quarta-feira, 26 de maio de 2010

Retirada Aliada - Operação Dínamo (Dunkirk)





Retirada aliada

Com o fracasso do contra-ataque em Arras, os britânicos logo perceberam que não haveria outra escapatória senão a costa do Canal, e passaram a recuar para Calais, Ostende e Dunkirk.

Enquanto as tropas alemães contornavam o litoral, em avanço por Montreuil e Bologne, até o Estreito de Dover. Completava-se o cerco aos Aliados, prensados contra o litoral. Esse cerco foi inicialmente explorado para efeitos de abater o 'moral' das tropas na defensiva,
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Camarades!
Telle est la situation!
En tout cas, la guerre est finie pour vous!
Vos chefs vont s'enfuir par avion.
A bas les armes!
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British Soldiers!
Look at this map: it gives your true situation!
Your troops are entirely surrounded -
stop fighting!
Put down your arms!
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A leaflet dropped by the German Luftwaffe into the 1st Battalion's area during their retreat from Dunkirk.
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Eis o panfleto alemão jogado nas linhas aliadas, junto a costa do Canal da Mancha (ou Pas de Calais) a dizer aos franceses: “Camaradas! Tal é a situação! De todo modo, a guerra acabou para vocês! Vossos chefes fogem de avião. Abaixem as armas!” e aos britânicos: “Soldados Britânicos! Olhem o mapa: aqui a verdadeira situação! Vossas tropas estão inteiramente cercadas – parem de lutar! Abaixem suas armas!”

O tom dos enunciados é visivelmente diferente: os franceses são os “camaradas”, os franceses são traídos pelos “chefes”, enquanto os “soldados britânicos” recebem um comunicado formal, olhem para o mapa, um dado objetivo e frio. Desde o início os alemães fizeram de udo para dividir o esforço conjunto de franceses e ingleses, velhos inimigos de outras guerras. Os alemães diziam, mordazes, que “os ingleses lutariam até o último francês!” Porque todos sabiam que as forças francesas eram superiores às forças britânicas – e alemães. Maior que o exército francês somente havia o russo, do outro lado do continente.
22-24 de maio – Hitler detem o avanço das vanguardas Panzer
As Panzerdivisionen sob comando de Guderian foram detidas no avanço para Dunkirk. Porque exatamente? Existem várias explicações para esta 'hesitação' ou até mesmo 'erro estratégico'.

O Führer alegava dois motivos: 1/terreno instável, impróprio para o avanço de blindados, que poderiam se atrasar, mais lentos, e sofrerem ataques de flanco. 2/a excessiva vantagem dos Panzer em relação ao resto das tropas – infantaria e artilharia.

Mas alguns historiadores alegam que a decisão do ditador nazista foi mais uma 'tática política', pois ao evitar o total esmagamento das tropas aliadas (principalmente das britânicas), ao deixar que fugissem através do Canal da Mancha, via porto de Dunkirk, o Führer manteria uma possibilidade de negociação com os líderes ingleses. Se era mesmo essa a motivação, então Hitler ainda não estava em 'guerra total'.

No dia 24 de maio, Hitler frustrou, através da ordem de alto, às divisões blindadas a possibilidade de que a Wehrmacht completasse o aniquilamento das forças britânicas. Seu grave erro traria influência decisiva no desenvolvimento posterior da guerra.”
fonte: A Segunda Guerra Mundial . Ed. Codex, 1965.

Em suas Memórias da guerra, “Memoirs of the Second World War”, W. Churchill não menciona qualquer possível 'decisão política' por parte do ditador. Acreditava o Primeiro-ministro nas razões militares: terreno impróprio e avanço dos blindados, sem a infantaria. E acrescenta que a 'honra' de liquidar os aliados fora dada não ao Exército, mas a Aviação [Luftwaffe].

Realmente, o arrogante Göring havia garantido que a Luftwaffe poderia impedir a fuga dos Aliados. Realmente, os estragos causados pelos Stukas foram imensos. Cidade demolida e embarcações afundadas. Mas mesmo assim cerca de 338 mil soldados – britânicos e franceses – foram resgatados de 27 de maio a 4 de junho.

