quarta-feira, 22 de setembro de 2010

política durante a Battle of Britain (sept 1940)


















setembro 1940

Vejamos alguns trechos de obras abordando a política (e os bastidores)
durante a Battle of Britain / Batalha da Grã-Bretanha

fonte: FEST, Joachim. “Hitler” Livro VII – cap. I (pp. 757-59)

“As tergiversações de Hitler não se deviam unicamente ao fato de que suas relações com a Inglaterra se encontravam mais ou menos influenciadas por seus complexos; na verdade, outra ideia fundamental desempenhava papel importante: a da resistência organizada por Churchill. Que uma potência dotada de numerosos e vastos pontos de retirada possíveis, no além-mar, dispunha assim de múltiplas possibilidades de consolidar sua situação, de sorte que a conquista eventual da mãe-pátria não significaria obrigatoriamente sua derrota: que a Inglaterra podia, do Canadá,por exemplo, arrastar a Alemanha, de maneira cada vez mais irreversível, a um conflito de condições desfavoráveis, e, afinal de contas, enredá-la numa guerra, tão temida, contra os Estados Unidos – esses pensamentos não deixavam de inquietá-lo. E ainda admitia que, se conseguisse destruir o Império Britânico, não seria a Alemanha a verdadeira beneficiaria disso, explicou ele numa conversa, a 13 de julho de 1940, mas sim “o Japão, a América e outros”. [fonte de FEST: “Diário de Guerra” do General Halder] Em outros termos, todo agravamento de sua discórida com a Inglaterra minava sua própria posição. Desse modo, não só razões sentimentais, mas também motivos politicos, em lugar de impedi-lo a provocar a derrota da Inglaterra, levaram-no antes a procurar sua colaboração. (...)

Era a edificação desse sonho [colaboração britânica para a grande marcha alemã para o leste] que devia servir, no plano militar, o 'cerco' das ilhas britânicas pela frota submarina alemã, assim como – e principalmente – a guerra aérea contra a Inglaterra. O paradoxo dessa concepção se traduziu na curiosa falta de entusiasmo com que Hitler presidiu à montagem dos diversos elementos necessários a esse combate: surdo às sugestões apresentadas insistentemente pelas autoridades militares, não estava disposto a considerar uma 'guerra total' aérea ou marítima. A legendária Battle of Britain começou a 13 de agosto de 1940 (Adlertag – Dias das águias), com uma primeira ofensiva maciça contra os aeroportos e as estações de radar britânicas da costa sul; foi necesssário interrompê-la a 16 de setembro, em razão das más condições atmosféricas e depois de pesadas perdas, sem que a Luftwaffe tivesse atingido os objetivos fixados: nem o potencial industrial inglês tinha sido perturbado, nem o moral da população fora minado, nem também os alemães tinham conseguido a superioridade aérea. E, embora alguns dias antes, o Almirante Raeder tivesse anunciado que a Marinha estava preparada para a operação de desembarque, Hitler adiou esse empreendimento 'para mais tarde'. Instruções do OKW, datadas de 12 de outubro, especificavam que “de agora em diante, até a próxima primavera, os preparativos de desembarque na Inglaterra deviam ser explorados unicamente como um meio de pressão política e militar contra a Inglaterra”. Renunciava-se à operação Seelöwe.”
[...]

“A grande coalização continental devia englobar a Europa inteira e compreender a União Soviética, a Espanha, Portugal e a França de Vichy. Ao mesmo tempo, elaboravam-se planos para atacar a Grã-Bretanha pelos flancos, retornar o combate no Mediterrâneo, apoderar-se desses dois bastiões britânicos, Gibraltar e o Canal de Suez, desfechando assim um golpe fatal na situação imperial da Inglaterra na África do Norte e na Ásia Menor. Outros projetos, desenvolvidos paralelamente, tinha, como objetivo a ocupação das Canárias, das ilhas portuguesas de Cabo Verde, bem como dos Açores e da Madeira; houve contatos com o Governo de Dublin, com vistas a uma aliança com a Irlanda, o que teria proporcionado ao Reich novas bases aéreas contra a Inglaterra.”

trad. A. L. Teixeira Ribeiro, et alli.

....

Fonte: LUKACS, John. “O Duelo Churchill X Hitler” (cap. VII, pp. 198-201)
(VII - cinquenta anos depois)

“Em 17 de setembro de 1940 Hitler, após vários adiamentos, ordenou a suspensão indefinida da Operação Leão-Marinho. Churchill não soube disso, mas tinha muitos motivos para suspeitá-lo. Naquele dia, ele e a esposa se haviam mudado para o Anexo, em Storey's Gate. Protegidos pelas portas corrediças de aço durante os ataques aéreos, pasariam ali as noites da semana durante a maior parte da guerra, embora ele preferisse ficar o máximo possível em Downing Street, 10. (Nessa época, o Gabinete de Guerra também se reunia na Sala de Guerra subterrânea.)

