradas – ver o Domingo Sangrento (9 ou 22 de janeiro de 1905, de acordo com o calendário). O Japão mostrou força – e voltou a incomodar os russos em 1938-39, na Manchúria, onde foram os japoneses foram derrotados pelas forças soviéticas comandadas pelo talentoso general Zhukov (Jukov), na Batalha de Kalkin-Gol .
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Segunda Guerra Sino-Japonesa - 1937-1945

Como vimos em ensaio anterior, o interesse japonês em ocupar territórios e recursos minerais do extenso país – a China – com tropas apoiando regimes 'fantoches', uma vez que seria praticamente impossível dominar toda a extensão – e ao mesmo tempo que 'colonizá-la'.

Mas já vimos como o exército japonês de ocupação se mostrou extremamente cruel e homicida, totalmente indisciplinado a ponto de incomodar os próprios planos dos militares japoneses.
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Ao contrário dos oficiais, que eram extremamente disciplinados e severos, os recrutas japoneses eram em maioria de classe baixa urbana ou humildes camponeses, que se individualmente eram apagados, modestos, sem personalidade - como vemos na cultura oriental onde o indivíduo não é o importante, mas a tradição e/ou o coletivo – mas em grupo (num batalha, numa invasão, por exemplo) os soldados japoneses eram desregrados em violência. O anonimato da turba – ou horda – fazia com que nem os oficiais tivessem controle sobre as ações facínoras das tropas.

Assim aconteceu o terrível e sanguinário MASSACRE DE NANKING – durante a batalha em dezembro/1937 a janeiro/1938, após a primeira grande batalha – Batalha de Xangai – de agosto a novembro de 1937.
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Na mesma Xangai onde os comunistas foram traídos e massacrados pelas forças nacionalistas do poderoso Chiang Kai-Chek em abril de 1927, após o que os comunistas se tornaram inimigos irreconciliáveis e se retiram para as áreas rurais, onde reorganizaram a resistência – na Longa Marcha de Mao Zedong (que somente chegaria ao poder em 1949, após derrotar japoneses e nacionalistas chineses)

A portuária Xangai é o cenário do clássico do escritor francês André Maulraux, “A Condição Humana”, de 1933 (o ano no qual Hitler subiu ao poder na Alemanha) onde mostra os antagonismos entre nacionalistas e comunistas chineses – às vésperas das agressões japonesas (que por algum momento seriam o 'inimigo comum')




continua...




Leonardo de Magalhaens




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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

política durante a Battle of Britain (sept 1940)


















setembro 1940

Vejamos alguns trechos de obras abordando a política (e os bastidores)
durante a Battle of Britain / Batalha da Grã-Bretanha

fonte: FEST, Joachim. “Hitler” Livro VII – cap. I (pp. 757-59)

“As tergiversações de Hitler não se deviam unicamente ao fato de que suas relações com a Inglaterra se encontravam mais ou menos influenciadas por seus complexos; na verdade, outra ideia fundamental desempenhava papel importante: a da resistência organizada por Churchill. Que uma potência dotada de numerosos e vastos pontos de retirada possíveis, no além-mar, dispunha assim de múltiplas possibilidades de consolidar sua situação, de sorte que a conquista eventual da mãe-pátria não significaria obrigatoriamente sua derrota: que a Inglaterra podia, do Canadá,por exemplo, arrastar a Alemanha, de maneira cada vez mais irreversível, a um conflito de condições desfavoráveis, e, afinal de contas, enredá-la numa guerra, tão temida, contra os Estados Unidos – esses pensamentos não deixavam de inquietá-lo. E ainda admitia que, se conseguisse destruir o Império Britânico, não seria a Alemanha a verdadeira beneficiaria disso, explicou ele numa conversa, a 13 de julho de 1940, mas sim “o Japão, a América e outros”. [fonte de FEST: “Diário de Guerra” do General Halder] Em outros termos, todo agravamento de sua discórida com a Inglaterra minava sua própria posição. Desse modo, não só razões sentimentais, mas também motivos politicos, em lugar de impedi-lo a provocar a derrota da Inglaterra, levaram-no antes a procurar sua colaboração. (...)

