domingo, 22 de novembro de 2009

Os Expurgos no Exército Vermelho





Expurgos no Exército Vermelho


Durante a Guerra Civil Russa, de 1918 a 1921, com a
necessidade de combater as forças czaristas (os “Guardas
Brancos
”), o Partido Comunista organizou, com os esforços
de L. Trotsky, a “Guarda Vermelha”, ou melhor, o Exército
Vermelho dos Operários e Camponeses
(Raboche-
Krest'yanskaya Krasnaya Armiya
)

Cada 'oficial' (termo abolido, por não ser igualitário) tinha ao
seu lado um Comissário político para decidir a partir de
orientações do Partido. Era o modo de garantir a fidelidade
das Forças Armadas aos propósitos da Revolução.

Ao longo dos anos 20 seguiu-se a expulsão dos ex-oficiais
czaristas. Ao mesmo tempo, o Partido permitiu uma maior
cooperação entre o Exército Vermelho e o 'novo' Exército
alemão, o Reichswehr, da República de Weimar. Um exército
que se dizia não-politizado, sendo restritamente profissional.

E, na época, o Exército Vermelho era um dos mais modernos
do mundo (com uso de blindados, aviação contando com
tropas de paraquedistas, etc). No mais, as distâncias na
Rússia permitiam aos alemães driblar as cláusulas anti-
armamentistas do Tratado de Versalhes.

Imagens/hinos do Red Army / Krasnaya Armya:
http://www.youtube.com/watch?v=JO5-hM6xKt4
http://www.youtube.com/watch?v=NWIZ1XA8f2s&feature=fvw
http://www.youtube.com/watch?v=UW8o1AFgX9Y&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=tntA_4IoxbE&feature=related


A infantaria do Exército Vermelho havia sido formada a partir
da Milícia de Cidadãos, e também com regimentos de
camponeses (a se considerar que muitos eram hostis ao
Partido, devido a campanha de coletivização forçada)

Mais sobre o Exército Vermelho (na wikipedia)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%C3%A9rcito_Vermelho
fontes em español: http://www.laguia2000.com/rusia/el-ejercito-rojo
http://www.elmilitante.org/aniversario/trot_5.htm


Assim, após os expurgos no Partido (em 1933) e na NKVD
(em 1935), foi a vez do Exército (1937/38), com alegações
de traição trotskista e cooperação com os nazistas. Muitos dos
oficiais do Exército Vermelho nada deviam a Stálin (e seu Partido),
e assim poderiam não ser suficientemente 'leais' ao Ditador.

Um resumo (na Wikipedia)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Expurgo


A causa? Foi um suposto 'dossiê' da GESTAPO a revelar a
cooperação entre Tukhachevski e o Estado-Maior alemão. Além,
da ameaça de 'trotskismo' que os 'stalinistas', da nova Elite,
a Nomenklatura, não perdoaria.

Tukhachevsky foi um dos primeiros a serem presos e mortos.
Ele e mais sete generais foram julgados e fuzilados nos dias
11 e 12 de junho de 1937.” E “por volta do outono de 1938,
como resultado de execuções sumárias e de aparatosos
julgamentos falsos, o Exército Vermelho perdera quase metade
dos seus oficiais: 3 dos 5 marechais; 13 dos 15 comandantes
de Exército; 57 dos 85 comandantes de Corpo; 110 dos 195
comandantes de Divisão e 220 dos 406 comandantes de Brigada
.”
(fonte: KEEGAN, John. Barbarossa. 1970. Renes: RJ, 1974)

Dos novos comandantes, todos desfrutavam da proteção de
Stálin: Buddeny, Timoshenko, Kulik (o sucessor de Tukhachevsky)
e Zhukov (herói do conflito contra os japoneses na Sibéria). A
mudança na liderança mudou a estratégia geral do Exército
Vermelho.

Enquanto Tukhachevsky defendia a formação concentrada de
blindados, o sucessor Kulik preferia a distribuição de blindados
em pequenas unidades, junto a infantaria. Quais as consequências?
Mudanças de estratégia, de liderança, de coordenação. Falta de
novos oficiais com experiência. Tudo isso foi explicitamente sentido
na ofensiva de novembro de 1939 contra as forças de defesa
finlandesas no Carelian Isthmus (Istmo de Carélia)

O expurgo realizado por Stálin praticamente decapitou o Exército
Vermelho e os efeitos disso só se fizeram sentir nos anos críticos
que se seguiram, como o testemunham os desastres havidos na
Finlândia e a derrocada inicial diante do ataque alemão, em junho
de 1941.”

(fonte: CHANEY Jr., Otto Preston. Zhukov. 1974.
Renes: RJ, 1976)

Como os líderes ocidentais enxergavam o Exército Vermelho após
o Expurgo? Da mesma fonte (CHANEY, 1974), “
O expurgo
sangrento levado a efeito por Stálin teve ainda outras consequências,
pois levantou sérias dúvidas, entre os aliados e amigos da União
Soviética, a respeito da capacidade combativa do Exército Vermelho.
Em 1939, generais franceses e ingleses, presentes às manobras
realizadas na URSS, manifestaram-se favoravelmente
impressionados com o que haviam visto. O expurgo serviu para
desfazer aquela impressão, e Winston Churchill, tempos depois,
escreveria dizendo que a depuração levada a cabo apresentou
um quadro da URSS deformado pelo ódio e pela vingança
.”