Segundo Churchill, toda a glória recai sobre a eficiência da Royal Air Force RAF, a força aérea britânica, mantendo a defesa aérea, enquanto os mais diferentes tipos e tamanhos de embarcações se aproximavam das praias para o embarque apressado dos soldados, que deixaram todo o equipamento pesado na retaguarda. (Foi realmente impressionante a perda de material bélico dos Aliados.)

28 de maio – a rendição dos belgas do Rei Leopoldo

Com a rendição das tropas belgas, os Aliados perderam todas as posições ao norte – Holanda e Bélgica – e recuaram para a costa do Canal – principalmente Ostende, antes de seguirem para Dunkirk, onde conseguiram embarcar no início de junho. Outras tropas, principalmente francesas, recuaram para o rio Somme, complentando assim a divisão dos Aliados – o que facilitou o avanço da infantaria alemã, logo após os blindados e caças de mergulho (Stukas).
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por Leonardo de Magalhaens

sábado, 22 de maio de 2010

Ofensiva alemã - Rotterdam - Batalha de Arras






Maio de 1940 – Ofensiva no Ocidente

Invasão alemã da Holanda, Bélgica,
Luxemburgo e França
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Em maio de 1940, o noroeste da Europa viu-se sob uma precipitação de fogo e metralha. Mesmo ainda atuando no cenário de guerra nos fiordes da Noruega, o Alto Comando alemão voltou suas atenções para os campos já ensopados de sangue durante a Grande Guerra [depois chamada de Primeira Guerra Mundial, pois de fato iniciava-se a Segunda] com a ofensiva desencadeada pelo Caso Amarelo [Fall Gelb].
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Ofensiva alemã

Em 10 de maio, aviões de transporte da Luftwaffe despejaram tropas de paraquedistas sobre os campos dos Países Baixos [Holanda] e Bélgica, a causarem impacto com semelhante tática – tropas aerotransportadas – enquanto os caças atacavam as linhas defensivas dos exércitos aliados – principalmente os belgas e franceses. Enquanto isso, a Força Expedicionária Britânica (BEF), comandada pelo General Lord Gort (John Vereker, 1886-1946) movia-se para a fronteira holandesa, em movimento de flanco.

De acordo com os planos anteriores dos alemães – sendo que alguns documentos haviam caído antes em mãos da inteligência aliada [em janeiro, na Bélgica, um oficial alemão sofreu um acidente aéreo, e não teve tempo de queimar os documentos que levava consigo, mais detalhes ver “Incidente Mechelen”] - a ofensiva teria um impacto maior sobre os territórios nederlandês e belga, quase uma 'repetição' do Plano Schlieffen [aquele da Grande Guerra], o que levou a uma concentração de tropas aliadas ao norte.

Contudo, as forças blindadas [Panzerdivisionen], sob o comando do General Guderian [1888-1954] visavam atravessar uma área de difícil acesso, a grande Floresta das Ardenas ['Ardennes' ou 'massif ardennais'], rumo ao rio Meuse e na direção da cidade francesa de Sedan [local célebre pela derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana de 1870]. Assim, poderiam sair na área francesa em local não esperado – e portanto debilmente defendido.

Foi o que aconteceu! Enquanto os aliados corriam para o norte – Países Baixos e Bélgica – os alemães davam uma outra volta, no meio de uma região inóspita, e saíam num ponto estratégico a sudeste ! Tudo fazia parte de um outro plano do Alto Comando alemão, apresentado pelo oficial Manstein e adaptado pelas 'intuições' do ditador Hitler. O Plano Manstein [que Churchill chamava de 'sickle cut', 'golpe de foice', 'coup de faucille', Sichelschnitt] apresentava um 'arco' inverso ao de Schlieffen – pois partia do noroeste seguia para o oeste e desviava para o norte, até as costas do Canal da Mancha.

