Diário de Berlim
W Shirer
Trad. Alfredo C. Machado
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BERLIM, 27 de junho [1940]
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“Um retrospecto dos acontecimentos.
Devo fazer algumas reservas. Ainda é demasiadamente cedo para saber tudo que se passou. Ademais, não foi possível observar tudo. De forma alguma.
Entretanto, pelo que vi na Bélgica e na França e pelo que depreendi das conversas cm franceses e alemães nos dois países, bem como com os prisioneiros franceses, belgas e ingleses que encontramos pelas estradas, parece-me inteiramente claro que:
A França não lutou.
Se o fez, existem poucas provas. Não somente eu, mas muitos de meus amigos foram e voltaram da fronteira alemã até Pari, percorrendo as principais estradas. Entretanto, nenhum de nós pôde observar qualquer sinal de uma luta séria.
Os campo da França estão intactos. Não houve a menor luta ao longo de uma linha bem defendida. O Exército Alemão limitou-se a avançar pelas estradas. Mesmo nessas estradas, são poucas as provas de que os franceses tenham feito mais que aborrecer um pouco o inimigo. E mesmo isso só foi feito nas cidades e aldeias. De fato, o que fizeram foi realmente importunar, retardar um pouco a marcha alemã. Não se registrou nenhuma tentativa de fincar pé numa linha de defesa, para depois desfechar um contra-ataque bem organizado.
...
D. B., que encontrei em Paris e que assistiu à guerra do lado de lá, chegou à conclusão de que a traição grassou no Exército Francês de alto a baixo – os fascistas no alto, os comunistas embaixo. E tanto de fontes alemãs como francesas ouvi muitas informações sobre a ordem que o Partido Comunista enviou aos seus adeptos para que não lutassem, uma ordem que eles cumpriram à risca...
Muitos prisioneiros franceses afirmam que nunca viram uma batalha. Quando parecia que uma delas estava para começar, vinha a ordem de retirada. Foi essa constante ordem de retirar antes do início da batalha, ou pelo menos antes que a batalha estivesse travada, que quebrou a resistência belga.
...
Outro mistério: os alemães afirmam que depois que atravessaram a fronteira franco-belga, de Mauberge a Sedan, continuaram avançando diretamente através da região do Norte da França até o Canal da Mancha, quase sem disparar um tiro. Quando alcançaram o litoral, Boulogne e Calais estavam sendo defendidas sobretudo por tropas britânicas. Todo o Exército Francês parecia paralisado, incapaz de levar adiante a menor ação, de desfechar o mais ligeiro contra-ataque.
De fato, os alemães possuíam absoluta superioridade aérea. É verdade que os ingleses não forneceram a força aérea que podiam e deviam ter fornecido. Nem mesmo isso entretanto explica a débâcle francesa. (...)”
Diário de Berlim
W Shirer
Trad. Alfredo C. Machado
W Shirer
Trad. Alfredo C. Machado
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BERLIM, 27 de junho [1940]
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“Um retrospecto dos acontecimentos.
Devo fazer algumas reservas. Ainda é demasiadamente cedo para saber tudo que se passou. Ademais, não foi possível observar tudo. De forma alguma.
Entretanto, pelo que vi na Bélgica e na França e pelo que depreendi das conversas cm franceses e alemães nos dois países, bem como com os prisioneiros franceses, belgas e ingleses que encontramos pelas estradas, parece-me inteiramente claro que:
A França não lutou.
Se o fez, existem poucas provas. Não somente eu, mas muitos de meus amigos foram e voltaram da fronteira alemã até Pari, percorrendo as principais estradas. Entretanto, nenhum de nós pôde observar qualquer sinal de uma luta séria.
Os campo da França estão intactos. Não houve a menor luta ao longo de uma linha bem defendida. O Exército Alemão limitou-se a avançar pelas estradas. Mesmo nessas estradas, são poucas as provas de que os franceses tenham feito mais que aborrecer um pouco o inimigo. E mesmo isso só foi feito nas cidades e aldeias. De fato, o que fizeram foi realmente importunar, retardar um pouco a marcha alemã. Não se registrou nenhuma tentativa de fincar pé numa linha de defesa, para depois desfechar um contra-ataque bem organizado.
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D. B., que encontrei em Paris e que assistiu à guerra do lado de lá, chegou à conclusão de que a traição grassou no Exército Francês de alto a baixo – os fascistas no alto, os comunistas embaixo. E tanto de fontes alemãs como francesas ouvi muitas informações sobre a ordem que o Partido Comunista enviou aos seus adeptos para que não lutassem, uma ordem que eles cumpriram à risca...
Muitos prisioneiros franceses afirmam que nunca viram uma batalha. Quando parecia que uma delas estava para começar, vinha a ordem de retirada. Foi essa constante ordem de retirar antes do início da batalha, ou pelo menos antes que a batalha estivesse travada, que quebrou a resistência belga.
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Outro mistério: os alemães afirmam que depois que atravessaram a fronteira franco-belga, de Mauberge a Sedan, continuaram avançando diretamente através da região do Norte da França até o Canal da Mancha, quase sem disparar um tiro. Quando alcançaram o litoral, Boulogne e Calais estavam sendo defendidas sobretudo por tropas britânicas. Todo o Exército Francês parecia paralisado, incapaz de levar adiante a menor ação, de desfechar o mais ligeiro contra-ataque.
De fato, os alemães possuíam absoluta superioridade aérea. É verdade que os ingleses não forneceram a força aérea que podiam e deviam ter fornecido. Nem mesmo isso entretanto explica a débâcle francesa. (...)”
Diário de Berlim
W Shirer
Trad. Alfredo C. Machado
Nota minha:
Aqui no Diário de Berlim, W Shirer abre uma problemática que será melhor elaborada na sua obra A Queda da França (Collapse of the Third Republic – a Inquiry into the Fall of France in 1940, publicado em 1969), onde polemiza sobre as 'quintas colunas' (fascistas e comunistas) contra a República democrática, além das novas táticas alemãs – ataque aéreo, paraquedistas, tanques concentrados – contras as velhas táticas doa aliados – preocupados com defesa e contando com uma infantaria sem apoio motorizado e aéreo.
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Por Leonardo de Magalhaens
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