Tanto Churchill quanto Hitler se instalavam para uma guerra longa. Essa guerra Hitler poderia não vencer no fim. Mas esse fim estava distante. Um homem aparecera no caminho de Hitler para vencer o tipo de guerra que ele projetara e esse homem não estava sozinho. De certo modo o duelo entre ambos prosseguiu, mas as condições e circunstâncias não eram mais as mesmas. [...]

“Em uma escala mais ampla e mais prolongada, o duelo entre Hitler e Churchill prosseguiu no ar. Ambos superestimaram a eficácia do bombardeio. Hitler verificara isso em setembro de 1940. já em julho de 1940 Churchill achava que, com o tempo, o bombardeio maciço de fábricas e cidades alemãs teria de causar a derrota de Hitler, que era “o único caminho seguro” para a vitória. “Não temos nenhum exército continental que possa derrotar a potência militar alemã”, disse ele a Beaverbrook em 8 de julho. À medida que a guerra prosseguia, o respeito de Churchill pela capacidade combativa do exército alemão crescia cada vez mais. Ele também verificou que o bombardeio de saturação das cidades alemãs era, na melhor das hipóteses, um meio secundário para vencer a guerra, não o meio decisivo. [...]

“O principal e mais minucioso relato do planejamento da Operação Leão-Marinho é o do alemão Karl Klee, que escreveu na introdução dos dois maciços volumes [nota: a obra “A Tragédia”] : “A tragédia que estava por vir é que os britânicos, que se concentravam somente no adversário imediato, estavam prontos a aceitar qualquer parceiro – o que significa também a União Soviética – naquela guerra. [Os britânicos] não previram que essa orientação levaria somente à substituição de uma Alemanha forte pelo poder esmagador da Rússia.” Esse raciocínio – que equivale, em essência, a uma espécie de indignação seletiva – atrai algumas pessoas ainda hoje e não só na Alemanha. Sou obrigado a corrigi-lo aqui. Não era só que sem aquele “parceiro” os britânicos não poderiam esperar vencer. Aquele “parceiro” foi forçado a uma aliança com a Grã-Bretanha pelo próprio Hitler. [nota minha: quando as tropas alemãs invadiram a URSS em 22 de junho de 1941] É também que Churchill viu a opção com clareza: ou toda a Europa dominada pela Alemanha, ou – na pior das hipóteses – a metade leste da Europa dominada pela Rússia; e metade da Europa era melhor do que nada.”

[...]

(pp. 198-201)

trad. Cláudia Martinelli Gama
.
.
.
LdeM
.
.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Setembro 1940 no Diário de Shirer






Do
Diário de Berlim
William Shirer

BERLIM, 7 de setembro [1940]

No decorrer da noite passada tivemos o maior e o mais eficaz de todos os bombardeios aéreos da guerra. Nestes últimos dias os alemães trouxeram numerosas baterias de flaks para Berlim, e assim ontem à noite abriram um fogo de barragem formidável contra os ingleses, embora não conseguissem abater um só aparelho da RAF.

Desta vez os ingleses estavam com pontaria muito melhor. Quando regressei da Rundfunk pouco depois das 3 da madrugada, o céu, sobre a zona norte-central da cidade, estava avermelhado pelo clarão de dois grandes incêndios. O maior deles foi o que se registrou nos armazéns de cargas da estação ferroviária de Lehrter. Outra gare ferroviária, a de Schussendorfstrasse, também foi atingida. E, segundo me infirmaram, uma fábrica de borracha sintética foi destruída pelas chamas.

Apesar disso, o Alto Comando diz o seguinte no seu comunicado de hoje: “No decorrer da noite passada os aviões inimigos voltaram a atacar a capital alemã, ocasionando alguns danos a pessoas e propriedades, em conseqüência do bombardeio indiscriminado de objetivos não-militares, situados em pleno coração da cidade. Como represália, a Luftwaffe começou a atacar Londres em grandes formações”.


Nem o menor indício, em Berlim – e o povo alemão nada sabe sobre o assunto – de que no decorrer destas duas últimas semanas os pilotos alemães vem atirando as suas bombas sobre o centro de Londres. Ainda hoje, os meus censores avisaram-se que não tocasse nesse assunto. Aparentemente devem existir alguns alemães que ouvem as minhas irradiações, captando-as da própria emissora alemã que as retransmite em ondas curtas para Nova York, pois, uma vez que se trata se uma estação nazista, não há nenhuma punição para que a sintoniza.