O que provocou? O envolvimento das tropas aliadas. Pois enquanto se moviam para o norte, as vanguardas dos franceses e dos britânicos não percebia um movimento na retaguarda. Manobra que poderia isolar as tropas das bases no Canal e da capital francesa, Paris. Este movimento somente poderia ser evitado de duas formas – ou ambos os modos juntos – com o ataque para o sul, para dispersar as vanguardas alemãs (basicamente de blindados, e pouca infantaria) e bombardear aéreo contra as linhas de abastecimento das tropas alemãs.

Mas veremos que os aliados – apesar de manobrarem com tanques tão potentes quanto os germânicos – não conseguiram estabelecer uma tática conjunta para fazer uma 'cunha' entre as tropas invasoras. E quanto aos aviões, realmente os aliados não poderiam contrabalancear a força inicial da Luftwaffe, com seus quase 6 mil aeroplanos – bombardeiros e caças, com destaque para os enormes Heinkel, os transportes Junkers , os caças Messerschmitt e os bombardeios de mergulho Stukas (Junkers JU 87).
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O Bombardeio de Rotterdam
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A desprotegida cidade portuária holandesa de Rotterdam foi severamente atacada entre 10 e 14 de maio de 1940, com a invasão das tropas aerotransportadas, sob o comando do General Kurt Student [1890-1978].

Os comandantes alemães ameaçaram os holandeses com promessas de terrível destruição, visando assim acelerar a rendição dos Países Baixos. Conseguiram a rendição, mas não desistiram de mostrar 'força da guerra moderna', e Rotterdam seria condenada – como um 'aviso' aos inimigos da supremacia nazista!

Após vencerem em Rotterdam, em 14 de maio, as tropas alemãs ocuparam os arredores, enquanto um esquadrão de bombardeios preparava um dos maiores ataques já testemunhados pelas populações civis – únicos paralelos eram ainda Guernica [abril de 1937] e Warsaw [Varsóvia, setembro de 1939]
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imagens de Rotterdam arrasada
em http://www.zum.de/whkmla/documents/rotterdam/xrotterdam1940.html
video sobre a invasão da Holanda (Países Baixos)
http://www.youtube.com/watch?v=SSycLky3zGs&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=iJQL8qXAXoA&feature=related
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Contra-ofensiva aliada – A Batalha de Arras
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Enquanto as tropas alemãs seguiam a toda velocidade para o Canal da Mancha, os aliados – principalmente os britânicos, trataram logo de frear ou dividir as tropas invasoras. Assim, os blindados comandados pelo General Rommel [ainda não celebrizado, tendo no currículo a derrota dos italianos na Batalha de Caporetto, outubro-novembro de 1917, durante a Grande Guerra ] enfrentaram tropas britânicas com reforço blindado [tanks Matilda] nos arredores de Arras, cidade francesa já celebrizada por tanto sangue derramado na Primeira Guerra Mundial [abril-maio 1917; e agosto 1918 ].

Realmente foi uma 'batalha de tanques' onde os panzers enfrentaram os Matilda e os alemães somente conseguiram vencer quando usaram canhões de artilharia anti-aérea [88 mm Flak] apontados para os tanques britânicos! [Lição aprendida e aplicada pelas tropas do Afrika Korps um ano depois...]

“Os tanques britânicos conseguiram superar facilmente as unidades da vanfuarda de Rommel e destruíram as baterias antitanques, que tentaram deter seu avanço. Os canhões alemães eram de calibre reduzido e não podiam perfurar as grossas couraças dos tanks Matilda, alguns dos quais chegaram a receber até 15 impactos, sem sofrer danos. Diante dessa crítica situação, Rommel ordenou o fogo de poderosos canhões antiaéreos de 88 mm, que conseguiram paralisar o avanço dos tanks. Mas, os alemães já haviam perdido cerca de 500 soldados, 40 tanks e uma centena de caminhões.