Assim, em fins de 1939, o Exército Vermelho foi jogado num conflito
(em pleno inverno!) contra os defensores finlandeses (que haviam
derrotado as 'forças vermelhas' em 1918) que, apesar do pequeno
número, agiram mais eficientes contra as tropas russas volumosas
(que sofreram baixas proporcionalmente altas!) (Um dado
populacional: Finlândia: 3,5 milhões de habitantes; URSS:
100 milhões de habitantes!)


A Guerra de Inverno (Winter War) ou Guerra Branca


As tropas soviéticas (Exército Vermelho) avançam em 30 de
novembro de 1939 rumo ao Istmo de Carélia, ao noroeste de
Leningrado, para assegurar a presença soviética no Báltico,
através de bases militares (as mesmas que os finlandeses
recusaram a ceder)

Mas as numerosas tropas russas sofrem a resistência finlandesa
(menos numerosos, agindo em pequenos grupos, cercando
os russos e destruindo as linhas de suprimentos). Assim a primeira
ofensiva (comandada pelo General K. A . Meretskov) fracassou
e mostrou a deficiência de liderança do Exército Vermelho.
Notável a falta de cooperação entre blindados, infantaria e artilharia.
A ofensiva estaciona na linha defensiva finlandesa, a “Linha
Mannerheim


Veremos detidamente no próximo artigo.


Leonardo de Magalhaens
http://leonardomagalhaens.zip.net/

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Guerra Civil Finlandesa (parte 2)





Guerra Civil Finlandesa

Parte 2

Depois do colapso do Império Russo, na Primeira Guerra
Mundial
, e a eclosão da Revolução Russa, depois
Bolchevique, em 1917, os finlandeses conseguiram manter
uma autonomia em relação aos russos. Tanto os conservadores
quanto os social-democratas desejavam uma emancipação
e lutavam por isto. O modelo de governo que seria instaurado
depois, este era o motivo da discórdia.

Em dezembro de 1917, o governo soviético emite um decreto
para garantir a emancipação da Finlândia, em nome do direito
de auto-determinação dos povos. Antes, o próprio Senado
já elabora uma Declaração de Independência, que não
contou com o apoio dos social-democratas (afinal, seriam
mantidos os privilégios dos senhores feudais, latinfundiários,
e burgueses...)


Numa sociedade cindida por estamentos, desigualdade de
riquezas, concentração de terras, dividida entre nacionalistas,
em pró-suecos, pró-germânicos, pró-soviéticos, uma guerra
civil mais do que eclosão dos conflitos, é um trauma que
atravessa gerações, vitimadas por uma guerra entre irmãos,
sangrando a nação.

Em nome de uma autonomia finlandesa, os senadores
(representantes dos conservadores) nada mais do que
deixaram a nação sob influência alemã (o Império do Kaiser
ainda não havia se rendido), enquanto os Vermelhos
(de socialdemocratas a comunistas) aceitavam o apoio
russo soviético – não muito aceito num país que sofrera
tanto com a 'russificação' imposta pelos czares.

Como garantir a independência da Finlândia sem
deixar o país na órbita Alemanha ou da Rússia? Como
criar um Parlamento democrático que represente as
várias forças políticas da nação? Como articular um
diálogo político entre conservadores e democratas,
entre latifundiários e socialistas? A impossibilidade
de agradar a todos – ou a maioria – cria a radicalização
que explode em conflito. Assim cada lado se arma – na
ausência de um exército nacional – em grupos de
Guardas Brancos e Guardas Vermelhos.

Agressões de lado a lado levam à guerra aberta em
janeiro de 1918, principalmente no sul e sudoeste,
principalmente nas cidades industriais, com maiorias
trabalhistas, socialistas e comunistas. A luta de
classes novamente movendo a História.

Os combates


Um conflito entre ricos e pobres, entre classes sociais,
entre visõespolíticas, não um conflito étnico ou religioso,
foi o que caracterizoua Guerra Civil Finlandesa. Os
nacionalistas desejavam uma distância tanto política
quanto ideológica em relação à Rússia, mas os social-
democratas, os socialistas e os comunistas aceitavam
um apoio russo, em nome do 'internacionalismo' do
proletariado. Como sempre aqueles que possuem armas,
os militares, acendem o estopim. Guardas radicalizaram
as lutas de classes, e assim os radicais de Esquerda
também fizeram.

Ambos os grupos em discórdia recorreram ao uso de
armas e o conflito eclodiu em janeiro de 1918, com os
Guardas Brancos acusando os Guardas Vermelhos de
servirem aos interesses russos (uma vez que os militares
não acreditam em qualquer 'internacionalismo'...), e os
mesmo conservadores que contavam com o apoio da
Monarquia Germânica, passaram a 'defender' uma
'república democrática' (o que mostra que 'democracia'
muitas vezes pode não passar de rótulo e propaganda...).