O comunicado do Alto Comando, inegavelmente imposto pelo próprio Hitler – que várias vezes toma parte na redação dos comunicados oficiais do Exército – sustenta deliberadamente a mentira de que a Alemanha somente se resolveu a bombardear Londres em conseqüência dos ataques que os ingleses desfecharam primeiro contra Berlim. E o povo alemão acreditará em mais essa mentira, da mesma forma que acredita em quase tudo o que lhe dizem atualmente. É inegável que nos tempos modernos – desde que a imprensa, e mais tarde o rádio, tornaram teoricamente possível para a grande massa da humanidade conhecer o que se passava no mundo – nunca um povo foi tão mal informado, tão inescrupulosamente enganado, como os alemães o são sob o atual regime.

[...]



O povo alemão não tem a menor noção – porque a imprensa e a rádio nazistas têm suprimido cuidadosamente todas as notícias sobre isso – de que somente em agosto mais de mil civis ingleses foram mortos pelos ataques da Luftwaffe sobre os seus “objetivos militares”.

[...]


BERLIM, 18 de setembro

[...]

Hoje à noite, Ribbentrop partiu inesperadamente para Roma. São muitas as explicações dadas ao caso. A minha é esta: foi levar a Mussolini a notícia de que não se fará nenhuma tentativa de invasão da Inglaterra durante este outono. Esta revelação é de molde a colocar o Duce em maus lençóis, uma vez que as suas tropas já lançaram uma ofensiva no Egito e avançaram cerca de 160 quilômetros no deserto, convergindo sobre Sidi-el-Barrani. Mas, segundo parece, esse esforço italiano foi primitivamente planejado com o fito único de distrair a atenção inglesa da invasão alemã contra as suas ilhas. Agora começa a parecer (embora eu ainda acredite que Hitler possa vir a tentar a invasão) que a guerra neste inverno vai ser transportada para o Mediterrâneo, onde as potências do Eixo tentarão desfechar um golpe mortal no Império Britânico, com a conquista do Egito, do Canal de Suez e da Palestina. Napoleão conseguiu realizar essa campanha no passado, e o golpe não destruiu o Império Britânico (Napoleão tentou também a invasão, concentrando as suas barcaças e navios exatamente no mesmo local em que Hitler reuniu os seus, apesar de nunca ter ousado desfechar o golpe). No entanto, agora a conquista do Canal de Suez pode destruir o Império. O motivo da presença em Berlim do braço-direito do Generalíssimo Franco, Serrano Suñer, é que Hitler deseja que o caudilho ataque Gibraltar com as suas próprias forças ou consinta na passagem das tropas alemãs através de território espanhol, vindas da França, para realizar essa tarefa. Ouço muitos comentários sobre a divisão da África entre a Alemanha e a Itália, dando à Espanha uma grande área de território desde que Franco concorde com o que lhe exigem.

[...]


BERLIM, 22 de setembro

[...]

Ribbentrop está de volta de sua viagem a Roma e a imprensa dá a entender que agora está definitivamente resolvida a ‘fase final’ da guerra. Rudolf Kircher, redator-chefe do Frankfurter Zeitung, escrevendo de Roma, diz que a situação militar é de tal forma favorável ao Eixo que, na realidade, Ribbentrop e o Duce passaram a maior parte do tempo estabelecendo os planos para a ‘nova ordem’ na Europa e na África. Essa declaração pode ser de molde a fazer com que o povo alemão se sinta um pouco melhor, mas a maior parte dos alemães com quem converso já está começando, pela primeira vez, a perguntar por que motivo ainda não foi realizada a invasão da Inglaterra. Mostram-se ainda confiantes de que a guerra acabe antes do Natal. No entanto, apenas há quinze dias esperavam o fim da guerra para antes do inverno, que já terá chegado dentro de um mês. Ganhei todas as apostas que fiz com os funcionários e jornalistas nazistas sobre a data em que a suástica devia drapejar aos ventos de Trafalgar Square: agora devo receber deles – ou devia – quantidade suficiente de champanha para passar todo o inverno. Ainda hoje, quando sugeri a alguns deles outra pequena aposta, proporcionando-lhes a oportunidade de reaver o que perderam, não acharam nenhuma graça no caso. Nem quiseram apostar coisa alguma.

Os correspondentes alemães em Roma anunciaram hoje que a Itália está descontente com a Grécia e que os ingleses estão violando a neutralidade das águas gregas, tal como já o fizeram anteriormente na Noruega. Isso está-me cheirando mal. Desconfio de que a Grécia será a próxima vítima.

