sábado, 12 de junho de 2010

A Itália de Mussolini decide entrar na Guerra





A Itália de Mussolini decide entrar na Guerra

O ditador Mussolini ainda mantinha um papel ambíguo de 'mediador' entre potências e ao mesmo tempo alinhado com a Alemanha militarmente em ascensão. Não rompia a neutralidade por ter reconhecido a pouca eficiência bélica italiana (vejam bem as campanhas na Etiópia e na Albânia, mais plenas de crueldade do que eficiência), mas percebia que a Alemanha nazista poderia exigir a 'decisão' dos fascistas – assim que se percebesse vitoriosa. E a Itália fascista precisava mesmo assumir seu discurso anti-democrático.

Lembrando sempre que as potências da época eram Grã-Bretanha e França (e os EUA), os vencedores da Primeira Guerra Mundial, a mesmas que não haviam cumprido as promessas à Itália. Ainda que preferissem Mussolini no poder – do que os 'comunistas'. E nada teriam feito contra Mussolini (assim como nada fizeram contra Franco) caso do Duce tivesse mantido sua não-beligerância.

Mas a situação foi outra. Ao perceber a rápida retirada das forças aliadas nos Flandres e no norte da França, o Duce começou a temer que a Guerra acabasse antes dos fascistas italianos entrarem no 'jogo'. Os britânicos – ao contrário – diziam que o Duce receberia certamente sua 'cota' de guerra. (Churchill era até irônico, sabendo da ineficiência bélica italiana) A Itália então entenderia o que significa 'desafiar uma potência'.
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10 de junho de 1940

Discurso do ditador Mussolini na Piazza Venezia
Declaração de Guerra em junho de 1940

“Combatentes de terra, de mar e do ar! Camisas negras da revolução e das legiões! Homens e mulheres da Itália, do Império e do reino da Albânia! Escutem! Uma hora assinalada do destino ressoa no céu de nossa pátria. (vivas aclamações) A hora da decisão irrevogável. A declaração de guerra já foi consignada (aclamações, gritaria alta de “Guerra, Guerra!”) aos embaixadores da Grã-Bretanha e da França. Saímos em campo contra as democracias plutocráticas e os reacionários do Ocidente, que, em todo tempo, criaram obstáculo a marcha, e mesmo minado a existência mesma do povo italiano.

Alguns anos da história mais recente se podem resumir nestas frases: promessas, ameaças, chantagens e, ao fim, como um coroamento do edifício, o ignóbil assédio societário de cinquenta e duas nações. A nossa consciência está absolutamente tranquila. (Aplausos.) Com vocês o mundo inteiro é testemunha que a Itália do Littorio fez o que era humanamente possível para evitar a tormenta que convulsiona a Europa; mas foi tudo em vão.

[...]
Nós empunhamos as armas para resolver, depois o problema resolvido da nossa fronteira continental, o problema das nossas fronteiras marítimas; nós queremos despedaçar as cadeias das ordens territoriais e militares que nos sufocam em nossos mares, pois um povo de quarenta e cinco milhões de pessoas não é realmente livre se não tem livre o acesso ao oceano. Esta luta gigantesca não é mais que uma fase do desenvolvimento lógico da nossa revolução; é a luta do povo pobre e de braços numerosos contra os ávidos que detêm ferozmente o monopólio de toda a riqueza e de todo o ouro da terra; é a luta do povo fecundo e jovem contra os povos estéreis e decadentes; é a luta entre dois séculos e duas ideias. Momento em que os dados são jogados e a nossa vontade tem queimado em nossas veias, eu declaro solenemente que a Itália não pretende arrastar outros povos ao conflito com fronteiras comuns por mar ou terra. Suiça, Iugoslávia, Grécia, Turquia, Egito, tomem nota dessas minhas palavras e depende deles, apenas deles, se tal será confirmado ou não.
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trad. Leonaro de Magalhaens
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Aqui, o Duce Mussolini julga falar em nome da 'revolução': considera o 'fascismo' uma revolução contra os 'reacionários', aqueles das 'grandes potências' diatas 'democráticas', mas o regime fascista era claramente tutelado por uma 'monarquia'. Tanto que alguns fascistas eram abertamente 'republicanos' (e somente subiram ao poder na República de Salò, então sob tutela nazista, em 1943.)

