sábado, 8 de maio de 2010

Noruega - Duelo Churchill versus Hitler





John Lukacs (1924- )
O Duelo Churchill X Hitler (2002)
[The Duel: The Eighty-Day Struggle
Between Churchill & Hitler
, 1990)
trad. Claudia Martinelli Gama
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(Operações militares na Escandinávia) p.28

Então surgiu um obstáculo [às negociações com a Grã-Bretanha] – mas um obstáculo que posteriormente aumentaria seu prestígio militar. Os britânicos e os franceses – logo veremos como e por que – estavam tentando abrir outra frente contra a Alemanha distante do oeste, no norte, provavelmente na Noruega. No outono anterior, após a Polônia, o Almirante Raeder começou a conversar com Hitler sobre a necessidade de ocupar a Noruega. Mas Hitler recusou. Só em março de 1940 se decidiu por um plano rápido e ousado, a fim de impossibilitar que os britânicos conseguissem uma pequena base na Noruega, para se antecipar a eles. Em 1 de abril, o almoço na Chancelaria, em Berlim, foi servido um pouco mais tarde do que de costume. Os generais reuniram-se em torno de Hitler. Suas palavras foram registradas no Diário de Guerra do Alto Comando do Exército. Elas nos revelam muito sobre a sua intenção e confiança na época. O Führer

descreve esta iniciativa [codinome “Weserübung”] não só como especialmente ousada, mas como uma das 'operações mais atrevidas' da história militar moderna. Exatamente por esse motivo [grifos meus] ele vê aí um dos fatores básicos do seu sucesso.

...Ele, o Führer, não é um homem que se esquive a decisões e lutas necessárias deixando-as para seus sucessores... Todas essas circunstâncias mostram que a situação da Alemanha é muito favorável, ela não poderia ser melhorada nos anos vindouros.

Ele próprio possui a coragem exigida para tal luta, ele também conhece pessoalmente quase todos os seus inimigos e os considera inexpressivos. Ele acha que sua personalidade é muito superior à deles.

Seu principal adversário na campanha norueguesa era Churchill. Ali, Hitler sem dúvida levou a melhor sobre ele. Assim, Hitler tinha razão para estar tão confiante em 10 de maio quanto estava em 1 de abril – se não ainda mais. Provavelmente, essa foi também a razão por que, naquele dia, ele parece ter prestado relativamente pouca atenção à notícia de que Churchill se tornara o primeiro-ministro britânico.



[Conflitos nas águas e terras nórdicas] p. 35 /36

Mas a guerra finlandesa ainda não terminara quando ocorreu um primeiro prelúdio do duelo, um incidente cujos encadeamentos iriam conduzir ao fatídico 10 de maio, quando principiou o duelo para valer entre Hitler e Churchill. Esse episódio envolveu não a Finlândia, mas a Noruega. Envolveu não carregamentos de minério de ferro, mas um choque de navios. O Altmark era um navio de abastecimento alemão, que transportava no porão marinheiros britânicos, prisioneiros, que haviam sido salvos e recolhidos pelo Graf Spee durante suas incursões iniciais no Atlântico Sul e, depois, transferidos para o Altmark. O Altmark avançava lentamente para o sul em águas territoriais norueguesas, dirigindo-se para um porto alemão. Churchill mandou um contratorpedeiro britânico segui-lo, atacá-lo, tomá-lo. Isso aconteceu em 16 de fevereiro, em Jössingford. (Depois disso, Vidkun Quisling e seus seguidores pró-alemães na Noruega chamariam os compatriotas pró-ingleses de “Jössingers”.) A abordagem foi rápida e bem-sucedida. Os prisioneiros britânicos no porão ouviram o brado dos seus libertadores: “A Marinha está aqui!” Esse pequeno drama reverteu em benefício de Churchill. Mas fez Hitler ficar alerta e alterar os planos. Ele estava então convencido de que Churchill queria apoderar-se da Noruega. Muito bem: se anteciparia a Churchill. Três dias após o episódio do Altmark, convocou o general Nikolaus von Falkenhorst. Em 1918, esse general havia comandado o desembarque de uma pequena força alemã na Finlândia. Hitler disse a Falkenhorst: “Sente-se e conte-me o que fez.” O general explicou. Em seguida, enquanto andava de um lado para o outro, Hitler apresentou a Falkenhorst uma lista muito impressionante de razões por que tinha de ser a Noruega. (A proteção das importações de minério de ferro era o item final e o menos importante em sua lista.) Em 1 de março – a guerra finlandesa ainda não havia terminado -, Hitler ordenou que a invasão da Dinamarca e da Noruega passasse a ter precedência sobre a campanha da Europa ocidental.