Ao cair da tarde, o general Martel ordenou que suas forças se entrincheirassem em duas localidades distantes alguns quilômetros de Arras. Logo em seguida, a Luftwaffe lançou um ataque de esquadrilhas Stukas e, mediante bombardeio incessante e demolidor, conseguiu desalojar os britânicos das suas posições. Era o momento que Rommel aguardava. Rapidamente, movimentou os seus veículos blindados e atacou em campo aberto as forças inglesas em retirada, infligindo-lhes perdas sangrentas. Ao cair da noite, a batalha havia terminado. Os ingleses se encontravam novamente em Arras, seu ponto de partida.”

fonte: A Segunda Guerra Mundial. Ed. Codex, 1965.
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por Leonardo de Magalhaens
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fontes:
Grandes Crônicas da Segunda Guerra Mundial.
Rio de Janeiro, Seleções Reader's Digest, 1969, 3v.
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CHURCHILL, Winston. “Memoirs of The Second World War”. 1959
(“Memórias da Segunda Guerra Mundial”, 1995,
trad. Vera Ribeiro. Nova Fronteira, 1995 )
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McINNIS, Edgar. História da II Guerra Mundial - 1939-1945.
6v. Porto Alegre, Globo, 1956.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Avanço das tropas do III Reich






A política externa do III Reich

Uma das indecisões dos líderes nazistas era 'para onde as tropas deveriam avançar?'

Os prussianos queriam um avanço para o Leste, rumo ao Báltico e a Ucrânia. Este 'impulso para o Leste' (Drang nach Osten) era defendido pelo ideólogo Alfred Rosenberg, pois o povo alemão precisaria expandir-se, e assim garantir um 'espaço vital' (Lebensraum).

Já os bávaros e austríacos eram favoráveis a uma intervenção nos Balcãs, onde antes havia a influência do extinto Império Austro-Húngaro, ainda a despertar 'saudades' em muitos conservadores.

Outros eram mais moderados. Ribbentrop defendia a política de uma 'hegemonia europeia', mas sem chegar a uma guerra com os ingleses e os russos, e muito menos com os norte-americanos.

Outros viam a 'força militar' apenas como 'pressão' sobre as outras nações. Goebbels e Göring queriam a ameaça das armas para manter e expandir conquistas na política externa.

Assim, antes de qualquer coisa, o ditador A. Hitler precisaria tentar conciliar todas as orientações, para saber onde empregar as tropas germânicas. Assim fez usando diplomacia e ameaças para expandir as fronteiras alemãs na Europa Central (até setembro de 1939) e avançou para os Balcãs em 1940/41, até invadir as repúblicas bálticas, a Ucrânia e a Rússia, em junho de 1941.

Mas o Führer não queria atacar todos ao mesmo tempo. Queria um 'acordo' com a Grã-Bretanha, para então ter 'força total' contra a URSS. Não contava com atacar em todos os 'teatros de guerra' ao mesmo tempo!

Como seria possível um acordo entre nazistas e britânicos, se o primeiro-ministro era Churchill, tão anti-nazista quanto anticomunista? Historiadores dizem que Hitler queria explorar uma 'possível brecha' entre Churchill e o Ministério do Exterior, assim como Stálin explorava a oposição comunista alemã (em Moscou) contra os nazistas. Era uma político do tipo 'quinta-coluna'.

A ofensiva no Oeste seria também uma forma de pressionar (e neutralizar) os franceses e ingleses, no sentido de evitarem um 'golpe pelas costas' quando os exércitos alemães invedissem a vastidão das estepes ucranianas e russas. Não parece haver qualquer planejamento 'sério' para uma invasão concentrada das ilhas britânicas em 1940. Os ataques aéreos visavam mais 'quebrar a moral' do povo inglês – de modo a levá-lo a pressionar o governo Churchill para 'fazer a paz' – do que realmente ser a 'vanguarda' de uma invasão. Se realmente estava nos planos de Hitler uma invasão da Inglaterra, o melhor momento em junho e julho, não setembro e outubro de 1940.

Churchill fez pouco para encorajar a resistência alemã (os conservadores da nobreza e alguns militares, e uns poucos 'democratas'), contudo, fez tudo para que Hitler acreditasse que havia um 'Partido pela Paz', anti-Churchill na Grã-Bretanha.