Já os Guardas Vermelhos tinham o apoio dos explorados,
dos assalariados, dos subempregados, dos camponeses,
dos operários, dos intelectuais não vendidos, de todos os
não-proprietários, e que desejavam uma real “república
democrática”, não apenas um slogan populista.

http://es.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_Finlandesa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_civil_finlandesa


Historiografia

Até hoje a historiografia oficial tem dificuldades em nomear
a Guerra Civil Finlandesa que tanto abalou a sociedade
finlandesa, transformada em campo de batalha entre
os imperialistas alemães e suecos, entre os conservadores
latinfundiários e o proletariado, com apoio dos soviéticos.

Outros nomes são usados, de acordo com os interesses, e
as fontes de referência. Tem-se “guerra de libertação”
(vapaussota), ou “guerra de irmãos” (veljessota), e também
“rebelião vermelha” (punakapina), mostrando-se que
90 anos depois do conflito as feridas ainda continuam
abertas.

Segundo dados (nem todos averiguados) cerca 37 mil
foram vitimados – entre armados e desarmados -
com baixas entre voluntários suecos e soviéticos russos.
A Esquerda sofreu mais, ao ser desmembrada, e
massacrada numa campanha de terror, onde morreram
mais Vermelhos em execuções do que em campos de
batalha. (Fontes registram 11 mil mortos em campos
de confinamento/concentração, devido a fome e
maus tratos, além de torturas.)

por Leonardo de Magalhaens
http://leonardomagalhaens.zip.net/


A Literatura retrata a Guerra Civil Finlandesa

O primeiro livro popularmente apreciado na Finlândia sobre a guerra, Hurskas kurjuus
(Devota Miséria), foi escrito pelo vencedor do Prêmio Nobel Frans Eemil Sillanpää em 1919.
Entre 1959 e 1962, Väinö Linna, em sua trilogia Täällä Pohjantähden alla, descreveu a
Guerra Civil e a Segunda Guerra Mundial do ponto de vista das pessoas comuns.
Na poesia, Bertel Gripenberg, que havia se voluntariado para o exército branco, celebrou
sua causa em A Grande Era (em sueco: Den stora tiden), em 1928. Viljo Kajava, que
experimentou os horrores da Batalha de Tampere aos nove anos de idade, apresentou uma
visão pacifista da guerra civil em seus Poemas de Tampere 1918 dos anos 1960. Também
o romance épico de Kjell Westö Där vi en gång gått lida com a guerra civil finlandesa,
seguindo indivíduos e famílias de tanto o lado branco quanto o vermelho, antes, durante
e após o período de guerra.
Fonte: Wikipédia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_civil_finlandesa#cite_ref-62

domingo, 1 de novembro de 2009

A GUERRA CIVIL FINLANDESA (p1)





A Guerra Civil Finlandesa

Introdução


A Guerra Civil Russa (1918-21) e a Guerra Civil Espanhola
(1936-39) são mundialmente conhecidas, profundamente estudadas
e amplamente documentadas. Inspiraram obras-primas da literatura
mundial, tais como “Doutor Jivago” (1958) de Boris Pasternak,
e “Por quem os sinos dobram?” (1940) de Ernst Hemingway.

Mas a Guerra Civil Finlandesa parece ser desconhecida (ou
obscurecida) para os próprios finalndeses. Poucas fontes são
encontradas, e ainda pouquíssimas confiáveis. Muita cópia de cópia.
Bibliografia mínima. Mesmo lendo em inglês, a situação é espinhosa.
A solução foi pesquisar a Literatura sobre a Guerra Civil dos finlandeses.
O autor Väinö Linna é uma referência. Escritor que foi também
participante, esteve nos fronts gélidos, contra civis e militares,
contra finlandeses e russos.

http://es.wikipedia.org/wiki/V%C3%A4in%C3%B6_Linna
http://en.wikipedia.org/wiki/V%C3%A4in%C3%B6_Linna

Linna é autor de “The Unknown Soldier” (1954) e de
Under the North Star” (1959-62), obras que acompanham e
retratam os conflitos entre os finlandeses, e destes contra os russos
(soviéticos), em 1939/1940, e 1941-44, quando as fronteiras da
Finlândia foram deslocadas para leste ou para oeste, após
batalhas desesperadas. Tive acesso aos livros em english,
pouco sei de finlandês (suomi), apesar de ter assistido palestra
sobre o idioma nórdico, que é aparentado ao estônio, ao letônio,
ao turco, ao basco, ao húngaro.

As obras mostram uma visão mais popular, mais 'de esquerda',
que incomoda bastante a versão oficial, dos que venceram
(ou seja, os conservadores, os latifundiários), pois assim
como na Espanha, e muitos países de América Latina, a
Democratização foi feita de cima para baixo, com a derrota
das forças de Esquerda. Mesmo a Social-Democracia não
passando de 'reformismo' (tudo aquilo que as Esquerdas
odiavam nos anos 20 e 30)

continua...


Leonardo de Magalhaens

http://leonardomagalhaens.zip.net/