É importante reconhecer que Churchill fizera o primeiro rascunho (um curto memorando) acerca da colocação de minas nas águas costeiras da Noruega já em 27 de novembro de 1939 – ou seja, antes de irromper a guerra finlandesa. A Marinha real distribuiria minas nas águas norueguesas quer o governo norueguês as quisesse, quer não. Se os alemães se apresentassem para lutar (e Churchill esperava que assim fizessem), a marinha estaria lá em condições de derrotá-los, e então os britânicos se apossariam dos principais portos da Noruega. Assim, a Guerra Relutante [a Drôle de Guerre] evoluiria para algo importante e efetivo. O teatro da guerra se estenderia até a Noruega,onde a marinha deveria levar vantagem.

Foi só depois de complexas e cansativas negociações que, no início de abril, os gabinetes britânico e francês tomaram a decisão de acordo com a vontade de Churchill. Churchill estava então encarregado da questão norueguesa. Na realidade, estava mais envolvido no efetivo planejamento naval do que Hitler. Além disso – algo com frequência desconsiderado pelos historiadores e biógrafos -, o início de abril correspondia a uma fase em que a harmonia e a colaboração entre ele e Chamberlain haviam atingido o ponto máximo. Em 4 de abril, Downing Street anunciou que, dali em diante, o ministro da Marinha dirigia o Comitê de Coordenação Militar, que incluía os chefes do estado-maior. “Entre outros ministros militares, que também integravam o Ministério da Guerra, eu era o 'principal entre iguais'”, escreveu Churchill em suas memórias de guerra. Em seguida, esforçou-se para explicar que “eu não tinha, entretanto, poder para tomar ou fazer cumprir decisões”. O alto comitê era, afinal, ainda assim um comitê, um “grupo variável e amistoso, mas disperso”. Tudo isso era verdade, mas a responsabilidade pela campanha norueguesa ainda cabia a ele.

Em 5 de abril, Chamberlain falou na Câmara dos Comuns. Sobre Hitler, ele disse: “Uma coisa é certa: ele perdeu o trem.” Essa frase infeliz iria em breve atormentá-lo. (*) No final do dia 7, começou a colocação de minas britânicas ns águas norueguesas. Ao longo do dia 8, começaram a multiplicar-se as notícias sobre um movimento de uma frota alemã em direção ao norte. Em meio a uma borrasca, uma força maior e mais potente da marinha real se dirigiu para a Noruega. Alguns dos navios transportavam algumas unidades britânicas que desembarcariam na Noruega quando fosse necessário. Eles perderam o trem alemão – ou melhor, a frota alemã. Ao amanhecer do dia 9, as tropas alemãs invadiram a Dinamarca e desembarcaram em Copenhague, capturando a capital, o governo e o rei. Ao mesmo tempo – essa era a operação 'atrevida' -, desembarcaram em vários portos da Noruega, inclusive Narvik no extremo norte, onde ninguém, inclusive Churchill, esperara que chegassem.

(*)Não que Churchill não houvesse dito tolices. Na Câmara dos Comuns, em 11 de abril: “Na minha opinião, que é compartilhada pelos meus experientes conselheiros, Herr Hitler cometeu um sério erro estratégico... Quanto a mim, considero que a ação de Hitler ao invadir a Escandinávia é um erro estratégico e político tão grande quanto o que foi cometido por Napoleão em 1807, quando invadiu a Espanha.”
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John Lukacs (1924- )
O Duelo Churchill X Hitler (2002)
[The Duel: The Eighty-Day Struggle
Between Churchill & Hitler
, 1990)
trad. Claudia Martinelli Gama
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