Por Leonardo de Magalhaens
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Fontes: LUKACS, John. O duelo: Churchil X Hitler. 1991
KILZER, Louis C. A Farsa de Churchill. 1994

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Churchill, o Primeiro-Ministro, assume a Guerra





Churchil – O Lorde da Guerra
Ronald Lewin
Biblioteca do Exército Editora / 1979.
trad. Cel. Álvaro Galvão
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“Na véspera da sua nomeação [de Churchill] ocorreu um episódio que lançou dúvidas sobre a estabilidade e a justeza do seu julgamento: a campanha da Noruega. Chamberlain arcou com toda a culpa por este fracasso – e com razão; como Primeiro-Ministro, cabia-lhe manter um controle firme sobre todas as ações, mas, no caso da Noruega, não soube assumir o controle de uma operação combinada e, assim, conservar Churchill no seu devido lugar. Entretanto, como já era evidente naquela época, e ficou devidamente comprovado desde então, a maior parte dos grandes erros – erros na estratégia e na tática, erros de organização fáceis de evitar – ocorreram por culpa de Churchill. De cabeça quente, desnorteado e interferindo em tudo, o Primeiro Lorde do Almirantado parecia ter que embaralhar as coisas. No princípio, parece que houve grande dúvida tanto em Whitehall como em Westminster [expressão equivalente a 'no Governo e no Congresso', N. do T.] sobre a sua fidedignidade. Ismay, que logo iria se tornar seu adepto fiel, registrou na autobiografia que escreveu a sensação de desalento que se espalhou pelos estados-maiores das diversas forças armadas quando foi anunciada a nomeação de Churchill. Colville chega a ser rude a este respeito: “Em maio de 1940, a simples ideia de Churchill como Primeiro-Ministro provocava arrepios na espinha dos assessores em Downing Street 10. Os sentimentos ali existentes eram compartilhados pelos gabinetes dos ministros e pelos parlamentares.”


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pp. 24/25

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Churchill possuía diversas inaptidões para um Grande Comandante – inaptidões tanto intelectuais como temperamentais. Só parece justo admiti-las e relacioná-las depois de tentar uma avaliação do seu desempenho naquele papel, pois foi bem-sucedido apesar das inaptidões. Os defeitos do caráter de Hitler tiveram importância fundamental; os de Churchill, importância periférica. As imperfeições não atingiram o cerne do seu poder. E ele contava com qualidades notáveis. Ao assumir a função de Primeiro-Ministro, Churchill chegou a ela com as mãos limpas; mesmo aos olhos dos seus adversários, ele estava isento do pecado de apaziguamento. Além disto, em comparação com Roosevelt, ou com os ditadores, Churchill desfrutava de uma outra vantagem enorme. Seu campo de ação era o mundo. Dentro dele podia viajar livremente, locomover-se, como ele fazia magistralmente, toda vez que julgasse necessário.

Em virtude da sua posição especial, o Presidente dos Estados Unidos jamais conseguiu, como Churchill, pular pelos continentes em esforços improvisados para desatar os nós górdios. (Hitler, por sua vez, fechava-se em seu posto de comando, enquanto Stalin deixava-se enclausurado em Moscou.) E havia uma outra vantagem para Churchill, o Grande Comandante. Sua função constitucional não o impedia de visitar os locais de combate. (*) Sua presença constituiu uma inspiração para o combatente, pois ele esteve na sala de controle dos caças em 1940, no deserto egípcio, na parada triunfal em Trípoli, nas praias da Normandia, ao largo do litoral da França e na transposição do reno. Hitler dirigia a sua guerra pela mística, Stálin pelo terror e Churchill pela simpatia.
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*Nota: “Com o correr do tempo, infelizmente Hitler visitava a frente cada vez com menos frequência; na última fase, não apareceu mais. Assim, perdeu o contato com a tropa e não mais conseguia compreender o que ela sentia e sofria.” (Guderian, em “Panzer Lider”)
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pp. 34/35

