terça-feira, 23 de março de 2010

final da DRÔLE DE GUERRE (Sartre)



Drôle de Guerre
Diário de Uma Guerra Estranha

Jean-Paul Sartre
trad. Aulyde Soares Rodrigues (1983)
[1940]
Quarta-feira, 13 de março
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19h45m. Recebi pelo telégrafo a notícia da capitulação da Finlândia.Impressão dolorosa.
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Quinta-feira, 14 de março

A indignação povocada na imprensa francesa pela “covardia” sueca é exatamente a mesma provocada por nossa atitude, há três anos, para com a Espanha.

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Excelente observação em L'OEuvre:

“Entre os maus slogans que nasceram na guerra, um dos mais exasperantes é a famosa fórmula: 'O tempo trabalha para nós'
“Dizem isso com uma expressão finória ou idiota, piscando um olho. Por pouco não acrescentam: 'O tempo trabalha, deixem que ele trabalhe, não vamos incomodá-lo!'
“Como não percebem que esse é o melhor meio de provocar a indolência, a falta de imaginação e a falta de iniciativa?
“Será que o tempo trabalha para nós quando a Suécia e a Noruega passam do campo das democracias para o campo de Hitler?
“Será que o tempo trabalha para nós quando o heróico povo da Finlândia tem de submeter-se ao diktat russo-alemão?”
E esta observação de Déat: “O níquel e o ferro são adquiridos agora da Alemanha, os países escandinavos tornam-se clientes de Stalin e sobretudo de Hitler. Amanhã, sem dúvida os fiordes abrigarão os submarinos alemães, esperando que as bases aéreas sejam instaladas nessas terras domésticas.... Acabamos de perder os países escandinavos. Se insistirmos, vamos perder também os Balcãs. De duas uma: ou manobramos pelos flancos, em estilo militar, pois o golpe de frente, no centro, foi sensatamente excluído. E então utilizamos os flancos enquanto ainda há tempo. Ou então admitimos que não existem mais flancos e que toda a operação está interditada. Nesse caso é outra guerra que faremos. Não menos difícil, não menos perigosa, não menos total. Mas ela exige outra diplomacia, outra organização econômica, outra moral, outra propaganda, outros métodos de governo.”

Chaumeix (Paris-Soir): “Para a Inglaterra e para a França é uma derrota inconstestável.”(1)
Nossa primeira derrota. É recebida aqui com uma certa indiferença. Dizem: “Agora a guerra vai durar dez anos.”
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Nota (LdeM)

(1)o jornalista André Chaumeix, que escrevia para o Paris-Soir e tinha textos publicados na Revue des deux mondes , sempre alertava as autoridades francesas para o perigo do Hitlerismo, advindo do militarismo germânico. Chaumeix não acreditava na 'política do Apaziguamento' tão proclamada pelo Primeiro-Ministro Britânico Chamberlain. Não devia se negociar com o diatador alemão, em nenhuma hipótese.

Na verdade, a Segunda Guerra Mundial estava apenas a começar e durou seis anos. Longos e sangrentos, da Europa ao Pacífico, dos desertos ao norte da África às selvas úmidas da Indochina. E Sartre foi vítima desta Guerra, sofreu na pele a crueldade dos campos de concentração nazistas.

Leonardo de Magalhaens

domingo, 14 de março de 2010

13 março 1940 (Diário de Berlim - W. Shirer)



Diário de Berlim (1934-1941)
Berlin Diary (trecho)
volume 2
trad. Alfredo C Machado

(Fim da Guerra de Inverno)

BERLIM, 13 de março

Ontem à noite, em Moscou, foi assinada a paz entre a Rússia e a Finlândia. Trata-se de uma paz muito onerosa para a Finlândia, e hoje em Helsinki, segundo anuncia a BBC, o pavilhão nacional foi hasteado a meio mastro. Entretanto, Berlim está exultante. Por dois motivos: primeiro, a paz veio livrar a Rússia dos sacrifícios da guerra, de forma que, agora, pode fornecer algumas ds matérias-primas de que o Reich tanto necessita; e segundo, remove o perigo de a Alemanha vir a ter que sustentar uma luta numa frente situada no extremo norte, que seria forçada a alimentar por via marítima e que poderia levá-la a uma dispersão de suas forças militares, atualmente concentradas no Ocidente, prontas para o golpe decisivo, a ser desfechado a qualquer momento.
Acredito que, no fim de tudo, a Noruega e a Suécia pagarão pela recusa em permitir a passagem das tropas aliadas pelos respectivos territórios, para irem em auxílio da Finlândia. Aliás, para falar a verdade, nenhum desses dois países está colocado numa posição muito agradável. Ainda hoje, Braun von Stumm, do Ministério do Exterior, confirmou-me que Hitler informa tanto a Oslo como a Estocolmo que, se as tropas aliadas pusessem pé em território da Escandinávia, a Alemanha invdiria imediatamente a área do norte, a fim de rechaçá-las. O problema dos escandinavos reside no fato de que cem anos de paz acabaram por transformá-los em criaturas brandas, amantes da paz a qualquer preço. Assim, não tiveram coragem para encarar o futuro. E, quando chegar o momento de escolher o partido a tomar, então será demasiadamente tarde para isso, como sucedeu à Polônia. O Ministro do Exterior da Suécia, Sandler, é o único que parece enxergar a situação com toda clareza, mas, por isso mesmo, foi obrigado a demitir-se.