Era a edificação desse sonho [colaboração britânica para a grande marcha alemã para o leste] que devia servir, no plano militar, o 'cerco' das ilhas britânicas pela frota submarina alemã, assim como – e principalmente – a guerra aérea contra a Inglaterra. O paradoxo dessa concepção se traduziu na curiosa falta de entusiasmo com que Hitler presidiu à montagem dos diversos elementos necessários a esse combate: surdo às sugestões apresentadas insistentemente pelas autoridades militares, não estava disposto a considerar uma 'guerra total' aérea ou marítima. A legendária Battle of Britain começou a 13 de agosto de 1940 (Adlertag – Dias das águias), com uma primeira ofensiva maciça contra os aeroportos e as estações de radar britânicas da costa sul; foi necesssário interrompê-la a 16 de setembro, em razão das más condições atmosféricas e depois de pesadas perdas, sem que a Luftwaffe tivesse atingido os objetivos fixados: nem o potencial industrial inglês tinha sido perturbado, nem o moral da população fora minado, nem também os alemães tinham conseguido a superioridade aérea. E, embora alguns dias antes, o Almirante Raeder tivesse anunciado que a Marinha estava preparada para a operação de desembarque, Hitler adiou esse empreendimento 'para mais tarde'. Instruções do OKW, datadas de 12 de outubro, especificavam que “de agora em diante, até a próxima primavera, os preparativos de desembarque na Inglaterra deviam ser explorados unicamente como um meio de pressão política e militar contra a Inglaterra”. Renunciava-se à operação Seelöwe.”
[...]

“A grande coalização continental devia englobar a Europa inteira e compreender a União Soviética, a Espanha, Portugal e a França de Vichy. Ao mesmo tempo, elaboravam-se planos para atacar a Grã-Bretanha pelos flancos, retornar o combate no Mediterrâneo, apoderar-se desses dois bastiões britânicos, Gibraltar e o Canal de Suez, desfechando assim um golpe fatal na situação imperial da Inglaterra na África do Norte e na Ásia Menor. Outros projetos, desenvolvidos paralelamente, tinha, como objetivo a ocupação das Canárias, das ilhas portuguesas de Cabo Verde, bem como dos Açores e da Madeira; houve contatos com o Governo de Dublin, com vistas a uma aliança com a Irlanda, o que teria proporcionado ao Reich novas bases aéreas contra a Inglaterra.”

trad. A. L. Teixeira Ribeiro, et alli.

....

Fonte: LUKACS, John. “O Duelo Churchill X Hitler” (cap. VII, pp. 198-201)
(VII - cinquenta anos depois)

“Em 17 de setembro de 1940 Hitler, após vários adiamentos, ordenou a suspensão indefinida da Operação Leão-Marinho. Churchill não soube disso, mas tinha muitos motivos para suspeitá-lo. Naquele dia, ele e a esposa se haviam mudado para o Anexo, em Storey's Gate. Protegidos pelas portas corrediças de aço durante os ataques aéreos, pasariam ali as noites da semana durante a maior parte da guerra, embora ele preferisse ficar o máximo possível em Downing Street, 10. (Nessa época, o Gabinete de Guerra também se reunia na Sala de Guerra subterrânea.)

Tanto Churchill quanto Hitler se instalavam para uma guerra longa. Essa guerra Hitler poderia não vencer no fim. Mas esse fim estava distante. Um homem aparecera no caminho de Hitler para vencer o tipo de guerra que ele projetara e esse homem não estava sozinho. De certo modo o duelo entre ambos prosseguiu, mas as condições e circunstâncias não eram mais as mesmas. [...]

“Em uma escala mais ampla e mais prolongada, o duelo entre Hitler e Churchill prosseguiu no ar. Ambos superestimaram a eficácia do bombardeio. Hitler verificara isso em setembro de 1940. já em julho de 1940 Churchill achava que, com o tempo, o bombardeio maciço de fábricas e cidades alemãs teria de causar a derrota de Hitler, que era “o único caminho seguro” para a vitória. “Não temos nenhum exército continental que possa derrotar a potência militar alemã”, disse ele a Beaverbrook em 8 de julho. À medida que a guerra prosseguia, o respeito de Churchill pela capacidade combativa do exército alemão crescia cada vez mais. Ele também verificou que o bombardeio de saturação das cidades alemãs era, na melhor das hipóteses, um meio secundário para vencer a guerra, não o meio decisivo. [...]