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Churchill – o Lorde da Guerra





LdeM

sábado, 8 de maio de 2010

Noruega - Duelo Churchill versus Hitler





John Lukacs (1924- )
O Duelo Churchill X Hitler (2002)
[The Duel: The Eighty-Day Struggle
Between Churchill & Hitler
, 1990)
trad. Claudia Martinelli Gama
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(Operações militares na Escandinávia) p.28

Então surgiu um obstáculo [às negociações com a Grã-Bretanha] – mas um obstáculo que posteriormente aumentaria seu prestígio militar. Os britânicos e os franceses – logo veremos como e por que – estavam tentando abrir outra frente contra a Alemanha distante do oeste, no norte, provavelmente na Noruega. No outono anterior, após a Polônia, o Almirante Raeder começou a conversar com Hitler sobre a necessidade de ocupar a Noruega. Mas Hitler recusou. Só em março de 1940 se decidiu por um plano rápido e ousado, a fim de impossibilitar que os britânicos conseguissem uma pequena base na Noruega, para se antecipar a eles. Em 1 de abril, o almoço na Chancelaria, em Berlim, foi servido um pouco mais tarde do que de costume. Os generais reuniram-se em torno de Hitler. Suas palavras foram registradas no Diário de Guerra do Alto Comando do Exército. Elas nos revelam muito sobre a sua intenção e confiança na época. O Führer

descreve esta iniciativa [codinome “Weserübung”] não só como especialmente ousada, mas como uma das 'operações mais atrevidas' da história militar moderna. Exatamente por esse motivo [grifos meus] ele vê aí um dos fatores básicos do seu sucesso.

...Ele, o Führer, não é um homem que se esquive a decisões e lutas necessárias deixando-as para seus sucessores... Todas essas circunstâncias mostram que a situação da Alemanha é muito favorável, ela não poderia ser melhorada nos anos vindouros.

Ele próprio possui a coragem exigida para tal luta, ele também conhece pessoalmente quase todos os seus inimigos e os considera inexpressivos. Ele acha que sua personalidade é muito superior à deles.

Seu principal adversário na campanha norueguesa era Churchill. Ali, Hitler sem dúvida levou a melhor sobre ele. Assim, Hitler tinha razão para estar tão confiante em 10 de maio quanto estava em 1 de abril – se não ainda mais. Provavelmente, essa foi também a razão por que, naquele dia, ele parece ter prestado relativamente pouca atenção à notícia de que Churchill se tornara o primeiro-ministro britânico.



[Conflitos nas águas e terras nórdicas] p. 35 /36

Mas a guerra finlandesa ainda não terminara quando ocorreu um primeiro prelúdio do duelo, um incidente cujos encadeamentos iriam conduzir ao fatídico 10 de maio, quando principiou o duelo para valer entre Hitler e Churchill. Esse episódio envolveu não a Finlândia, mas a Noruega. Envolveu não carregamentos de minério de ferro, mas um choque de navios. O Altmark era um navio de abastecimento alemão, que transportava no porão marinheiros britânicos, prisioneiros, que haviam sido salvos e recolhidos pelo Graf Spee durante suas incursões iniciais no Atlântico Sul e, depois, transferidos para o Altmark. O Altmark avançava lentamente para o sul em águas territoriais norueguesas, dirigindo-se para um porto alemão. Churchill mandou um contratorpedeiro britânico segui-lo, atacá-lo, tomá-lo. Isso aconteceu em 16 de fevereiro, em Jössingford. (Depois disso, Vidkun Quisling e seus seguidores pró-alemães na Noruega chamariam os compatriotas pró-ingleses de “Jössingers”.) A abordagem foi rápida e bem-sucedida. Os prisioneiros britânicos no porão ouviram o brado dos seus libertadores: “A Marinha está aqui!” Esse pequeno drama reverteu em benefício de Churchill. Mas fez Hitler ficar alerta e alterar os planos. Ele estava então convencido de que Churchill queria apoderar-se da Noruega. Muito bem: se anteciparia a Churchill. Três dias após o episódio do Altmark, convocou o general Nikolaus von Falkenhorst. Em 1918, esse general havia comandado o desembarque de uma pequena força alemã na Finlândia. Hitler disse a Falkenhorst: “Sente-se e conte-me o que fez.” O general explicou. Em seguida, enquanto andava de um lado para o outro, Hitler apresentou a Falkenhorst uma lista muito impressionante de razões por que tinha de ser a Noruega. (A proteção das importações de minério de ferro era o item final e o menos importante em sua lista.) Em 1 de março – a guerra finlandesa ainda não havia terminado -, Hitler ordenou que a invasão da Dinamarca e da Noruega passasse a ter precedência sobre a campanha da Europa ocidental.

