sexta-feira, 18 de junho de 2010

junho de 1940 - A Queda da França




1940 – A Queda da França

Em 11 de junho, o governo francês está na cidadezinha de Briare, e recebe uma visita do Primeiro-Ministro britânico Churchill, que percebe um pessimismo do General Weygand, ministro da Defesa, ao mesmo tempo em que percebe o rancor de um general, agora subsecretário da Defesa Nacional , membro recente do governo derradeiro, chamado Charles De Gaulle. Contrário ao armistício, De Gaulle (arauto das forças blindadas) defendia a resistência francesa numa retirada para as colônias africanas.

Mas enquanto os líderes discutem, as tropas e os panzer de Guderian contornam a Linha Maginot, numa manobra de cerco que resulta no aprisionamento de cerca de meio milhão de soldados franceses, num avanço em arco a se estender até a fronteira suiça. É a vitória do 'movimento' contra a 'linha defensiva'.

Quando a vanguarda do XVIII Exército de von Küchler adentra a desmilitarizada metrópole parisiense, em 14 de junho (um mês antes das comemorações da Queda da Bastille, em 14 de julho de 1789, início da Revolução Francesa), os líderes se reúnem no dia seguinte para votarem entre a rendição ou a resistência. Já vimos que Pétain estava entre os que preferiam o armistício, enquanto o primeiro-ministro francês Reynaud e De Gaulle preferiam a luta. Weygand, por outro lado, pretendia mostrar um realismo. Não havia 'reserva estratégica' para deter e derrotar os alemães (e mesmo que houve tropa, não havia aviação suficiente).

Diante de tal cenário sem esperanças, os britânicos terminam por abandonar a França ao norte pelos portos do Canal da Mancha. E o resignado Pétain assume o Governo, e rejeita a última proposta de Churchill (de que GBR e França se unissem numa 'cidadania comum') Esta rejeição mostra a preferência do 'herói nacional' na condição francesa enquanto 'protetorado' da Alemanha do que 'satélite' da Grã-Bretanha. A queda da França foi também a queda da aliança entre ingleses e franceses. Tudo o que Hitler queria.


cartoon alemão


Diz o leão britânico ferido ao galo apunhalado no cartoon alemão (publicado no Das Reich): “A tua morte me deixa muito desapontado! - Felizmente para mim ficaram ao menos as tuas colônias como uma lembrança (souvenir)!” (Mit deinem Hinscheiden enttäuschst Du mich sehr! - Hoffentlich blieben mir wenigstens Deine Kolonien als Souvenir!)

Enquanto isso, De Gaulle decide proclamar a reunião da “França Livre”, mesmo que sejam forças concentradas nas colônias africanas. Para a resistência a guerra não termina com a Queda da França, pois trata-se de uma Guerra Mundial, abrangente e prolongada. Mas ainda ninguém espera realmente que a França (e Pétain!) sejam 'libertado por De Gaulle e seus bravos', pois o que há além de uma multidão de refugiados? Cerca de 8 milhões de refugiados seguem pelas estradas do sul – expostas ao ataque dos caças da Luftwaffe, impiedosos e prontos para espalhar o terror.

Em 18 de junho, Hitler recebe Mussolini em Münich (Munique) para comunicar o armísticio com os franceses, onde se estabelece uma divisão da França: norte e litoral atlântico sendo ocupado pelos alemães e o sul governado pelo velho Pétain, na cidade de Vichy (daí o termo 'França de Vichy'). O armistício (ou 'capitulação') será assinado entre os militares alemães e os representantes franceses (General Huntziger), enquanto, no sul, os fascistas italianos combatem tropas francesas (compostas de três divisões alpinas), até o armistício França-Itália, em 24 de junho, com a presença do Gen. Huntziger em Roma.

Na cena da assinatura do armistício não poderia faltar o vagão onde antes o Império Alemão assinara a derrota na PGM. Arrancado da paz do museu, o vagão serviu como instrumento de 'revanche' para o orgulho ferido dos militares alemães. Ali, os abatidos e humilhados da vez seriam os líderes franceses, que não se prepararam para a 'guerra de movimento', chamada agora de “Blitzkrieg” (guerra-relâmpago).
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Trechos de
O Duelo : Churchill X Hitler
John Lukacs
trad. Claudia M Gama
Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002

“O dia 18 de junho de 1940 marcava o centésimo vigésimo quinto aniversário da batalha de Waterloo. Foi a última batalha das guerras do mundo travada por mais de um século entre França e Inglaterra. Depois de Waterloo, a Alemanha cresceu e a França declinou. Cem anos depois de Waterloo, França e Grã-Bretanha lutavam lado a lado contra os alemães. Agora, em 1940, a França caia nas mãos dos alemães e a Grã-Bretanha estava só, enfrentando perigos incomensuravelmente maiores do que os que enfrentara nos tempos de Waterloo. O ano de 1940 também marcava outra coincidência histórica. Tarde da noite do Dia do Waterloo, Hitler voltou de Munique para seu quartel-general, o Reduto do Lobo, a poucos quilômetros da cidade fronteiriça francesa de Rocroi, um vilarejo soturno e cinzento. (...)