Também afirma retoricamente o ditador fascista que não pretende entrar em conflito com alguns países próximos, mas acabou atacando a Grécia em 1940/41, e sofreu resistência, a ponto dos alemães entrarem no conflito nos Balcãs, o que atrasou a invasão da URSS em um mês. (A Operação Barbarossa não foi iniciada em maio, mas em junho de 1941)
Discurso do Mussolini na Declaração de Guerra
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Combattenti di terra, di mare e dell'aria! Camicie nere della rivoluzione e delle legioni! Uomini e donne d'Italia, dell'Impero e del regno d'Albania! Ascoltate! Un'ora segnata dal destino batte nel cielo della nostra patria. (Acclamazioni vivissime). L'ora delle decisioni irrevocabili. La dichiarazione di guerra è già stata consegnata (acclamazioni, grida altissime di "Guerra! Guerra! ") agli ambasciatori di Gran Bretagna e di Francia. Scendiamo in campo contro le democrazie plutocratiche e reazionarie dell'Occidente, che, in ogni tempo, hanno ostacolato la marcia, e spesso insidiato l'esistenza medesima del popolo italiano .

Alcuni lustri della storia più recente si possono riassumere in queste frasi: promesse, minacce, ricatti e, alla fine, quale coronamento dell'edificio, l'ignobile assedio societario di cinquantadue stati. La nostra coscienza è assolutamente tranquilla. (Applausi). Con voi il mondo intero è testimone che l'Italia del Littorio ha fatto quanto era umanamente possibile per evitare la tormenta che sconvolge l'Europa; ma tutto fu vano.
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Noi impugniamo le armi per risolvere, dopo il problema risolto delle nostre frontiere continentali, il problema delle nostre frontiere marittime; noi vogliamo spezzare le catene di ordine territoriale e militare che ci soffocano nel nostro mare, poiché un popolo di quarantacinque milioni di anime non è veramente libero se non ha libero l'accesso all'Oceano. Questa lotta gigantesca non è che una fase dello sviluppo logico della nostra rivoluzione; è la lotta dei popoli poveri e numerosi di braccia contro gli affamatori che detengono ferocemente il monopolio di tutele ricchezze e di tutto l'oro della terra; è la lotta dei popoli fecondi e giovani contro i popoli isteriliti e volgenti al tramonto, è la lotta tra due secoli e due idee. Ora che i dadi sono gettati e la nostra volontà ha bruciato alle nostre spalle i vascelli, io dichiaro solennemente che l'Italia non intende trascinare altri popoli nel conflitto con essa confinanti per mare o per terra. Svizzera, Jugoslavia, Grecia, Turchia, Egitto prendano atto di queste mie parole e dipende da loro, soltanto da loro, se esse saranno o no rigorosamente confermate.
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“A declaração de guerra da Itália à França e Inglaterra foi entregue por Galeazzo Ciano aos embaixadores respectivos, François-Poncet e Sir Percy Loraine. As reações de ambos foram diferentes. O embaixador francês, emocionado, afirmou a Ciano que a declaração era '... uma punhalada num homem caído...' e assegurou ao ministro italiano da Relações Exteriores que 'os alemães são senhores duros. Vocês também se darão conta disto...' Por último, ao sair da Chancelaria, disse-lhe, assinalando o uniforme de aviador que Ciano trajava: 'Não se deixe matar...' Por seu turno, o embaixador inglês, Sir Percy Loraine, flegmático recebeu a notícia sem demonstrar qualquer perturbação. Ao se despedirem, fizeram-no com 'um largo e cordial aperto de mãos'.”

“Às 16 horas do dia 10 de junho, o embaixador francês em Roma, André François Poncet, telefonou a Reynaud, informando que acabara de receber das mãos do Conde Ciano a comunicação da declaração de guerra do Governo italiano.”

“Pouco depois de receber a comunicação de François-Poncet, o governo francês resolveu abandonar Paris. À meia-noite, Reynaud,a companhado pelo genral De Gaulle, partiu de automóvel à cidade de Orléans. Tão logo difundiu-se a notícia, milhares de parisienses lançaram-se em fuga, provocando uma espantosa confusão nas estradas para o sul.”

Fonte: Segunda Guerra Mundial. Ed. Codex, 1965


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por Leonardo de Magalhaens


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