É importante reconhecer que Churchill fizera o primeiro rascunho (um curto memorando) acerca da colocação de minas nas águas costeiras da Noruega já em 27 de novembro de 1939 – ou seja, antes de irromper a guerra finlandesa. A Marinha real distribuiria minas nas águas norueguesas quer o governo norueguês as quisesse, quer não. Se os alemães se apresentassem para lutar (e Churchill esperava que assim fizessem), a marinha estaria lá em condições de derrotá-los, e então os britânicos se apossariam dos principais portos da Noruega. Assim, a Guerra Relutante [a Drôle de Guerre] evoluiria para algo importante e efetivo. O teatro da guerra se estenderia até a Noruega,onde a marinha deveria levar vantagem.

Foi só depois de complexas e cansativas negociações que, no início de abril, os gabinetes britânico e francês tomaram a decisão de acordo com a vontade de Churchill. Churchill estava então encarregado da questão norueguesa. Na realidade, estava mais envolvido no efetivo planejamento naval do que Hitler. Além disso – algo com frequência desconsiderado pelos historiadores e biógrafos -, o início de abril correspondia a uma fase em que a harmonia e a colaboração entre ele e Chamberlain haviam atingido o ponto máximo. Em 4 de abril, Downing Street anunciou que, dali em diante, o ministro da Marinha dirigia o Comitê de Coordenação Militar, que incluía os chefes do estado-maior. “Entre outros ministros militares, que também integravam o Ministério da Guerra, eu era o 'principal entre iguais'”, escreveu Churchill em suas memórias de guerra. Em seguida, esforçou-se para explicar que “eu não tinha, entretanto, poder para tomar ou fazer cumprir decisões”. O alto comitê era, afinal, ainda assim um comitê, um “grupo variável e amistoso, mas disperso”. Tudo isso era verdade, mas a responsabilidade pela campanha norueguesa ainda cabia a ele.

Em 5 de abril, Chamberlain falou na Câmara dos Comuns. Sobre Hitler, ele disse: “Uma coisa é certa: ele perdeu o trem.” Essa frase infeliz iria em breve atormentá-lo. (*) No final do dia 7, começou a colocação de minas britânicas ns águas norueguesas. Ao longo do dia 8, começaram a multiplicar-se as notícias sobre um movimento de uma frota alemã em direção ao norte. Em meio a uma borrasca, uma força maior e mais potente da marinha real se dirigiu para a Noruega. Alguns dos navios transportavam algumas unidades britânicas que desembarcariam na Noruega quando fosse necessário. Eles perderam o trem alemão – ou melhor, a frota alemã. Ao amanhecer do dia 9, as tropas alemãs invadiram a Dinamarca e desembarcaram em Copenhague, capturando a capital, o governo e o rei. Ao mesmo tempo – essa era a operação 'atrevida' -, desembarcaram em vários portos da Noruega, inclusive Narvik no extremo norte, onde ninguém, inclusive Churchill, esperara que chegassem.

