quarta-feira, 28 de abril de 2010

abril 1940 - Invasão da Noruega







Diário de Berlim
William Shirer

trad. Alfredo C. Machado

1940
BERLIM, 11de abril

Londres anuncia que Bergen e Trondheim foram recapturadas pelos Aliados. O Alto Comando desmente categoricamente a informação. Como desmente também as notícias veiculadas de Londres sobre uma grande batalha naval no Skagerrak – teatro da batalha da Jutlândia, na Grande Guerra. As únicas perdas navais confessadas até o momento são a do cruzador Blücher, de 10.000 toneladas, ocorrida no fiorde de Oslo, e do cruzador ligeiro Karlsruhe, de 6.000 toneladas, ao largo de Kristiansand, ambos afundados pelas baterias norueguesas na manhã de 9 do corrente.

Soube que Hitler advertiu a Suécia das terríveis consequências que lhe traria uma atitude inamistosa, assumida nas atuais circunstâncias. Tanto quanto sei, os suecos estão extremamente amedrontados, nada farão para auxiliar os seus irmãos noruegueses e, mais tarde, receberão também a parte que lhes toca. É estranho como essas pequenas nações preferem ser tragadas pelo Führer, uma de cada vez.

Um porta-voz do Ministério do Exterior declarou-nos ainda hoje que o Presidente do Parlamento Norueguês, Hambro, nada mais era que “um sujeito sujo e judeu”. Agora, vê-se que o homem com quem os nazistas contavam na Noruega é um antigo Ministro da Guerra, de nome Vidkun Quisling, que, segundo parece, dispunha de uma forte e eficiente “quinta-coluna”. Um dos funcionários da Wilhelmstrasse revelou-me que Quisling seria o Primeiro-Ministro da Noruega. O Boersen Zeitung queixa-se da “incompreensível atitude do Rei Haakon... Pela sua atitude inflexível, o monarca mostrou estar muito mal aconselhado e não ser o verdadeiro defensor dos interesses de seu povo.”

Hoje à noite a BBC diz que Churchill declarou perante a Câmara dos Comuns que “Hitler cometeu um grande erro estratégico” e que a esquadra britânica vai agora tomar conta do litoral norueguês e afundar todos os navios que encontrar no Skagerrac (sic) e no Kattegat. Espero que esteja certo.

(nota minha:)
Skagerrak e Kattegat são os mares estreitos entre a península da Jutlândia (onde está a Dinamarca) e a Escandinávia (Noruega e Suécia), e fazem a conexão entre o Mar do Norte e o Mar Báltico (ou Ostsee, em alemão)

BERLIM, 14 de abril

Até que enfim descobri como os alemães, sem possuírem uma esquadra adequada, ocupraram os principis portos noruegueses, situados ao longo de um litoral de mais de mil e seiscentos quilômetros de extensão, mesmo às barbas da Home Fleet. As tropas alemãs, juntamente com seus canhões e respectiva munição, foram transportadas a seu destino em cargueiros que ostensivamente se achavam a caminho de Narvik a fim de transportar o minério de ferro sueco.
Esses cargueiros, como aliás vinham fazendo desde o início da guerra, navegavam dentro dos limites dos cinco quilômetros das águas territoriais norueguesas, escapando assim de serem descobertos pelas belonaves inglesas! E quanta ironia! - foram mesmo escoltados até os objetivos visados pelos próprios navios de guerra noruegueses, que tinham instruções de protegê-los contra os ingleses!

Isso, entretanto, não explica por que motivo os ingleses deixaram uma grande parte da esquadra alemã – 7 destroyers, 1 cruzador pesado e 1 couraçado – subir toda a costa norueguesa sem ser pressentida.

Os círculos navais alemães admitem que os seus 7 destroyers foram destruídos por uma força naval britânica numericamente superior durante o combate travado ontem em águas de Narvik, afirmando que, entretanto, continuam de posse da cidade. Todavia, os jornais de amanhã dirão: REPELIDO ATQUE INGLÊS CONTRA NARVIK. Quando mostrei, hoje à noite, uma das edições dos matutinos que vão aparecer amanhã a um capitão da Marinha, ele não pôde deixar de sentir-se envergonhado, praguejando contra Goebbels.

Soube que o General von Falkenhorst fez publicar a seguinte proclamação em Oslo: “O governo norueguês rejeitou várias propostas de cooperação. Assim, é o povo norueguês que deve decidir agora sobre o destino de sua pátria. Se esta proclamação for obedecida, tal comoa conteceu na Dinamarca, a Noruega será poupada aos (sic) [dos] horrores da guerra. Entretanto, desde que seja oferecida qualquer nova resistência e rejeitada a mão estendida com inteções tão amistosas, então o Alto Comando Alemão ver-se-á obrigado a agir com meios mais violentos para quebrar inteiramente essa resistência.”