“O principal e mais minucioso relato do planejamento da Operação Leão-Marinho é o do alemão Karl Klee, que escreveu na introdução dos dois maciços volumes [nota: a obra “A Tragédia”] : “A tragédia que estava por vir é que os britânicos, que se concentravam somente no adversário imediato, estavam prontos a aceitar qualquer parceiro – o que significa também a União Soviética – naquela guerra. [Os britânicos] não previram que essa orientação levaria somente à substituição de uma Alemanha forte pelo poder esmagador da Rússia.” Esse raciocínio – que equivale, em essência, a uma espécie de indignação seletiva – atrai algumas pessoas ainda hoje e não só na Alemanha. Sou obrigado a corrigi-lo aqui. Não era só que sem aquele “parceiro” os britânicos não poderiam esperar vencer. Aquele “parceiro” foi forçado a uma aliança com a Grã-Bretanha pelo próprio Hitler. [nota minha: quando as tropas alemãs invadiram a URSS em 22 de junho de 1941] É também que Churchill viu a opção com clareza: ou toda a Europa dominada pela Alemanha, ou – na pior das hipóteses – a metade leste da Europa dominada pela Rússia; e metade da Europa era melhor do que nada.”

[...]

(pp. 198-201)

trad. Cláudia Martinelli Gama
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LdeM
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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Setembro 1940 no Diário de Shirer






Do
Diário de Berlim
William Shirer

BERLIM, 7 de setembro [1940]

No decorrer da noite passada tivemos o maior e o mais eficaz de todos os bombardeios aéreos da guerra. Nestes últimos dias os alemães trouxeram numerosas baterias de flaks para Berlim, e assim ontem à noite abriram um fogo de barragem formidável contra os ingleses, embora não conseguissem abater um só aparelho da RAF.

Desta vez os ingleses estavam com pontaria muito melhor. Quando regressei da Rundfunk pouco depois das 3 da madrugada, o céu, sobre a zona norte-central da cidade, estava avermelhado pelo clarão de dois grandes incêndios. O maior deles foi o que se registrou nos armazéns de cargas da estação ferroviária de Lehrter. Outra gare ferroviária, a de Schussendorfstrasse, também foi atingida. E, segundo me infirmaram, uma fábrica de borracha sintética foi destruída pelas chamas.

Apesar disso, o Alto Comando diz o seguinte no seu comunicado de hoje: “No decorrer da noite passada os aviões inimigos voltaram a atacar a capital alemã, ocasionando alguns danos a pessoas e propriedades, em conseqüência do bombardeio indiscriminado de objetivos não-militares, situados em pleno coração da cidade. Como represália, a Luftwaffe começou a atacar Londres em grandes formações”.


Nem o menor indício, em Berlim – e o povo alemão nada sabe sobre o assunto – de que no decorrer destas duas últimas semanas os pilotos alemães vem atirando as suas bombas sobre o centro de Londres. Ainda hoje, os meus censores avisaram-se que não tocasse nesse assunto. Aparentemente devem existir alguns alemães que ouvem as minhas irradiações, captando-as da própria emissora alemã que as retransmite em ondas curtas para Nova York, pois, uma vez que se trata se uma estação nazista, não há nenhuma punição para que a sintoniza.

O comunicado do Alto Comando, inegavelmente imposto pelo próprio Hitler – que várias vezes toma parte na redação dos comunicados oficiais do Exército – sustenta deliberadamente a mentira de que a Alemanha somente se resolveu a bombardear Londres em conseqüência dos ataques que os ingleses desfecharam primeiro contra Berlim. E o povo alemão acreditará em mais essa mentira, da mesma forma que acredita em quase tudo o que lhe dizem atualmente. É inegável que nos tempos modernos – desde que a imprensa, e mais tarde o rádio, tornaram teoricamente possível para a grande massa da humanidade conhecer o que se passava no mundo – nunca um povo foi tão mal informado, tão inescrupulosamente enganado, como os alemães o são sob o atual regime.

[...]