(*)Não que Churchill não houvesse dito tolices. Na Câmara dos Comuns, em 11 de abril: “Na minha opinião, que é compartilhada pelos meus experientes conselheiros, Herr Hitler cometeu um sério erro estratégico... Quanto a mim, considero que a ação de Hitler ao invadir a Escandinávia é um erro estratégico e político tão grande quanto o que foi cometido por Napoleão em 1807, quando invadiu a Espanha.”
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John Lukacs (1924- )
O Duelo Churchill X Hitler (2002)
[The Duel: The Eighty-Day Struggle
Between Churchill & Hitler
, 1990)
trad. Claudia Martinelli Gama
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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Retirada aliada na Escandinávia - 4 maio 1940

Diário de Berlim
William Shirer

trad. Alfredo C. Machado


1940

BERLIM, 4 de maio


Os ingleses acabam de efetuar uma retirada desordenada de Namsos, ao norte de Trondheim, completando assim o fracasso do auxílio aliado aos noruegueses, na parte central do país.

Onde estava a Home Fleet, que Churchill há quinze dias anunciou que varreria os alemães das águas norueguesas? Hoje assisti a um noticiário cinematográfico alemão. Mostrava as tropas nazistas efetuando o desembarque de tanques e artilharia pesada em Oslo. Com exceção do emprego de submarinos, aliás em pequeno número, parece que os Aliados não fizeram nenhum esforço realmente sério para impedir a chegada de suprimentos alemães à Noruega, via Oslo. Nem sequer chegaram a arriscar seus destroyers nas águas do Skagerrak e do Kattegat, para não falar nos cruzadores e couraçados.


Será que nesta curta campanha norueguesa o poder aéreo demonstrou a sua superioridade sobre o poder moral? Pelo menos nas batalhas desenroladas nas proximidades dos campos de pouso? Em 1914-1918, uma ofensiva alemã como a que acaba de acontecer estaria fora de cogitações. Mas, com a Luftwaffe controlando os campos de pouso da Dinamarca e da Noruega, a esquadra aliada não somente não se aventurou até as águas do Kattegat, a fim de sustar a remessa de tropas e suprimentos alemães para Oslo, como nem sequer tentou entrar em ação em Trondheim, Bergen ou Stavanger, com a única exceção do bombardeio do aéredromo deste último porto, que se prolongou por 80 minutos, logo no início da campanha. Os alemães agora já afirmam que a aviação demonstrou a sua superioridade sobre a marinha.

Façamos a resenha da situação: os aviões de Göring conseguiram realizar quatro façanhas de importância vital nessa campanha da Noruega:


(1)Mantiveram a rota marítima de Oslo, através das águas do Kattegat, completamente livre das unidades inglesas, permitindo que o grosso das tropas alemãs de terra fosse bem suprido de homens, artilharia e tanques.
(2)Impediram (ou conseguiram desencorajar) a Home Fleet de atacar os portos de Stavanger, Bergen e Trondheim, de importância vital para os nazistas.
(3)Com o bombardeio constante dos portos aliados de desembarque, tornaram quase impossível para os ingleses efetuar o desembarque de artilharia pesada e tanques, fato que, aliás, foi admitido pelo próprio Chamberlain.
(4)Com o bombardeio e o metralhamento das posições inimigas tornaram extremamente fácil às tropas alemãs o avanço através de um território cheio de dificuldades.
Noutras palavras, revolucionaram completamente a guerra, tanto no próprio Mar do Norte como nas suas vizinhanças.


(...)

W. Shirer


Comentário meu: Em outros trechos do Diário de Berlim, o jornalista norte-americano William Shirer demonstra o quanto a Aviação nazista – Luftwaffe – era eficiente em apoiar as forças terrestres do Exército alemão e ao mesmo tempo atacar as posições de resistência dos exércitos aliados (poloneses, ingleses, franceses, belgas, holandeses, principalmente). Durante a campanha na França, Shirer classifica de 'criminosa' a política dos Aliados de não investirem no desenvolvimento da aviação, “Que preço a Inglaterra e a França estão agora pagando pela criminosa negligência em que deixaram a sua aviação!” (AACHEN, 21 de maio [1940])

por Leonardo de Magalhaens
http://escritospoliticoslm.blogspot.com