Drôle de Guerre
Diário de Uma Guerra Estranha
Jean-Paul Sartre
trad. Aulyde Soares Rodrigues (1983)
Diário de Uma Guerra Estranha
Jean-Paul Sartre
trad. Aulyde Soares Rodrigues (1983)
[1940]
Quarta-feira, 13 de março
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Quarta-feira, 13 de março
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19h45m. Recebi pelo telégrafo a notícia da capitulação da Finlândia.Impressão dolorosa.
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Quinta-feira, 14 de março
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Excelente observação em L'OEuvre:
“Entre os maus slogans que nasceram na guerra, um dos mais exasperantes é a famosa fórmula: 'O tempo trabalha para nós'
“Dizem isso com uma expressão finória ou idiota, piscando um olho. Por pouco não acrescentam: 'O tempo trabalha, deixem que ele trabalhe, não vamos incomodá-lo!'
“Como não percebem que esse é o melhor meio de provocar a indolência, a falta de imaginação e a falta de iniciativa?
“Será que o tempo trabalha para nós quando a Suécia e a Noruega passam do campo das democracias para o campo de Hitler?
“Será que o tempo trabalha para nós quando o heróico povo da Finlândia tem de submeter-se ao diktat russo-alemão?”
“Será que o tempo trabalha para nós quando o heróico povo da Finlândia tem de submeter-se ao diktat russo-alemão?”
E esta observação de Déat: “O níquel e o ferro são adquiridos agora da Alemanha, os países escandinavos tornam-se clientes de Stalin e sobretudo de Hitler. Amanhã, sem dúvida os fiordes abrigarão os submarinos alemães, esperando que as bases aéreas sejam instaladas nessas terras domésticas.... Acabamos de perder os países escandinavos. Se insistirmos, vamos perder também os Balcãs. De duas uma: ou manobramos pelos flancos, em estilo militar, pois o golpe de frente, no centro, foi sensatamente excluído. E então utilizamos os flancos enquanto ainda há tempo. Ou então admitimos que não existem mais flancos e que toda a operação está interditada. Nesse caso é outra guerra que faremos. Não menos difícil, não menos perigosa, não menos total. Mas ela exige outra diplomacia, outra organização econômica, outra moral, outra propaganda, outros métodos de governo.”
Chaumeix (Paris-Soir): “Para a Inglaterra e para a França é uma derrota inconstestável.”(1)
Nossa primeira derrota. É recebida aqui com uma certa indiferença. Dizem: “Agora a guerra vai durar dez anos.”
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Nota (LdeM)
(1)o jornalista André Chaumeix, que escrevia para o Paris-Soir e tinha textos publicados na Revue des deux mondes , sempre alertava as autoridades francesas para o perigo do Hitlerismo, advindo do militarismo germânico. Chaumeix não acreditava na 'política do Apaziguamento' tão proclamada pelo Primeiro-Ministro Britânico Chamberlain. Não devia se negociar com o diatador alemão, em nenhuma hipótese.
Na verdade, a Segunda Guerra Mundial estava apenas a começar e durou seis anos. Longos e sangrentos, da Europa ao Pacífico, dos desertos ao norte da África às selvas úmidas da Indochina. E Sartre foi vítima desta Guerra, sofreu na pele a crueldade dos campos de concentração nazistas.
Leonardo de Magalhaens
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