terça-feira, 14 de dezembro de 2010

EUA 1940: entre a Neutralidade e a Guerra







EUA 1940 : entre a Neutralidade e Guerra

fonte: PERKINS, Dexter. A Época de Roosevelt. 1932 -1945. (The New Age od Franklin Roosevelt. 1932 -1945. University of Chicago, 1957) trad. Edilson Alkimim Cunha. Rio de Janeiro, O Cruzeiro, 1967.


Em 1940, os Estados Unidos estavam novamente em campanha eleitoral. E Roosevelt resolvera disputar um terceiro mandato – o quer seria uma novidade na democracia norte-americana. O candidato opositor era o republicano Wendell Willkie.

As plataformas eleitorais procuravam agregar as esperanças dos eleitores quando a recuperação econômica (enfrentada pelas medidas de controle instituídas pelo New Deal, em 1933, pelo próprio Roosevelt) e aos mesmo tempo assegurar que as forças armadas dos Estados Unidos não se envolveriam na guerra europeia entre Grã-Bretanha e França contra Alemanha e Itália, desde o fim de 1939.

Ainda não era uma 'guerra mundial' – seria a partir de 1941 com os avanços alemães no norte da África, nas estepes ucranianas e russas, e depois o avanço japonês na Indochina e Filipinas. Assim o governo norte-americano se mantinha na 'defensiva'. Aprovava venda de antigas belonaves aos ingleses, mas se negava a qualquer envolvimento direto que pudesse quebrar a neutralidade.

Assim cinquenta belonaves foram repassadas ao ingleses, em troca os EUA receberam bases militares navais ao longo do Atlântico – para assegurar a defesa das navegações (incluisve para garantir a entrega de produtos bélicos aos ingleses). Segundo o autor Dexter Perkins, “A negociação desse acordo de bases por destróieres foi um golpe magistral. Era aceitável para os isolacionistas porque as bases cedidas pela Grã-Bretanha reforçariam a defesa do hemisfério. Era igualmente aceitável para aqueles que queriam que os Estados Unidos interviessem mais ativamente ao lado das democracias.” (p. 115)

No mais, internamente, o presidente Roosevelt (em campanha para o terceiro mandato) precisava lidar com os pacificistas e os adeptos da neutralidade. Estes contrários a guerra se reuniam em vários grupos. Um destes grupos tinha como associado o famoso aviador Charles Lindebergh, talvez explique a fama do “América Primeiro” (America First). O que pensavam os partidários do “América Primeiro”. Segundo Perkins,

“Os partidários da “América Primeiro” raciocinavam da seguinte forma: o efeito da guerra iria minar o próprio processo democrático e a preservação das liberdades tradicionais seria ameaçada pelo envolvimento na luta. Falavam da possibilidade de uma paz negociada. Argumentavam que havia pouco perigo físico para os Estados Unidos decorrente das atividades de Hitler. Em dois desses três pontos estavam certamente enganados. O tempo demonstrou que o processo democrático nos Estados Unidos não foi de modo algum minado pela guerra. Uma apreciação mais demorada torna evidente que uma paz negociada era inteiramente impossível em 1940. sobre o terceiro ponto, tinham razão perspectiva de curto, mas não de longo alcance. Sabemos hoje que Hitler não tinha o menor desejo de entrar em guerra com os Estados Unidos e que fez, segundo ele, o que estava em seu alcance para evitar a beligerância. Mas a coisa seria inteiramente diferente se o ditador alemão, uma vez estabelecido seu domínio em toda a Europa com as armas da guerra moderna em suas mãos, teria sido um vizinho cômodo – e mesmo possível para os Estados Unidos.” (pp. 115-16)
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De todo modo, o movimento “América Primeiro” não conseguiu mobilizar a opinião pública que vivia um dilema de desejar uma vitória aliada, mas sem envolvimento norte-americano. A prioridade dos eleitores era garantir as reformas para manter o reaquecimento econômico – que, na verdade, sabemos depois, só foi pleno com a entrada dos EUA na guerra. A Segunda Guerra Mundial foi realmente o que 'reaqueceu' a economia dos EUA e possibilitou o soerguimento da grande potência (que teria como rival os estatistas da URSS, durante a 'guerra fria', cold war)

“Em parte, como consequência do movimento “América Primeiro”, a eleição de 1940 transcorreu numa atmosfera em que a apreensão de uma vitória alemã e de um envolvimento americano na crise estava curiosamente misturada. Embora tivesse se operado uma profunda mudança no ambiente desde o verão de 1939, havia ainda um forte desejo de alheamento à guerra. [...]