Agora, a Finlândia está à mercê da Rússia. Daqui por diante, sob o pretexto mais fútil, os soviéticos poderão invadir o país, uma vez que os finlandeses terão que lhes entregar todas as suas fortificações, da mesma forma como os tchecos foram obrigados a fazer, após o pacto de Munich. (Depois disso, a Tcheco-Eslováquia só durou cinco meses e meio.) Não chegamos a uma fase histórica em que as pequenas nações não mais se encontram em segurança e em que todas elas têm que viver sofrendo as imposições dos ditadores? Há muito que já se foram aqueles felizes dias do século XIX, quando qualquer país podia permanecer neutro e em paz, desde que assim o quisesse.

Com a paz na Finlândia, o assunto do dia em Berlim volta a ser a ofensiva alemã. X, que é alemã, vive a dizer-me que essa ofensiva será horrorosa: gases venenosos, micróbios, etc. Da mesma forma que todos os alemães, embora ela deva saber melhor, X acredita que a ofensiva será tão terrível que trará uma vitória extremamente rápida para a Alemanha. Nunca lhe passou pela cabeça que o inimigo também dispõe de gases venenosos e micróbios.

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William Shirer
Diário de Berlim
Volume 2 (1940-1941)
trad. Alfredo C Machado

domingo, 7 de março de 2010

Guerra Falsa & Campanhas nórdicas

Trecho de
A ALEMANHA DE HITLER
autor: Roderick Stackelberg
trad. A B Pinheiro de Lemos

sobre a “guerra falsa”e as “campanhas nórdicas"


A ”Guerra Falsa”


Na frente de oeste, por outro lado, a guerra assumiu a forma do que os alemães chamaram de Sitzkrieg (guerra sentada), enquanto no Ocidente era conhecida como ”Guerra Falsa”. Os franceses não se arriscaram a sair de suas posições defensivas na Linha Maginot, apesar da considerável superioridade - embora temporária - em número e material. A experiência da Primeira Guerra Mundial convencera os líderes militares franceses de que a defesa era mais importante que a ofensiva. A relutância em lançar um ataque foi também uma decorrência da persistente ilusão de que os combates ainda poderiam ser evitados, se os alemães não fossem provocados. O medo da retaliação aérea contra alvos civis foi outro elemento dissuasivo, assim como a bem fortificada Muralha do Oeste (também chamada de Linha Siegfried), corn 650 quilômetros, construída pelos alemães antes do início da guerra, da fronteira suíça até o norte da cidade de Aachen. Os Aliados achavam que o tempo estava do seu lado, que um bloqueio bastaria para acarretar o colapso alemão.


Depois da conclusão vitoriosa da campanha polonesa, Hitler propôs a paz, em troca da aquiescência Aliada para a ocupação alemã da Polônia. Ao oferecer ao mesmo tempo sua garantia de manutenção do Império Britânico, Hitler esperava fincar uma cunha entre a Inglaterra e a França. Quando sua oferta foi rejeitada, Hitler optou por desfechar uma ofensiva imediata na frente ocidental. Várias considerações persuadiram-no da necessidade de procurar uma solução rápida da guerra no Ocidente. A neutralidade soviética e americana talvez não durasse, a Itália podia vacilar em sua lealdade, e os países ocidentais provavelmente adquiririam mais poderio militar. As condições do tempo, no entanto, assim como a perda acidental dos planos de batalha alemães na Bélgica, em janeiro, forçaram um adiamento do ataque até a primavera seguinte.

A campanha escandinava


A Guerra do Inverno transferiu o foco dos planejadores militares para a Escandinávia. A Noruega serviu como o canal para a ajuda francesa e britânica aos finlandeses na Guerra do Inverno. E verdade, diga-se de passagem, que bem pouca ajuda de fato alcançou os finlandeses. Os alemães temiam, não sem razão, que os Aliados planejassem abrir uma segunda frente contra a Alemanha na Escandinávia. A 9 de abril de 1940, tropas alemãs invadiram a Dinamarca e a Noruega, a fim de impedir que os britânicos ocupassem esses países e interrompessem o fluxo de minério de ferro da neutra Suécia, que era vital para a economia de guerra da Alemanha. A Dinamarca caiu em doze horas, mas o exército norueguês lutou corn a maior tenacidade, corn o apoio dos Aliados, por várias semanas. A resistência final só terminou a 10 de junho, quando a campanha alemã contra a França já fora desfechada. Na Noruega, os alemães instalaram um regime subordinado, tendo no comando um ex-ministro da Defesa norueguês, Vidkun Quisling (1887-1945), cujo nome se tornaria um símbolo de abjeta colaboração.
Roderick Stackelberg