sexta-feira, 4 de junho de 2010

Avanço alemão no Oeste - maio/junho 1940






trechos do DIÁRIO DE BERLIM
de W. Shirer
trad. Alfredo C. Machado
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[1940]

BERLIM, 31 de maio

Parece que a Itália está-se aproximando cada vez mais do dia da decisão – a de entrar na guerra ao lado da Alemanha. Hoje, Dino Alfieri, o Embaixador Italiano, entrevistou-se com Hitler no Quartel-General deste último.

Fazem hoje três semanas que Hitler lançou seus exércitos contra a Holanda, Bélgica, Luxemburgo e França, num desesperado esforço destinado a abater os Aliados de um só golpe. Até aqui, decorridas estas três semanas, somente conseguiu sucesso para as suas Armas. O que lhe custaram esses sucessos em homens e materiais, não o sabemos ainda. Mas, o que se segue é a lista das vantagens obtidas nestes vinte e um dias;

1)Dominou a Holanda e obrigou o Exército Holandês a capitular.
2)Dominou a Bélgica e obrigou o Exército Belga a fazer o mesmo.
3)Avançou pelo extremo sul da Linha Maginot, ao longo de uma frente que se estende por mais de trezentos e vinte quilômetros, de Montmédy a Dunquerque [Dunkirk].
4)Desbaratou os 1º, 7º e 9º Exércitos Franceses, que ficaram inteiramente isolados quando um exército alemão conseguiu abrir caminho entre eles e avançar até o mar.
5)Desbaratou a BEF [Força Expecidionária Britânica], que está também cercada. Uma parte das tropas inglesas, pelo menos, está evacuando de Dunquerque [Dunkirk], a bordo dos seus transportes. Mas como exército a BEF está aniquilada, pois não pode levar na retirada os seus tanques-canhões e suprimentos.
6)Conseguiu conquistar os litorais da Holanda, Bélgica e França, sobre o Canal da Mancha, que lhe servirão de trampolim para uma invasão da Inglaterra.
7)Ocupou as importantes minas de carvão e centros industriais da Bélgica e do norte da França.
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Em minha irradiação [transmissão radiofônica] desta noite, disse o seguinte: “Não resta a menor dúvida de que os alemães venceram um primeiro round feroz. Mas, até agora, ainda não se registrou o nocaute fatal. E a luta continua.

[...]

BERLIM, 4 de junho

Acabou-se a grande batalha da Flandres [região entre França e Bélgica] e de Artois. O Exército Alemão entrou hoje em Dunquerque [Dunkirk], entregando-se o remanescente das tropas aliadas – cerca de quarenta mil homens. O Alto Comando Alemão, num comunicado oficial, diz que essa batalha passará à História como “a maior batalha de destruição de todos os tempos”. As perdas alemãs durante a ofensiva na frente ocidental, tal como foram hoje publicadas, são as seguintes: mortos – 10.252; desaparecidos – 8.467; feridos – 45.523; aviões perdidos – 432. Esses números são realmente espantosos. Apenas há três dias, os militares deram-nos a entender que a lista das perdas alemãs seria publicada dentro em pouco e que dela constariam aproximadamente de 35 a 40 mil mortos e de 150 a 160 mil feridos. Mas a maioria dos alemães acreditará piamente em qualquer cifras que lhes forneçam.

O mesmo comunicado refere-se também às perdas aliadas: 1.200.000 prisioneiros, inclusive belgas e holandeses. E toda uma esquadra destruída, inclusive cinco cruzadores e sete destroyers afundados, além de dez cruzadores e vinte e quatro destroyers avariados. O Alto Comando afirma ainda que a Marinha Alemã não perdeu uma única unidade.

Paris anuncia que se registraram 50 mortos e 150 feridos em consequência dos ataque aéreo alemão de ontem. A BBC afirma que os parisienses estão clamando por vingança. Mas nenhum avião aliado apareceu ontem sobre Berlim; nenhum ainda esta noite...

[...]

BERLIM, 6 de junho

Hoje, repicaram todos os sinos das igrejas de Berlim, que amanheceu embandeirada por ordem de Hitler para comemorar a vitória da Flandres. Entretanto, era impossível notar qualquer contentamento especial do povo. Nenhuma emoção, qualquer que fosse. Na grandiosa proclamação dirigida ao Exército e ao povo, Hitler anunciou que hoje estava sendo lançada uma nova grande ofensiva no ocidente. Até aqui não se sabe de nenhum detalhe dessa operação, mas a BBC anuncia que essa ofensiva está sendo lançada ao longo de uma frente de 200 quilômetros, que se estende de Abbeville a Soissons, concentrando os alemães a sua maior pressão sobre a área do canal Somme-Aisne.

Ouvir dizer que os Aliados têm bombardeado Munich e Frankfurt estas últimas noites. Mas em Berlim nunca se diz coisa alguma desses ataques inimigos. E até agora ninguém aqui sentiu a guerra.
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Trechos do DIÁRIO DE BERLIM
do jornalista norte-americano William Shirer
(depois seria autor de A Ascensão e a Queda do III Reich)
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