A eleição foi uma vitória para Roosevelt que se tornou assim o primeiro Presidente dos Estados Unidos a governar o país por três períodos seguidos. Diante de uma situação crítica, a maioria do povo americano evidentemente acreditou que uma continuidade de liderança era mais importante do que um apego doutrinário a um princípio tradicional. Embora a vitória de Roosevelt não tivesse constituído um triunfo tão colossal como em 1936, foi entretanto decisiva e estava entre os endossos mais enfáticos de candidatos presidenciais. E abriu o caminho para a ajuda às democracias, especificamente, para a aprovação do 'lend-lease' (nota) no inverno de 1941.

Durante a eleição presidencial era evidente que a Inglaterra estava passando por uma grande pressão e medidas drásticas se faziam necessárias a seu favor se a guerra devia ser ganha. A opinião pública estava rapidamente se cristalizando a favor de uma ação mais vigorosa. O Presidente, aliviado das pressões eleitorais, estava pronto para gerir os negócios de modo mais decisivo. Lá para o fim de dezembro pronunciou seu discurso “arsenal da democracia” que previa rápidas medidas de auxílio aos ingleses. Poucos dias depois, apresentou ao Congresso um projeto que mais tarde veio a ser conhecido como o 'lend-lease', um projeto que visava a fornecer à Inglaterra material bélico da ordem de 7 bilhões de dólares, e insinuava, mas quase não estabelecia, um pagamento no futuro. O Presidente apresentou seu projeto como algo que manteria a guerra longe de nossas costas e que promoveria a segurança dos Estados Unidos.” (pp. 117-18)

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nota: Pela lei do 'lend-lease', o Congresso autorizava o governo americano a fornecer material e prestar serviços a seus aliados na II Guerra Mundial, sob a condição de ser esta ajuda retribuída em espécie depois da guerra.
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Assim, o Presidente Roosevelt flexibilizava a neutralidade ao dar apoio aos ingleses – antes de em 1941 aprovar a lei lend-lease (empréstimo e arrendamento) e antes de se encontrar com o Primeiro-Ministro britânico Winston Churchill na costa da Terra Nova (em agosto), quando seria proclamada a “Carta do Atlântico”. Os navios norte-americanos passariam a se proteger – o que significa 'atirar primeiro' – quando ameaçados por submarinos alemães, durante as navegações até a Europa. Deste modo, já havia uma guerra não-declarada entre EUA e o III Reich antes de dezembro de 1941.


Depois veremos os eventos de 1941 em detalhes.


Fonte pesquisada: PERKINS, Dexter. A Época de Roosevelt. 1932 -1945. (The New Age od Franklin Roosevelt. 1932 -1945. University of Chicago, 1957) trad. Edilson Alkimim Cunha. Rio de Janeiro, O Cruzeiro, 1967.

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Por Leonardo de Magalhaens
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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Estratégia Britânica no Mediterrâneo - 1940/41







Estratégia Britânica
no Mediterrâneo

1940/41





fonte: Churchill – O Lord da Guerra / 1979 – Ronald Lewin

trad. Cel Álvaro Galvão



cap. 3 – O Ano do Gafanhoto – 1941


“Com exceção da vitória final, o objetivo estratégico mais acalentado por Churchill durante a Segunda Guerra Mundial era transformar o Mediterrâneo em “Mare Nostrum”. Duas decisões, tomadas por ele sobre sua inteira responsabilidade e com enorme risco, lançaram as bases para a consecução do seu propósito, alcançado em 1943 e 1944; durante 1941, porém, o alicerce parecia estar se dissolvendo. Sua primeira iniciativa, e fundamental, seguiu-se à queda da França. Churchill recorda: “No fim de junho a situação parecia tão horrível que o Almirantado chegou a pensar no abandono do Mediterrâneo Oriental, para concentrar-se em Gibraltar.”

