setembro 1940
Vejamos alguns trechos de obras abordando a política (e os bastidores)
durante a Battle of Britain / Batalha da Grã-Bretanha
fonte: FEST, Joachim. “Hitler” Livro VII – cap. I (pp. 757-59)
“As tergiversações de Hitler não se deviam unicamente ao fato de que suas relações com a Inglaterra se encontravam mais ou menos influenciadas por seus complexos; na verdade, outra ideia fundamental desempenhava papel importante: a da resistência organizada por Churchill. Que uma potência dotada de numerosos e vastos pontos de retirada possíveis, no além-mar, dispunha assim de múltiplas possibilidades de consolidar sua situação, de sorte que a conquista eventual da mãe-pátria não significaria obrigatoriamente sua derrota: que a Inglaterra podia, do Canadá,por exemplo, arrastar a Alemanha, de maneira cada vez mais irreversível, a um conflito de condições desfavoráveis, e, afinal de contas, enredá-la numa guerra, tão temida, contra os Estados Unidos – esses pensamentos não deixavam de inquietá-lo. E ainda admitia que, se conseguisse destruir o Império Britânico, não seria a Alemanha a verdadeira beneficiaria disso, explicou ele numa conversa, a 13 de julho de 1940, mas sim “o Japão, a América e outros”. [fonte de FEST: “Diário de Guerra” do General Halder] Em outros termos, todo agravamento de sua discórida com a Inglaterra minava sua própria posição. Desse modo, não só razões sentimentais, mas também motivos politicos, em lugar de impedi-lo a provocar a derrota da Inglaterra, levaram-no antes a procurar sua colaboração. (...)
Era a edificação desse sonho [colaboração britânica para a grande marcha alemã para o leste] que devia servir, no plano militar, o 'cerco' das ilhas britânicas pela frota submarina alemã, assim como – e principalmente – a guerra aérea contra a Inglaterra. O paradoxo dessa concepção se traduziu na curiosa falta de entusiasmo com que Hitler presidiu à montagem dos diversos elementos necessários a esse combate: surdo às sugestões apresentadas insistentemente pelas autoridades militares, não estava disposto a considerar uma 'guerra total' aérea ou marítima. A legendária Battle of Britain começou a 13 de agosto de 1940 (Adlertag – Dias das águias), com uma primeira ofensiva maciça contra os aeroportos e as estações de radar britânicas da costa sul; foi necesssário interrompê-la a 16 de setembro, em razão das más condições atmosféricas e depois de pesadas perdas, sem que a Luftwaffe tivesse atingido os objetivos fixados: nem o potencial industrial inglês tinha sido perturbado, nem o moral da população fora minado, nem também os alemães tinham conseguido a superioridade aérea. E, embora alguns dias antes, o Almirante Raeder tivesse anunciado que a Marinha estava preparada para a operação de desembarque, Hitler adiou esse empreendimento 'para mais tarde'. Instruções do OKW, datadas de 12 de outubro, especificavam que “de agora em diante, até a próxima primavera, os preparativos de desembarque na Inglaterra deviam ser explorados unicamente como um meio de pressão política e militar contra a Inglaterra”. Renunciava-se à operação Seelöwe.”
[...]
“A grande coalização continental devia englobar a Europa inteira e compreender a União Soviética, a Espanha, Portugal e a França de Vichy. Ao mesmo tempo, elaboravam-se planos para atacar a Grã-Bretanha pelos flancos, retornar o combate no Mediterrâneo, apoderar-se desses dois bastiões britânicos, Gibraltar e o Canal de Suez, desfechando assim um golpe fatal na situação imperial da Inglaterra na África do Norte e na Ásia Menor. Outros projetos, desenvolvidos paralelamente, tinha, como objetivo a ocupação das Canárias, das ilhas portuguesas de Cabo Verde, bem como dos Açores e da Madeira; houve contatos com o Governo de Dublin, com vistas a uma aliança com a Irlanda, o que teria proporcionado ao Reich novas bases aéreas contra a Inglaterra.”
trad. A. L. Teixeira Ribeiro, et alli.
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Fonte: LUKACS, John. “O Duelo Churchill X Hitler” (cap. VII, pp. 198-201)
(VII - cinquenta anos depois)
“Em 17 de setembro de 1940 Hitler, após vários adiamentos, ordenou a suspensão indefinida da Operação Leão-Marinho. Churchill não soube disso, mas tinha muitos motivos para suspeitá-lo. Naquele dia, ele e a esposa se haviam mudado para o Anexo, em Storey's Gate. Protegidos pelas portas corrediças de aço durante os ataques aéreos, pasariam ali as noites da semana durante a maior parte da guerra, embora ele preferisse ficar o máximo possível em Downing Street, 10. (Nessa época, o Gabinete de Guerra também se reunia na Sala de Guerra subterrânea.)
Tanto Churchill quanto Hitler se instalavam para uma guerra longa. Essa guerra Hitler poderia não vencer no fim. Mas esse fim estava distante. Um homem aparecera no caminho de Hitler para vencer o tipo de guerra que ele projetara e esse homem não estava sozinho. De certo modo o duelo entre ambos prosseguiu, mas as condições e circunstâncias não eram mais as mesmas. [...]
“Em uma escala mais ampla e mais prolongada, o duelo entre Hitler e Churchill prosseguiu no ar. Ambos superestimaram a eficácia do bombardeio. Hitler verificara isso em setembro de 1940. já em julho de 1940 Churchill achava que, com o tempo, o bombardeio maciço de fábricas e cidades alemãs teria de causar a derrota de Hitler, que era “o único caminho seguro” para a vitória. “Não temos nenhum exército continental que possa derrotar a potência militar alemã”, disse ele a Beaverbrook em 8 de julho. À medida que a guerra prosseguia, o respeito de Churchill pela capacidade combativa do exército alemão crescia cada vez mais. Ele também verificou que o bombardeio de saturação das cidades alemãs era, na melhor das hipóteses, um meio secundário para vencer a guerra, não o meio decisivo. [...]
“O principal e mais minucioso relato do planejamento da Operação Leão-Marinho é o do alemão Karl Klee, que escreveu na introdução dos dois maciços volumes [nota: a obra “A Tragédia”] : “A tragédia que estava por vir é que os britânicos, que se concentravam somente no adversário imediato, estavam prontos a aceitar qualquer parceiro – o que significa também a União Soviética – naquela guerra. [Os britânicos] não previram que essa orientação levaria somente à substituição de uma Alemanha forte pelo poder esmagador da Rússia.” Esse raciocínio – que equivale, em essência, a uma espécie de indignação seletiva – atrai algumas pessoas ainda hoje e não só na Alemanha. Sou obrigado a corrigi-lo aqui. Não era só que sem aquele “parceiro” os britânicos não poderiam esperar vencer. Aquele “parceiro” foi forçado a uma aliança com a Grã-Bretanha pelo próprio Hitler. [nota minha: quando as tropas alemãs invadiram a URSS em 22 de junho de 1941] É também que Churchill viu a opção com clareza: ou toda a Europa dominada pela Alemanha, ou – na pior das hipóteses – a metade leste da Europa dominada pela Rússia; e metade da Europa era melhor do que nada.”
[...]
(pp. 198-201)
trad. Cláudia Martinelli Gama
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videos
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