Hitler está plantando na Europa uma semente que, um dia, destruirá não apenas ele próprio como também a sua nação.

(nota minha:)
General von Falkenhorst foi o Comandante alemão responsável pela Operation Weser-Exercise, ou Unternehmen Weserübung [Exercício Weser], o codinome da Invasão da Dinamarca e da Noruega em abril de 1940. Segundo consta, o General não planejou a Invasão através de mapas militares, mas usando um guia de turismo Baedeker. O que mostra uma grande dose – para dizer o mínimo – de improvisação e imaginação. A aventura nazista ainda levaria à improvisações mais desastrosas.

Leonardo de Magalhaens


....

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Hitler queria a Guerra - mas os Generais alemães não?




Hitler queria a Guerra - mas os Generais alemães não?



fonte: FEST, J. “Hitler” (1973; BRA, 1976)
(trad. Francisco Manuel da Rocha Filho;
Ana Lúcia Teixeira Ribeiro; António Nogueira Machado)
Livro VII(Vencedor e Vencido)
Capí­tulo 1 (O Estrategista)
(p.744)
"A 'crise dos oficiais' do outono de 1939 teve implicações que se
estenderam no tempo. De acordo com sua natureza, que não
admitia senão sentimentos inteiriços, totais, Hitler, daí­ em diante,
nunca teve muita confiança na lealdade de seus generais, nem
na validade de seus conselhos técnicos; e a impaciência com
que se pôs imediatamente à frente de suas tropas, assumindo
pessoalmente o papel de general-chefe, tinha origem nesses
acontecimentos. Por outro lado, a fraqueza e subserviência
de espí­rito demonstradas novamente pelos oficiais generais,
muito particularmente no que respeitava ao
Alto Comando do Exército (OKH), vieram ao encontro de sua
intenção de suplantar seus generais, reduzindo o funcionamento
do comando militar a funções puramente mecânicas. Desde os
preparativos da campanha-relâmpago contra a Dinamarca e
a Noruega,com a qual contava garantir o controle do minério
sueco, bem como instalar uma base de operações para sua
luta contra a Inglaterra, Hitler eliminou totalmente o OKH.
Depois disso, adiou a execução do projeto a um Estado-Maior
‘particular’ do Alto Comando da Wehrmacht (OKW), realizando,
assim, no domínio da hierarquia militar, o sistema de instâncias
rivais entre si, um dos postulados do exercí­cio de sua autoridade.
Suas hipóteses se concretizaram brilhantemente quando o
empreendimento altamente perigoso do iní­cio de abril de 1940
‘operação que contrariavatodos os princí­pios fundamentais da
orientação de uma guerra marí­tima tradicional e que os
Estados-Maiores aliados tinham considerado impraticável’
terminou com uma vitória total. Desde então, nunca mais
encontrou oposição aberta por parte de seus oficiais generais;
para se ter uma ideia do grau de apatia deles, basta lembrar que,
depois da crise do outono, Halder tinha-se dirigido ao Secretário
de Estado von Weizsäcker, perguntando- lhe se não seria possí­vel
fazer pressão sobre Hitler arranjando 'uma profetisa (pitonisa);
se comprometia a arranjar um milhão de marcos para isso';
por outro lado, Brauchitsch tinha dado a um dos seus visitantes
a impressão de que estava 'completamente liquidado, esgotado’” (7)
[fonte de J. Fest:]
(7)H Groscurth, “Tagebücher eines Abwehroffiziers 1938-1940” , p. 233.

sábado, 10 de abril de 2010

Shirer's Diário de Berlim - 8 e 9 abril 1940



William Shirer
Diário de Berlim
Volume 2 (1940-1941)
trad. Alfredo C Machado

BERLIM, 8 de abril

Os ingleses anunciam que minaram as águas territoriais norueguesas a fim de impedir a passagem dos cargueiros alemães que descem de Narvik carregados de minério de ferro. A Wilhelmstrasse afirma que “A Alemanha saberá reagir”. Mas, como? Esta noite a cidade foi tomada por dois boatos que entretanto não podemos confirmar. Um deles diz que a esquadra alemã saiu para o Kattegat, ao norte da Dinamarca, a oeste da Suécia e sul da Noruega, rumando para o Skagerrak. O outro adianta que se está formando uma força expedicionária alemã em vários portos bálticos e que dezenas de navios de passageiros têm sido reunidos apressadamente a fim de transportá-la para a Escandinávia.