O povo alemão não tem a menor noção – porque a imprensa e a rádio nazistas têm suprimido cuidadosamente todas as notícias sobre isso – de que somente em agosto mais de mil civis ingleses foram mortos pelos ataques da Luftwaffe sobre os seus “objetivos militares”.

[...]


BERLIM, 18 de setembro

[...]

Hoje à noite, Ribbentrop partiu inesperadamente para Roma. São muitas as explicações dadas ao caso. A minha é esta: foi levar a Mussolini a notícia de que não se fará nenhuma tentativa de invasão da Inglaterra durante este outono. Esta revelação é de molde a colocar o Duce em maus lençóis, uma vez que as suas tropas já lançaram uma ofensiva no Egito e avançaram cerca de 160 quilômetros no deserto, convergindo sobre Sidi-el-Barrani. Mas, segundo parece, esse esforço italiano foi primitivamente planejado com o fito único de distrair a atenção inglesa da invasão alemã contra as suas ilhas. Agora começa a parecer (embora eu ainda acredite que Hitler possa vir a tentar a invasão) que a guerra neste inverno vai ser transportada para o Mediterrâneo, onde as potências do Eixo tentarão desfechar um golpe mortal no Império Britânico, com a conquista do Egito, do Canal de Suez e da Palestina. Napoleão conseguiu realizar essa campanha no passado, e o golpe não destruiu o Império Britânico (Napoleão tentou também a invasão, concentrando as suas barcaças e navios exatamente no mesmo local em que Hitler reuniu os seus, apesar de nunca ter ousado desfechar o golpe). No entanto, agora a conquista do Canal de Suez pode destruir o Império. O motivo da presença em Berlim do braço-direito do Generalíssimo Franco, Serrano Suñer, é que Hitler deseja que o caudilho ataque Gibraltar com as suas próprias forças ou consinta na passagem das tropas alemãs através de território espanhol, vindas da França, para realizar essa tarefa. Ouço muitos comentários sobre a divisão da África entre a Alemanha e a Itália, dando à Espanha uma grande área de território desde que Franco concorde com o que lhe exigem.

[...]


BERLIM, 22 de setembro

[...]

Ribbentrop está de volta de sua viagem a Roma e a imprensa dá a entender que agora está definitivamente resolvida a ‘fase final’ da guerra. Rudolf Kircher, redator-chefe do Frankfurter Zeitung, escrevendo de Roma, diz que a situação militar é de tal forma favorável ao Eixo que, na realidade, Ribbentrop e o Duce passaram a maior parte do tempo estabelecendo os planos para a ‘nova ordem’ na Europa e na África. Essa declaração pode ser de molde a fazer com que o povo alemão se sinta um pouco melhor, mas a maior parte dos alemães com quem converso já está começando, pela primeira vez, a perguntar por que motivo ainda não foi realizada a invasão da Inglaterra. Mostram-se ainda confiantes de que a guerra acabe antes do Natal. No entanto, apenas há quinze dias esperavam o fim da guerra para antes do inverno, que já terá chegado dentro de um mês. Ganhei todas as apostas que fiz com os funcionários e jornalistas nazistas sobre a data em que a suástica devia drapejar aos ventos de Trafalgar Square: agora devo receber deles – ou devia – quantidade suficiente de champanha para passar todo o inverno. Ainda hoje, quando sugeri a alguns deles outra pequena aposta, proporcionando-lhes a oportunidade de reaver o que perderam, não acharam nenhuma graça no caso. Nem quiseram apostar coisa alguma.

Os correspondentes alemães em Roma anunciaram hoje que a Itália está descontente com a Grécia e que os ingleses estão violando a neutralidade das águas gregas, tal como já o fizeram anteriormente na Noruega. Isso está-me cheirando mal. Desconfio de que a Grécia será a próxima vítima.