Se o poder mundial da França diminuiu depois de Waterloo, o poder aumentou em Rocroi. Foi lá que, 297 anos de 1940, travou-se uma das batalhas mais decisivas da história da Europa. Foi em Rocroi, em 1643, que a França derrotou a formidável infantaria espanhola. Com essa vitória os franceses se tornaram a maior potência da Europa, na verdade, do mundo ocidental. Para os espanhóis, a derrota de seu exército em Rocroi foi tão decisivia quanto a derrota de sua Armada no canal da Mancha em 1588. (...)” pp. 126-127
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Hitler em Paris

“Dois dias depois [23 junho], [Hitler] voou para Paris no inabitual horário de três e meia da manhã. Levou consigo seu escultor favorito, Arno Brecker, e seu arquiteto preferido, Albert Speer. Eles fizeram uma rápida visita a uma Paris vazia nas primeiras horas da manhã. Hitler assombrou sua comitiva com a familiaridade que demonstrou com relação a alguns edifícios, sobretudo a Opéra, onde seu minucioso conhecimento surpreendeu o grave funcionário francês que fora apanhado para guiá-los pelos corredores. Foi um passio estranho, furtivo e insone. Às dez da manhã já estavam de volta ao Reduto do Lobo. Por vários dias Hitler falou sobre a beleza de Paris, que então vira pela primeira vez. Enquanto isso, aguardava novas notícias de Londres. Depois foi, com antigos camaradas, visitar os campos de batalha onde servira na Primeira Guerra Mundial. No dia seguinte, 27, trocou o Reduto do Lobo pelo novo quartel-general próximo a Knibis, na Floresta Negra alemã.” p. 130
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Churchill e o discurso da 'finest hour'

"Na tarde do Dia de Waterloo, Churchill fez sei discurso mais famoso na Câmara dos Comuns. Foi o discurso da “hora mais gloriosa”, que tem uma história singular. Vimos que no dia anterior ele se dirigira ao povo britânico com um curto pronunciamento de dois minutos. Agora falava outra vez. O discurso no Parlamento durou menos de trinta minutos. Os parlamentares ficaram impressionados, embora ele parecesse um pouco fatigado. No entanto, pouco depois naquela tarde algumas pessoas disseram a Churchill que, em benefício do moral nacional, ele deveria falar à nação. Assim, quatro horas mais tarde Churchill leu novamente seu discurso na BBC. Não gostou de fazer isso; muitas pessoas acharam que não soou bem. [...]

Nesse ponto, o historiador tem de dizer algo sobre o efeito dos discursos de Churchill naquele verão. Sua receptividade foi menos evidente do quenos habituameos a acreditar. (...) George Orwell, ao escrever em seu diário em 24 de junho, concordou com sua esposa que “as pessoas de pouco estudo são com frequencia tocadas por um discurso em linguagem solene, que na verdade não compreendem mas sentem que impressiona, p.ex. A sra. A impressionou-se com os discursos de Churchill, embora não os entenda palavra por palavra.” p. 132

O motivo do discurso: o derrotismo após a Queda da França

“Na reunião matinal de 16 de junho, [Anthony] Eden disse que vira um relatório do Ministério da Informação sobre a opinião pública que “não era muito encorajador”. Ainda assim, no dia seguinte Churchill disse ao Gabinete que “a masa da população continuava com notável animação sob adversidade”. Lord Normanbrook lembrou que, quando a França caiu, havia confusão e perplexidade e em alguns bairros o moral era frágil”. Em algum momento entre 16 e 26 de junho, “um sentimento de desânimo e apreensão foi registrado no país como um todo”. O Ministério da Informação observou no dia 17 que, “a menos que houvesse forte liderança do primeiro-ministro, o derrotismo certamente ganharia terreno e haveria uma séria divisão entre governo e povo”. (Foi por isso que Duff Cooper e seus amigos imploraram a Churchill no dia 18 para falar na BBC.) (...)

Em 27 de junho, Sir Stafford Cripps, embaixador britânico recém-chegado a Moscou, escreveu a Halifax uma mensagem longa e bastante pessimista,na qual previa a necessidade de preparar a opinião pública britânica para uma eventual transferência do governo de Londres para o Canadá.
Podemos no entanto garantir que, em 26 de junho, a segunda maior crise de Churchill de modo geral se atenuara. Ele e seu povo haviam sobrevivido ao choque da rendição da França.” (pp. 134 e 135)

trecho final:

"O que o General Weygand chamou de Batalha da França já terminou. Eu espero o começo da Batalha da Grã-Bretanha. Desta batalha depende a sobrevivência da civilização cristã. Dela depende nossa própria vida britânica, e a longa continuidade de nossas instituições e nosso Império. A completa fúria e poder do inimigo deve logo voltar-se para nós. Hitler sabe que ele precisa nos derrotar nesta ilha ou perderá a guerra. Se nós podermos resistir a ele, toda a Europa poderá ser liberta e a vida do mundo seguirá adiante para amplas e ensolaradas terras.

Mas se nós falharmos, então todo o mundo, incluindo os Estados Unidos, incluindo tudo o que conhecemos e amamos, afundará num abismo de uma era sombria feita o que há de mais sinistro, e talvez mais prolongado, devido as luzes da ciência pervertida. Vamos então assumir nossos deveres, e apoiarmos uns aos outros, pois se o Império Britânica e o Commonwealth durar uns mil anos, os homens dirão ainda, “esta foi a hora mais gloriosa deles”.
(trad. LdeM)

What General Weygand has called the Battle of France is over. I expect that the Battle of Britain is about to begin. Upon this battle depends the survival of Christian civilisation. Upon it depends our own British life, and the long continuity of our institutions and our Empire. The whole fury and might of the enemy must very soon be turned on us. Hitler knows that he will have to break us in this island or lose the war. If we can stand up to him, all Europe may be freed and the life of the world may move forward into broad, sunlit uplands.

But if we fail, then the whole world, including the United States, including all that we have known and cared for, will sink into the abyss of a new dark age made more sinister, and perhaps more protracted, by the lights of perverted science. Let us therefore brace ourselves to our duties, and so bear ourselves, that if the British Empire and its Commonwealth last for a thousand years, men will still say, This was their finest hour.
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por Leonardo de Magalhaens
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