BERLIM , 9 de abril

Neste dia de primavera, Hitler ocupou mais dois países. Pela madrugada, as tropas nazistas invadiram os dois Estados neutros da Dinamarca e da Noruega, a fim de, conforme informa ingenuamente um comunicado oficial, “proteger a liberdade e a independência desses dois países.” Depois de doze curtas horas, parece que tudo está acabado. A Dinamarca, com a qual Hitler assinara um pacto de não-agressão válido por dez anos, apenas há doze meses, foi inteiramente subjugada, e todos os portos importantes da Noruega, inclusive a capital, já estão em poder das tropas alemãs. A notícia é de causar estupefação. Copenhague foi ocupada pela manhã, Oslo à tarde, Kristiansand à noite. Todos os grandes portos noruegueses, Narvik, Trondheim, Bergen, Stavanger, foram capturados. A forma como os nazistas conseguiram chegar lá – sob as barbas da Home Fleet – constitui impenetrável mistério. É verdade que a operação foi planejada e preparada há muito tempo e, com toda certeza, posta em execução antes que a esquadra inglesa tivesse minado as águas territoriais norueguesas, há dois dias. Isso porque para alcançar Narvik, partindo de qualquer das bases alemãs, seriam precisos pelo menos três dias.
...

William Shirer
Diário de Berlim
Volume 2 (1940-1941)
trad. Alfredo C Machado

Nota:
Home Fleet: é a frota da Royal Navy – Marinha Real britância - que protege as águas territoriais do Reino Unido. Durante a Segunda Guerra Mundial, os comandantes foram (fonte: Wikipedia)

Sir Charles Forbes (1939–1940),
Sir John Tovey (1940–42),
Sir Bruce Fraser (1942–44)
Acting Admiral Sir Henry Moore (14.06.1944 - 24.11.1945)
Adm. Sir Edward Neville Syfret, RN (24.11.1945 - 07.01.1948)

Mais em

domingo, 4 de abril de 2010

Shirer - Diário de Berlim - março/abril 1940

do Diário de Berlim
do jornalista William Shirer (USA)

trad. Alfredo C. Machado



1940


BERLIM, 28 de março

A Alemanha não pode prosseguir na guerra, a menos que continue a receber os seus fornecimentos de minério de ferro da suécia, cuja maior parte é embarcada no porto norueguês de Narvik, em cargueiros alemães, que burlam o bloqueio descendo a costa norueguesa sempre dentro do limite das águas territoriais, onde se encontram a salvo dos ataques ds belonaves inglesas. Muitos de nós temos procurado descobrir por que motivo Churchill nunca tomou uma medida contra isso. agora parece que o Primeiro Lorde do Almirantado fez alguma coisa nesse sentido, uma vez que a Wilhelmstrasse diz que passará a observá-lo. para os alemães, trata-se de um assunto de vida ou morte. X garante-me que, se os destroyers britânicos invadirem as águas territoriais norueguesas, a Alemanha agirá imediatamente. a forma pela qual pensa agir é que não está bem esclarecida. a esquadra alemã não é uma adversária capaz de enfrentar a Home Fleet [frota britânica].

(...)


BERLIM, 2 de abril

Em minha irradiação desta noite disse o seguinte: "A Alemanha está agora à espera do que os Aliados pretendem fzer para sustar os carregamentos de minérios da Suécia, que, descendo pelo litoral norueguês, vão ter aos portos do Reich. Nesta capital já se aceita como ponto pacífico que os ingleses invadirão as águas territoriais escandinavas a fim de acabar com esse tráfego. Da mesma forma que também se aceita como conclusão lógica que a Alemanha reagirá... A Alemanha importa anulmente nada menos que dez milhões de toneldas de minério de ferro sueco. E não pode concordar, sem luta, com a suspensão desses fornecimentos."
Mas, como? S, um de meus amigos, murmura qualquer coisa sobre as tropas nazistas que estão sendo concentradas nos portos bálticos. Mas que pode fazer a Alemanha contra a esquadra inglesa?


William Shirer



Meu comentário:

O caso é que os nazistas já estavam fazendo algo. Imprevisíveis e imorais como eles eram. Enquanto Churchill planejava espalhar minas nas costas da Noruega, os nazistas já transportavam seus soldados ocultos em navios mercantes. Veremos como esta estratégia de 'guerrilha' surpreendeu os Aliados. Os nazistas realmente faziam uma guerra sem nenhuma honra. Se é que 'honra' significa algo para os fascistas.

(LdeM)