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Do
Diário de Berlim
William Shirer
Trad. Alfredo C Machado
Ed. Record







LdeM




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sábado, 4 de setembro de 2010

Batalha da Grã-Bretanha - setembro 1940






Batalha da Grã-Bretanha

Setembro 1940

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Na tentativa de convencer o governo britânico a negociar, após o final das hostilidades no continente europeu, após a derrota do exército francês, em junho de 1940, o Führer Adolf Hitler ameaçava ainda a Grã-Bretanha com um pesado ataque aéreo em preparativo para uma possível invasão por tropas.
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Após o bombardeio – dito acidental – de áreas de London / Londres, a RAF passou a atacar igualmente alvos civis na grande Berlim, o que levou a uma escalada de ataques e contra-ataques que não paralisava a produção militar, mas vitimava a população civil desarmada e desprotegida.
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Em 4 de setembro, Hitler ordenou ataques maciços sobre a capital britânica – ‘para arrasar o moral do inimigo’ – pois o ditador ainda tinha esperanças de ‘negociar’ com os britânicos e assim evitar a guerra em duas frentes (afinal de contas, o interesse dos nazistas era ‘colonizar’ a Europa do Leste, as riquezas da Ucrânia e Rússia).
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Enquanto isso a propaganda oficial continua enganando os cidadãos alemães – principalmente de Berlim – ao alegar que a capital seria protegida contra os ataques da RAF. A imprensa oficial nazista não hesita em denominar dos ingleses de ‘os piratas’ que matavam crianças alemãs. Enquanto silenciava sobre os ataques contra as crianças de Londres.
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Justamente por causa destes ataques, houve um incentivo para que as crianças londrinas fossem enviadas para pequenas cidades, aldeias e fazendas nas áreas rurais, no interior do país, e até nas regiões do norte (Escócia). Assim ao menos as crianças poderiam ser afastadas do inferno da guerra aérea. Os adultos – e as equipes de segurança, incluindo combate ao fogo, e reconstrução, bem como preparação de abrigos – se mantinham na capital, e - diferente do que esperava o ditador alemão - o moral dos londrinos não caiu.
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Abrigados em estações de metrô, em subterrâneos, em adegas, os londrinos souberam confiar na força aérea que, mesmo reduzida, conseguia defender a atacar. Ataques não tão ‘grandiosos’ como aqueles da Luftwaffe – que podia decolar da costa francesa, com caças em apoio a bombardeios – pois a distância até Berlim não permitia aos bombardeios da RAF o apoio de caças.
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Lembrar que nessa luta aérea não apenas pilotos ingleses se destacaram mas também pilotos de outros países da Comunidade britânica (Commonwealth), tais como canadenses, sul-africanos, australianos, neozelandeses, além de aliados, os franceses, poloneses, tchecos, etc. Não apenas de aeronaves precisava a RAF, mas também de pilotos. Os que não morriam, eram aprisionados pelos alemães.

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A superioridade aérea alemã ainda era notável – até meados de 1942, como veremos – mas não eram tão bem coordenada como poderíamos pensar. A vaidade do comandante da Luftwaffe , Goering, como todo autocrata que se preze, não permitia ouvir sugestões de subalternos, de comandantes de outras armas (a coordenação com a Marinha , por exemplo, era péssima. Como fazer então um desembarque anfíbio?)

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A invasão, aliás, para alguns historiadores, é vista apenas como uma ameaça permanente. Outros – como William Shirer – alegam que até 15 de setembro haveria a tentativa de uma invasão – com desembarque de tropas – mas as defesas britânicas impediram. Não descreve a dimensão desta ‘força de invasão’, apenas relata que vários soldados foram internados com queimaduras terríveis. Se soldados – e não pilotos – sofreram ferimentos, rumo ao Canal da Mancha, onde aconteciam os confrontos, é porque o Exército já embarcara tropas. O problema seria chegar ao outro lado. Sem ‘abafar’ a força aérea britânica, não seria possível o deslocamento das embarcações – a Marinha alemã não ousaria tanto.


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Aos ataques contra as cidades – de ambos os lados – estão fartamente documentadas e disponíveis na internet. Mas ainda não deixavam imaginar o que seria uma ‘guerra total’ – o ataque às cidades e aldeias russas, e o ‘bombardeio estratégico’ dos aliados, após 1942. É assim que se assegura a validade do ditado, “quem tem teto de vidro, que não atire pedras.” Na guerra entre os governos imperialistas, quem sofre as consequências é a população civil, o povo, o refém de sempre.



Por Leonardo de Magalhaens




Mais info em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_da_Gr%C3%A3-Bretanha

http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Britain
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