.
Do
Diário de Berlim
William Shirer
Trad. Alfredo C Machado
Ed. Record







LdeM




.


.

sábado, 4 de setembro de 2010

Batalha da Grã-Bretanha - setembro 1940






Batalha da Grã-Bretanha

Setembro 1940

.
Na tentativa de convencer o governo britânico a negociar, após o final das hostilidades no continente europeu, após a derrota do exército francês, em junho de 1940, o Führer Adolf Hitler ameaçava ainda a Grã-Bretanha com um pesado ataque aéreo em preparativo para uma possível invasão por tropas.
.
Após o bombardeio – dito acidental – de áreas de London / Londres, a RAF passou a atacar igualmente alvos civis na grande Berlim, o que levou a uma escalada de ataques e contra-ataques que não paralisava a produção militar, mas vitimava a população civil desarmada e desprotegida.
.
Em 4 de setembro, Hitler ordenou ataques maciços sobre a capital britânica – ‘para arrasar o moral do inimigo’ – pois o ditador ainda tinha esperanças de ‘negociar’ com os britânicos e assim evitar a guerra em duas frentes (afinal de contas, o interesse dos nazistas era ‘colonizar’ a Europa do Leste, as riquezas da Ucrânia e Rússia).
.

Enquanto isso a propaganda oficial continua enganando os cidadãos alemães – principalmente de Berlim – ao alegar que a capital seria protegida contra os ataques da RAF. A imprensa oficial nazista não hesita em denominar dos ingleses de ‘os piratas’ que matavam crianças alemãs. Enquanto silenciava sobre os ataques contra as crianças de Londres.
.
Justamente por causa destes ataques, houve um incentivo para que as crianças londrinas fossem enviadas para pequenas cidades, aldeias e fazendas nas áreas rurais, no interior do país, e até nas regiões do norte (Escócia). Assim ao menos as crianças poderiam ser afastadas do inferno da guerra aérea. Os adultos – e as equipes de segurança, incluindo combate ao fogo, e reconstrução, bem como preparação de abrigos – se mantinham na capital, e - diferente do que esperava o ditador alemão - o moral dos londrinos não caiu.
.
Abrigados em estações de metrô, em subterrâneos, em adegas, os londrinos souberam confiar na força aérea que, mesmo reduzida, conseguia defender a atacar. Ataques não tão ‘grandiosos’ como aqueles da Luftwaffe – que podia decolar da costa francesa, com caças em apoio a bombardeios – pois a distância até Berlim não permitia aos bombardeios da RAF o apoio de caças.
.
Lembrar que nessa luta aérea não apenas pilotos ingleses se destacaram mas também pilotos de outros países da Comunidade britânica (Commonwealth), tais como canadenses, sul-africanos, australianos, neozelandeses, além de aliados, os franceses, poloneses, tchecos, etc. Não apenas de aeronaves precisava a RAF, mas também de pilotos. Os que não morriam, eram aprisionados pelos alemães.

.
A superioridade aérea alemã ainda era notável – até meados de 1942, como veremos – mas não eram tão bem coordenada como poderíamos pensar. A vaidade do comandante da Luftwaffe , Goering, como todo autocrata que se preze, não permitia ouvir sugestões de subalternos, de comandantes de outras armas (a coordenação com a Marinha , por exemplo, era péssima. Como fazer então um desembarque anfíbio?)

.
A invasão, aliás, para alguns historiadores, é vista apenas como uma ameaça permanente. Outros – como William Shirer – alegam que até 15 de setembro haveria a tentativa de uma invasão – com desembarque de tropas – mas as defesas britânicas impediram. Não descreve a dimensão desta ‘força de invasão’, apenas relata que vários soldados foram internados com queimaduras terríveis. Se soldados – e não pilotos – sofreram ferimentos, rumo ao Canal da Mancha, onde aconteciam os confrontos, é porque o Exército já embarcara tropas. O problema seria chegar ao outro lado. Sem ‘abafar’ a força aérea britânica, não seria possível o deslocamento das embarcações – a Marinha alemã não ousaria tanto.


.
Aos ataques contra as cidades – de ambos os lados – estão fartamente documentadas e disponíveis na internet. Mas ainda não deixavam imaginar o que seria uma ‘guerra total’ – o ataque às cidades e aldeias russas, e o ‘bombardeio estratégico’ dos aliados, após 1942. É assim que se assegura a validade do ditado, “quem tem teto de vidro, que não atire pedras.” Na guerra entre os governos imperialistas, quem sofre as consequências é a população civil, o povo, o refém de sempre.



Por Leonardo de Magalhaens




Mais info em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_da_Gr%C3%A3-Bretanha

http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Britain
.
.