Era esta a ideia do Primeiro Lorde do Mar, Almirante Pound. Entretanto, fortalecido pela reação mais positiva do Almirante Cunningham, o comandante-chefe naquela região, Churchill vetou a proposta com firmeza e decisão e conseguiu o apoio dos Chefes de Estado-Maior; estes, em 3 de julho, informaram a todos os comandantes-chefes que a esquadra ia permanecer no Mediterrâneo Oriental. Daí em diante, apesar de inúmeros desastres, em sentido absoluto, os ingleses jamais foram expulsos das rotas marítimas vitais que passavam por aquela região. Mas quando Churchill tomou sua decisão, no verão de 1940, sem dúvida praticou um ato de fé impressionante, porque os italianos ainda não haviam demonstrado a forma inepta e covarde como iriam utilizar a sua superioridade aérea e naval.

Nas circunstâncias do momento, a sua segunda decisão foi mais corajosa ainda. Enquanto se achava em curso a Batalha da Inglaterra, Churchill concordou em enviar para o Oriente Médio praticamente a metade do efetivo dos melhores blindados existentes no país. “O que é estranho”, anotou ele, “é que na época as pessoas envolvidas no problema permaneceram bastante calmas e joviais, mas escrever sobre o assunto agora chega a provocar arrepios.”

Na realidade, a proposta partiu do Ministério da Guerra. No dia 10 de agosto o General Dill, o CIGS [Chief of the Imperial General Staff] , informou a Churchill que se pretendia enviar imediatamente para o Egito um batalhão de carros de combate Cruiser, um regimento de carros de combate leves e um batalhão de carros de combate de Infantaria – ao todo 154 carros, juntamente com uma quantidade valiosa de canhões anticarro e de Artilharia de Campanha. Todavia, era Churchill, o Primeiro-Ministro, e somente Churchill, quem poderia validar a proposta; a aprovação imediata constituiu um daqueles golpes, no campo da alta estratégia, que raramente estão ao alcance de um comandante, e que ainda mais raramente são tentados. Deve-lhe ser atribuído o mesmo valor da ordem de Churchill, no dia 24 de julho de 1914, para que a esquadra saísse de suas bases no canal da Mancha e, navegando durante a noite, com as luzes apagadas, atravessasse o estreito de dover, avançasse pela rota perigosa do Mar do Norte e se abrigasse na segurança proprocionada por Scapa Flow.

Além disso, foi Churchill quem exigiu que os carros de combate fossem enviados diretamente para o Egito, através do Mediterrâneo, e não pela rota do cabo da Boa Esperança como queria o Almirantado. Ele aceitava o conselho dos profissionais, embora à luz dos fatos pareça que a sua ousadia fosse mais justificada do que a cautela deles. Assim, o comboio chegou ao destino com tempo suficiente para tornar possível a destruição do exército italiano na África do Norte, onde os Matildas do batalhão de carros de Infantaria desempenharam um papel crucial.”

/p. 73
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mais sobre o General John Dill (1881-1944)
http://en.wikipedia.org/wiki/John_Dill
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A blitz de inverno

London Coventry

“Enquanto isso [durante as operações no Mediterrâneo e norte da África], a blitz de inverno varria as cidades da Inglaterra; primeiro Londres, depois Coventry e os grandes centros industriais; enfim, após uma trua relativa em janeiro e fevereiro, a Luftwaffe iniciou “uma visita aos portos”. A partir do início de março, Portsmouth, Merseyside e Clyde foram pesadamente atacados. Todavia, depois de uma das piores incursões contra Londres (no dia 10 de maio, quando a Câmara dos Comuns foi atingida), os ataques aéreos diminuíram e não foram ostensivamente renovados até 1944.”

O motivo da 'pausa' no bombardeio: início da Operação Barbarossa: nazistas atacam a URSS (junho 1941)

A pacata cidade de Coventry se tornou o símbolo do fracasso da ofensiva aérea alemã. Desperdício de recursos, alvos sem importância militar ou industrial. Apenas para assustar a população civil – perda de vidas e propriedades – e não uma estratégia de destruição dos portos, aeroportos, ou rede de radares.


Enquanto a avião alemã se dedicava a 'atirar pedras' sobre o telhado britânico, nem poderia a 'chuva de granizo' que destelharia a Alemanha em 1943-45! “Quem tem telhado de vidro, não deve atirar pedras no telhado do vizinho”, diz o sábio provérbio.


sobre o bombardeio de Coventry
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Leonardo de Magalhaens
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